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Coluna Vitor Vogas

Análise: Pablo Muribeca perdeu ganhando a eleição na Serra

Sem ter sido nocauteado nas urnas, deputado foi o primeiro político da Serra neste século a chegar ao 2º turno fora do eixo Audifax-Vidigal

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Pablo Muribeca votou no 2º turno no último domingo (27/10/2024)

Pablo Muribeca votou no 2º turno no último domingo (27/10/2024)

Na política, há derrotas fragorosas, derrotas humilhantes, derrotas dolorosas e derrotas que vêm com um prêmio de consolação. Há quem seja nocauteado nas urnas, de um jeito que não consegue mais se reerguer. E há quem perca por pontos (percentuais), sem ter sido desmoralizado, podendo sair do ringue de cabeça erguida, com esperanças de voltar até mais forte, quem sabe, para uma revanche eleitoral. O caso de Pablo Muribeca é o segundo.

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A luta com Weverson Meireles (PDT) não foi propriamente equilibrada. O candidato de Sérgio Vidigal sempre esteve em vantagem e soube controlar bem o combate. Mas Muribeca fez uma luta digna, deu trabalho ao adversário e se manteve de pé até o fim. O deputado “perde ganhando”, ou relativamente ganhando, a eleição à Prefeitura da Serra. Tem potencial para seguir muito vivo e crescer nos próximos anos na política capixaba.

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Isso porque:

1) Muribeca perdeu, é verdade, mas não de lavada, longe disso. Seus quase 40% de votos válidos no 2º turno lhe dão uma marca respeitável. O eleitorado da Serra é enorme e, mesmo com altíssimo índice de abstenção (acima de 30%), esse percentual alcançado por ele corresponde a 90.227 votos.

Em números absolutos, é muito mais do que obtiveram quase todos os prefeitos eleitos no Espírito Santo no 1º turno. Só fica atrás de Arnaldinho (Vila Velha), Euclério Sampaio (Cariacica) e Pazolini (Vitória), mas chega perto desse último, que teve 105.599 votos na Capital em 6 de outubro.

2) No 1º turno, o “filho da Serra” conseguiu chegar à frente de Audifax Barcelos (PP), uma das duas “lendas vivas” da política serrana. Mais importante: pela primeira vez neste século, um candidato externo ao eixo Vidigal-Audifax, fora do raio de influência de ambos, consegue chegar ao 2º turno, manifestar alguma “luz própria” e se provar competitivo de verdade numa eleição à Prefeitura da Serra.

“Mesmo não vencendo, Pablo destacou-se como um grande vencedor, rompendo uma bolha de poder que se alternava há quase 30 anos”, opinou o presidente da Assembleia Legislativa (Ales), Marcelo Santos (União Brasil), um dos principais apoiadores do colega de plenário na disputa na Serra. Bem, com Weverson no poder, a alternância dos dois grupos na prefeitura será mantida. Quanto ao “rompimento da bolha” na campanha, por parte de Muribeca, Marcelo não deixa de ter razão.

Vamos recapitular:

Após chegar à prefeitura em 1996, Vidigal se reelegeu no 1º turno no ano 2000, com 85,1% dos votos válidos. Em segundo ficou Sandra Gomes (PPS), com 9,7%.

Em 2004, com o apoio de Vidigal, Audifax elegeu-se prefeito pela primeira vez. Com 68,3% dos votos válidos, foi eleito no 1º turno, deixando em segundo o ex-deputado João Miguel Feu Rosa (PP), que não passou de 25,1%.

Em 2008, a “volta triunfal” de Vidigal à prefeitura foi um passeio com um pé nas costas. O pedetista ganhou no 1º turno com incríveis 94,2% dos votos válidos. Seu único adversário, literalmente, foi Tio João (PRTB), na verdade um laranja colocado ali para dizerem que havia um oponente.

Aí, em 2012 e 2016, houve o duelo e a revanche de Vidigal com Audifax, ambas vencidas pelo economista, em segunda votação. Em 2020, Vidigal derrotou, no 2º turno, com 54,9% dos votos válidos, o vereador Fabio Duarte, candidato lançado por Audifax pela Rede Sustentabilidade, que era o partido do então prefeito.

Agora, pela primeira vez no século, o 2º turno na Serra foi disputado sem Vidigal nem Audifax, e com a presença de um candidato que não representa nem o grupo de um nem o do outro. Esse candidato foi Pablo Muribeca.

3) Na política, voto é como água: uma fonte de vida, um elemento essencial para a sobrevivência… mas, por seu estado líquido, essa água precisa de um bom recipiente para ser retida. Do contrário, escorre e vai embora.

