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Coluna João Gualberto

Rumo à industrialização

Construção do Plano de Valorização Econômica do Espírito Santo é tido por muitos estudiosos como o primeiro planejamento estadual feito no Brasil

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Industrialização capixaba foi efetivada por atores políticos locais muito relevantes. Foto: Reprodução/Gov ES

Industrialização capixaba foi efetivada por atores políticos locais muito relevantes. Foto: Reprodução/Gov ES

Depois da queda de Getúlio Vargas em 1945, foram criados os partidos que fariam a nossa redemocratização. Um deles, PSD – Partido Social Democrático, de corte conservador e ligado às elites do campo no Espírito Santo, foi entregue a gestão de Jones dos Santos Neves e Carlos Lindenberg. Na primeira eleição que disputaram em 1947 Carlos foi eleito governador do estado e Jones senador da república. Eles iniciariam um ciclo de poder, onde o PSD comandaria o processo de desenvolvimento local. Nesse período, iniciaríamos nossos esforços industrializantes.

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Dr. Carlos fez um primeiro governo em moldes mais tradicionais, com apoio a cafeicultura e organizando o governo para o comando partidário que exercia. Jones, no senado do Rio de Janeiro participou da comissão de economia e discutiu os temas mais relevantes daquele momento nacional. Em 1951, Jones assumiu o governo do estado e iniciou efetivamente nossos movimentos de industrialização.

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Dando sequência às ações do governo de Dr. Carlos, Jones dos Santos Neves ampliou a lógica de seus governos técnicos. Ele deu muita racionalidade ao governo. A construção do Plano de Valorização Econômica do Espírito Santo, tido por muitos estudiosos como o primeiro planejamento estadual feito em nosso país, é um dos marcos mais importantes do seu período administrativo.

Entre as muitas obras que o Governo Jones planejou e executou, está a construção daquele que seria um dos precursores dos conjuntos habitacionais, construído pelo IBES – Instituto do Bem-Estar Social, no município de Vila Velha. Esse conjunto deu origem a um bairro e a ocupação habitacional de extensa região, através de vários outros bairros. Por seu pioneirismo em termos nacionais e pelo impacto social e urbano que causou, é um dos maiores marcos daquele período.

Esse governo deu origem a um projeto econômico que viria ser denominado de “projeto jonista”. Muitas obras executadas visavam a dotar o Espírito Santo dos elementos essenciais para a industrialização. Vencer a carência de energia elétrica era um deles. Foi construída a Usina Hidrelétrica de Rio Bonito, em Santa Leopoldina. Esse era um projeto cujas bases estavam contidas em seu plano de desenvolvimento e que queria nos afastar da total dependência do café. É dele a frase: “Os ramos dos cafeeiros já são frágeis demais para sustentar o peso crescente da economia espírito-santense”.

Em 1954, o PSD – que teve uma visão mais técnica e voltada para as elites e que vinha enfraquecendo os vínculos com a base urbana e a pequena classe média que se formava – perdeu o governo para uma coligação partidária comandada por Francisco Lacerda de Aguiar, o Chiquinho, que pouco agregou ao processo de industrialização que estava começando.

Em 1958, findo o governo de Chiquinho e sem que seu grupo político tivesse conseguido seguir no poder, Carlos Lindenberg volta a governar. Montou sua base para industrializar o nosso estado. Nasce, nesse momento, de forma mais clara, o projeto de desenvolvimento para o Espírito Santo que iria se consolidar nos governos militares.

Nesse contexto, a aproximação com a Federação das Indústrias do Espírito Santo, a FINDES, presidida pelo entusiasta por esse projeto Américo Buaiz, seria fundamental. Ele mesmo havia criado a Federação do Comércio em 1954, e já havia mostrado seu perfil de liderança.

A FINDES foi criada em 1958, a partir do esforço do pequeno empresariado e técnicos de nosso estado, que lutaram por nossa industrialização. Ela foi para a ação. No ano de 1959, foi criado um conselho técnico formado por: Eliezer Batista, Alberto Stange, Arthur Carlos Gehardt Santos, Humberto Pinheiro de Vasconcellos, Aloisio Simões, Jorge Faria Santos e Bolivar de Abreu. Sua principal função seria a de estabelecer diretrizes para as nossas indústrias. Ele dotou de racionalidade as ações da federação na busca de um modelo mais moderno para o desenvolvimento do estado.

O papel dos empresários seria fundamental em toda a ação que se seguiu ao longo dos anos e que seria um dos grandes diferenciais capixabas. Transformou-se em um ativo político fundamental em tudo o que diz respeito às relações entre empresas e governos e entre empresas e sociedade. Foi criado no governo também, um conselho de desenvolvimento econômico, mostrando a sintonia entre os agentes sociais do desenvolvimento, e que passou a ser pauta central do governo, sobretudo depois que as finanças foram sanadas.

Grande parte desse projeto foi consolidado no projeto que Jones dos Santos Neves articulou, para disputar o governo em 1962. Perdeu para Chiquinho, que governaria até 1966. Com a ascensão dos militares ele renunciou sob forte pressão. Tudo o que se seguiu nos governos foi fortemente marcado pela agenda que havia construído ao longo de mais duas décadas. Essa é uma marca capixaba: a construção de seu desenvolvimento foi efetivada por atores políticos locais muito relevantes.


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João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

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