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Coluna João Gualberto

Coluna João Gualberto | Rumo ao centro na política

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urna eletrônica, eleições, voto, política

A moderação política ganha destaque nas eleições em busca de menos extremismo.

Pelo que tenho acompanhado nos trabalhos políticos da Persona, empresa da qual sou um dos fundadores, e também nos noticiários nacional e internacional, existe hoje uma certa fadiga, por parte dos eleitores, quanto a posições mais extremadas nas cenas eleitorais. Para fortalecer meus argumentos lembro as recentes eleições europeias. Começo pelo Reino Unido, onde o partido trabalhista voltou ao poder depois de 14 anos de governos conservadores. Um dos líderes mais destacados do período que se encerra é o ex-premier Boris Johson, que conduziu o país tendo como marca pessoal um estilo polêmico, com seus cabelos desgrenhados. Penso que ele foi como imagem a marca desse momento.

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O novo primeiro-ministro, Keir Starmer, ainda durante as eleições e mesmo nos primeiros tempos de governo, passou sempre a imagem de um líder sereno, moderado. Para tanto, seu grupo interno afastou, ao longo dos anos, aqueles que não compunham seu ideal de moderação. Com os trabalhistas a Inglaterra marchou para o centro. O mesmo se deu na eleição francesa. Apesar da vitória de um grupo mais à esquerda, a verdade é que a direita francesa fez grandes esforços de moderação em seu discurso. As teses mais ligadas ao comportamento foram abrandadas e restou do extremismo a caça aos imigrantes, em especial àqueles vindos do mundo árabe, os mais comuns na França. Paradoxalmente a esquerda fez o maior número de deputados, mas a direita mais extremada pode ser agora chamada de nacionalista. Mudou seu tom mais agressivo e ficou menos exagerada.

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Até mesmo o Irã, sobre cujo processo político não se ousou fazer muitas considerações, também marchou para a moderação. Creio que lá os lideres religiosos mais tradicionais viram a necessidade de conter as ações políticas mais repressivas. Todos se lembram do enorme número de mortes durante o período de manifestações da população contra as severas medidas de restrição à liberdade, sobretudo a feminina. O estopim foi a prisão, seguida de morte, de uma mulher que não teria se comportado segundo o rígido código de conduta implantado pelos aiatolás. Tanto o custo social interno quanto o de imagem externa devem ter levado a cúpula dirigente a emitir sinais de um pouco de tolerância. Mesmo que nisso haja algum teatro político, não é desprezível do ponto de vista da sociedade, pois descomprime o cotidiano.

No caso brasileiro tenho observado uma redução de importância dos grandes porta-vozes da radicalização. É certo que a direita cresceu e se consolidou entre nós. O parlamento nunca legislou de forma tão conservadora nos costumes quanto agora.

Boa parte dessa tendência se dá pelo interesse em agradar aos segmentos mais ligados à intolerância na questão dos costumes, em especial ao público evangélico. Entretanto, essa marcha em direção à direita não me parece tender a posições mais radicais neste momento, quando nos aproximamos das eleições.

Vou explicar meu ponto de vista. Narrativas mais contundentes não me parecem ser as mais esperadas pelos eleitores em 2024. Para começar, mesmo que exista uma polarização natural dos eleitores entre conservadores e progressistas, entre direita e esquerda, entre lulistas e bolsonaristas, a dimensão da eleição municipal coloca o projeto de cidade no debate. Desse modo, não basta ao candidato estar alinhado a um líder nacional; é preciso também que ele mostre ao eleitor que está atento ao desejo de prosperidade de determinada localidade, articulando propostas aceitas pela maioria.

Trata-se, portanto, de duas vertentes, na minha observação. A primeira é que os discursos mais musculosos estão cansando a população, ficaram banalizados e não surtem mais aqueles mesmos efeitos de 2018 e 2020 entre nós, como vimos também em outros países. É preciso mais moderação e mais conteúdo também, sobretudo na apresentação de projetos que façam sentido para o conjunto dos eleitores. Falo principalmente das disputas para prefeito. No caso dos vereadores pode-se ainda agradar somente a uma bolha, afinal as casas de lei são lugares onde se dá o debate das diferentes posições que existem na sociedade. É lá que se constroem os consensos para a normatização da vida coletiva, onde portanto cabem gestos mais extremados que visem a um certo segmento social.

Para finalizar, creio que a tendência de cansaço perante os extremismos, que já foi observada em outros países, pode vir a acontecer também entre nós. Provavelmente, caminhamos para construir, em curto prazo, um país conservador, sim, porém ao que tudo indica com mais moderação do que vimos no passado recente.


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João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

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