Um exemplo que ilustra bem isso vem da própria Serra, na eleição municipal passada. Em 2020, enfrentando Vidigal nas urnas, o candidato de Audifax, Fabio Duarte, fez bonito contra o grande favorito: com a preferência de 91.931 eleitores no 2º turno, atingiu a marca de 45,1% votos válidos. Pelos dois critérios, é mais do que obteve Pablo Muribeca dessa vez.

Mas há uma grande diferença. Como era vereador em fim de mandato e Audifax perdeu o controle da máquina municipal, Duarte, ao ser derrotado por Vidigal, ficou sem cargo político. Nos anos seguintes, sumiu politicamente. Em 2022, candidatou-se a deputado estadual, mas, com 13.792 votos, ficou como 1º suplente de Camila Valadão na chapa da federação Rede/PSol. Dessa vez ele não concorreu a nada, e sua esposa, Andréa Duarte (PP), elegeu-se vereadora da Serra.

Não é o caso de Muribeca, cujo mandato na Assembleia Legislativa, caixa de ressonância bem maior, vai até janeiro de 2027. O deputado tem nas mãos um chapéu privilegiado para segurar esses votos.

Se ele souber usar bem essa caixa acústica parlamentar, mantendo-se na oposição vigilante ao governo de Weverson Meireles e intensificando o seu trabalho de fiscalização (de preferência, sem excessos que o compliquem com a Justiça), tende a se consolidar como a principal voz dissonante ao grupo que seguirá no poder na Serra. E se manterá na vitrine até o próximo pleito estadual, em 2026.

4) Nesse caso, Muribeca poderá se candidatar a deputado estadual (tendo pela frente, possivelmente, uma reeleição tranquila) ou até a deputado federal. Seus mais de 90 mil votos na Serra o credenciam, sim, para isso.

A opção por uma das duas candidaturas dependerá muito dos planos da direção estadual do Republicanos para ele: apostar no “homem do chapéu” como campeão e puxador de votos para aumentar a bancada do partido na Assembleia ou fortalecer ainda mais uma chapa que já promete vir muito forte para a Câmara dos Deputados. Em 2022, ele teve 24.555 votos para a Ales, sendo o 16º mais votado para estadual.

E aqui entra outro componente importante nesta análise: o partido político. Muribeca está bem acomodado em uma agremiação que está não só muito bem organizada como em franca ascensão no Espírito Santo. Sob a liderança de Erick Musso – e mentoria de Roberto Carneiro, o presidente do Republicanos em São Paulo –, o partido conservador está bem enraizado no Estado: elegeu oito prefeitos, de norte a sul, incluindo vitórias importantes em Guarapari e Vitória, além de ter sido decisivo para o triunfo de Renzo Vasconcelos (PSD) em Colatina.

O Republicanos acolheu Muribeca, apostou e investiu em sua candidatura na Serra, claro, querendo elegê-lo prefeito já neste pleito, mas também como um investimento no médio prazo, como um reforço no projeto de crescimento político do partido em âmbito estadual, fora da aba do sombrero do Palácio Anchieta, isto é, fora da sombra projetada pelo chapelão de Renato Casagrande (PSB).

Esse projeto desemboca diretamente em 2026, quando o partido, como já disse o próprio Erick a esta coluna, quer ter protagonismo na disputa majoritária (candidatura própria ao Palácio Anchieta ou ao Senado), além de fazer boas bancadas na Assembleia e na Câmara Federal.

A chapa de federais do Republicanos já está quente: os dois atuais deputados do partido, Amaro Neto e Messias Donato, hão de querer renovar o mandato, e o próprio Erick é apontado como muito provável candidato a uma vaga na Câmara. Muribeca pode ter espaço aí, se quiserem uma chapa ainda mais forte, para buscarem fazer três dos 10 federais do Espírito Santo.

Ou isso ou, repito, Muribeca poderá ser o puxador de votos da chapa do Republicanos na Assembleia, se o partido concluir que ele contribuirá mais dessa forma e que para ele, estrategicamente, será mais interessante permanecer na Ales, mais perto da Serra…

Até porque, deputado estadual ou federal a partir de 2027, com o capital político angariado nesta eleição municipal, o destino natural de Muribeca é desafiar novamente Weverson na próxima eleição para a Prefeitura da Serra, em 2028… se não perder o prumo até lá.

Fato é que ele se tornou uma das estrelas da companhia do Republicanos no Espírito Santo. A estrela country, por assim dizer, enquanto Amaro é mais chegado a música eletrônica (quem não se lembra da rave em seu programa de TV há alguns anos?), Messias em música gospel e Pazolini em “Aviões do Forró”.


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