Coluna Vitor Vogas
Vidigal se despede da Serra em clima de lançamento ao Governo do ES
Convenção estadual do PDT no último sábado (14) foi marcada por euforia geral de militância e aliados para que ele busque se viabilizar a governador
Comandado há décadas no Espírito Santo pelo prefeito Sérgio Vidigal, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) realizou, no último sábado (14), a sua convenção estadual, no Centro de Convenções de Vitória, para eleição do novo Diretório Estadual do partido. O próprio Vidigal, encerrando um mandato temporário, passou o bastão para o aliado Alessandro Comper como novo presidente estadual. Mas esse foi um detalhe menor. A convenção foi marcada por uma mistura de atmosfera de despedida de Vidigal da Prefeitura da Serra com clima de projeção para voos maiores no futuro e incentivo geral para que o líder maior dos pedetistas assuma candidatura ao Governo do Estado, na sucessão de Renato Casagrande (PSB), em 2026.
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O sonho de uma nova candidatura de Vidigal a governador foi o grande mote do evento. Esteve presente na euforia da militância, em camisetas usadas por apoiadores e nas falas de todos os oradores que se dirigiram ao prefeito da Serra. No palanque, além de Vidigal, falaram os quatro prefeitos eleitos pelo PDT no Estado, incluindo o sucessor na Serra, Weverson Meireles, além de uma vereadora eleita, representando as mulheres (Roze Guese, de Ponto Belo), e um vereador eleito, representando os homens (Saulinho da Academia, presidente da Câmara da Serra). A linha geral dos discursos foi de incentivo a Vidigal para que ele de fato abrace o projeto de candidatura ao Palácio Anchieta e busque se viabilizar a partir do encerramento do mandato, no dia 31 de dezembro.
Um dos discursos mais entusiasmados nesse sentido partiu do próprio Weverson. Já Saulinho subiu ao palco vestindo camiseta com o seguinte dizer, destacado por ele em sua fala: “A Serra quer, eu quero!”. O objeto implícito do verbo “querer” pode ser preenchido assim: “A Serra quer [que Vidigal seja governador], eu quero [o mesmo]!”. Na plateia, militantes do PDT vindos da Serra e de outras cidades usaram camiseta com o mesmo dizer, como uma torcida organizada, assim expressando e “estampando” o desejo da militância. O slogan foi retirado de um grupo de pedetistas no Whatsapp.
O desejo da militância também foi materializado em uma placa com a qual a Executiva Estadual do PDT homenageou Vidigal. A homenagem foi entregue ao prefeito no palco. Além de um agradecimento a Vidigal, a mensagem inscrita na placa conclama o prefeito a fazer o PDT alçar novos voos nos próximos anos. “O maior clamor dos militantes, verbalizado por todos, é que ele aceite o desafio de ser candidato a governador. Todos discursaram no embalo dessa euforia”, confirma uma fonte pedetista que participou do evento e estará no novo diretório.
Quanto ao próprio Vidigal, em seu discurso aos correligionários, não disse nem que sim nem que não, mas alimentou a esperança dos mais de 400 presentes. O prefeito declarou que, se for chamado a ser candidato em 2026, estará pronto e à disposição, pois um bom filho não foge à luta. Também disse que o PDT está maduro para aceitar novos desafios.
Reservadamente, em seu círculo mais estreito de aliados e colaboradores, Vidigal tem admitido disposição para buscar viabilizar candidatura a governador em 2026. No dia 1º de janeiro, ele passará a faixa para Weverson Meireles – gesto simbólico que será a apoteose do maiúsculo triunfo político alcançado por ele no pleito municipal deste ano, ao conseguir eleger, “do nada”, o candidato que ele mesmo ungiu.
A princípio, como tem repetido desde antes da campanha, o prefeito voltará a exercer a medicina, buscando também dedicar mais tempo à família. Mas a “saída de cena” pode ser apenas temporária, apenas o intermezzo para o próximo ato da ópera regida por Vidigal.
A passagem de faixa para Weverson simbolizará a consumação do seu sucesso na mais ousada jogada política de sua carreira. Mas também pode marcar o início de uma nova jogada, ainda mais ousada, do prefeito que saiu das urnas este ano, sem ter sido candidato, com o capital político turbinado.
Sem mandato e sem cargo diretivo no novo órgão de comando do PDT, o psiquiatra ficará livre e solto para ajudar o PDT a montar suas chapas de deputados estaduais e federais para 2026, mas também para buscar construir a própria candidatura ao Palácio Anchieta – após ter tentado, sem sucesso, chegar ao cargo em 2006, quando foi derrotado em 1º turno por Paulo Hartung (então no MDB).
Só tem um “detalhe”… Ricardo tem a preferência
Vidigal, nunca é demais lembrar, é aliado incondicional de Renato Casagrande (PSB) e está incorporado ao mesmo movimento político-eleitoral liderado pelo governador, o qual desaguará em 2026. Vale dizer que, neste momento, quando se pensa em uma possível candidatura de Vidigal a governador, o que se pensa é numa candidatura dentro desse movimento.
Quando falamos que Vidigal pode tentar se viabilizar, queremos dizer que ele pode tentar se viabilizar como candidato a governador pelo grupo de Casagrande e com o apoio do governador. Qualquer coisa diferente disso soa, hoje, bastante improvável.
Entretanto, nessa mesma fila, tem gente na frente do prefeito da Serra. O vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), de quem Vidigal também é grande aliado, tem sido tratado na corte de Casagrande como o nome prioritário para a sucessão de Casagrande.
Nas últimas semanas, baixada a poeira das eleições municipais, têm ficado mais claros os sinais nesse sentido, e a tendência é que, em 2025, o governo intensifique movimentos a fim de amplificar a visibilidade política de Ricardo e garantir sua viabilização. Ele é a primeira opção de Casagrande e seu núcleo duro, até porque possivelmente se sentará na cadeira de governador em abril de 2026 – se Casagrande for mesmo candidato a senador –, tornando-se, assim, “candidato natural” à reeleição.
Vale lembrar, ainda, que Ricardo cumpriu papel importante no projeto de Vidigal e na vitória de Weverson na Serra em outubro. Não só apoiou o projeto pessoalmente desde o início como garantiu, como presidente estadual do MDB, a presença do partido na coligação de Weverson. A parceria é tão forte que é do MDB, por exemplo, a vice eleita com Weverson, delegada Gracimeri Gaviorno.
Ciente disso e veterano no jogo, Vidigal dará seus próximos passos com a prudência ditada por sua experiência na política e pela delicadeza da situação. Hoje, na opinião do colunista, se Ricardo realmente se consolidar como o candidato escolhido pelo Palácio Anchieta, é muito difícil imaginar o prefeito dando cavalo de pau e se lançando ao governo como concorrente de Ricardo, num palanque alternativo.
Muito mais provável que ele busque se manter competitivo, até princípios de 2026, como possível alternativa do mesmo grupo para disputar o governo no lugar de Ricardo, de modo algum contra ele, caso este não consiga se viabilizar.
A prudência citada acima já começou a ser exercitada por Vidigal. Em entrevista à Rádio BandNews na última sexta-feira (13), ele foi enfático em reafirmar sua lealdade a Casagrande e em apontar Ricardo como candidato ao governo dele mesmo e do grupo na próxima eleição:
“Não está no meu radar [ser candidato ao governo]. E nesse grupo já temos um pré-candidato, que é o vice Ricardo Ferraço. Nosso empenho agora é unir forças nesse projeto”, declarou.
Não se espere que ele diga nada diferente disso durante o seu “período sabático” (de duração incerta).
Fato é que Vidigal está no jogo.
E Senado?
Na mesma entrevista à BandNews, Vidigal afirmou que não tenciona disputar nenhum cargo eletivo que já tenha exercido: já foi prefeito (quatro vezes), vereador da Serra, deputado estadual e deputado federal. Jamais foi governador nem senador.
Uma candidatura ao Senado pelo grupo de Casagrande, com duas vagas em disputa em 2026, não pode ser descartada.
“Não tenho interesse em disputar nenhuma eleição da qual já tive mandato. Mas, como todo bom soldado, se porventura vier a ser convocado, e se for a minha altura, irei analisar,”
Pesquisa eleitoral
Pesquisa eleitoral divulgada na semana passada pela Paraná Pesquisas mostra que, na pré-pré-pré largada eleitoral para 2026, tanto Vidigal como Ricardo são competitivos, ou seja, têm hoje bom recall político.
No cenário estimulado com os dois na cédula, Ricardo tem 13,8% das menções; Vidigal, 12,0%. Os dois ficam tecnicamente empatados, atrás de Lorenzo Pazolini (Republicanos), com 22,4%, e Paulo Hartung, com 17,0%.
No segundo cenário estimulado, com Vidigal e sem Ricardo, o pedetista tem 12,8%, em terceiro lugar. Pazolini e Hartung empatam tecnicamente na ponta, com 23,6% e 20,6%, respectivamente.
Vidigal recusou convite de Casagrande para se tornar secretário
Vidigal afirmou, também em entrevista à BandNews na última sexta, que foi convidado por Casagrande para compor sua equipe de governo em 2025, mas recusou o convite. Sua intenção é, exatamente, ficar livre para se movimentar. O governador confirma a sondagem e a recusa. Foi uma consulta genérica, sem menção a uma pasta específica.
A propósito, alguns pedetistas consideram que hoje o partido não tem representação no primeiro escalão do governo Casagrande. No início do atual governo, em 2023, a cota de Vidigal e do PDT foi preenchida por Weverson Meireles, secretário estadual de Turismo ao longo daquele ano, por indicação do prefeito da Serra. Mas, no fim de 2023, a pedido do mesmo Vidigal, Casagrande efetuou uma troca na pasta: Weverson voltou para a chefia de gabinete do prefeito da Serra, enquanto seu lugar na Setur foi assumido pelo jornalista Philipe Lemos, até então secretário municipal de Turismo da Serra.
Filiado ao PDT por Vidigal e Weverson em 2022 para disputar a eleição para deputado federal, Philipe segue filiado ao PDT, mas não tem militância partidária – por isso não é considerado, por alguns dirigentes pedetistas, “quadro do PDT no secretariado de Casagrande”.
A rigor, um segundo secretário de Estado também é filiado ao PDT: Juninho Abreu, secretário-chefe Da Casa Civil, no cargo desde março, no lugar de Davi Diniz (que se tornou conselheiro do Tribunal de Contas do Estado).
Mas o PDT tampouco o considera uma indicação partidária.
O partido, entretanto, não pretende reivindicar espaço (ou mais espaço) no secretariado estadual.
O novo diretório e a nova Executiva Estadual
Em junho, Vidigal assumiu a presidência estadual do PDT, à frente de uma Executiva Estadual Provisória, com vigência de seis meses. Ele então assumiu o posto no lugar de seu primogênito, Eduardo Vidigal, que ocupara o cargo em março, no lugar de Weverson.
Ironicamente, Eduardo foi quem pior engoliu a decisão do pai de não ser candidato à reeleição e vinha criticando publicamente o lançamento de Weverson, pedindo ao pai para voltar atrás, enfim, vinha jogando contra o projeto. Eduardo, então, saiu de cena, e o fogo familiar cessou.
O mandato tampão de Vidigal se encerrou no domingo (15). No último sábado, os convencionais elegeram, em chapa única, o próximo Diretório Estadual permanente, com mandato de quatro anos, até o fim de 2028.
Na convenção, os 131 membros do novo diretório também elegeram a nova Executiva Estadual permanente, presidida por Alessandro Comper (até então presidente do PDT na Serra) e formada por um total de 11 membros, incluindo os quatro prefeitos eleitos pelo partido em outubro: Weverson na Serra, Fernando Rocha em Santa Leopoldina, Geninho em Itapemirim e Levi da Mercedinha em Brejetuba.
Vidigal terá assento no novo diretório, mas não quis participar da nova Executiva Estadual.
A mensagem da Executiva para Vidigal
A placa do PDT com a homenagem a Vidigal diz o seguinte:
Prezado Sérgio!
Agradecemos imensamente a sua atuação à frente da direção do PDT/ES. Sua trajetória sempre foi marcada pela fidelidade, seriedade e transparência, contribuindo com a geração de muitos resultados positivos.
Estamos profundamente gratos por tudo o que já realizou e por tudo o que ainda realizará.
Ao longo de mais de 30 anos de dedicação ao partido você se tornou uma referência de compromisso e perseverança. É um privilégio tê-lo como nosso timoneiro, e queremos contar com sua liderança para seguir voando ainda mais alto.
(Os grifos são da coluna)
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