Coluna André Andrès
Vinho reservado ou reserva? Veja aqui como não ser enganado
Vinho reservado, reserva, gran reserva… As definições trazias pelos rótulos dos vinhos podem confundir quem não está habituado com elas
As prateleiras reservadas para os vinhos ocupam cada vez mais espaço nos supermercados. O número de rótulos também cresce a cada dia. Para quem não tem o hábito de comprar tintos e brancos, algumas dúvidas sempre surgem no momento da escolha. Qual país, qual uva, qual tipo de vinho devo levar? Além disso, uma informação estampada, muitas vezes em letras bastante destacadas, provoca muita confusão: qual é melhor, o vinho reserva ou o reservado? E qual a diferença desses dois para o gran reserva? Se você também tem dúvidas sobre o significado dessas expressões e qual a sua importância para a qualificação de uma garrafa, fique tranquilo porque você não está só. Existe uma enorme falta de critério nessa questão. No entanto, com algumas informações básicas você deixará de ser enganado e não vai mais se decepcionar com a qualidade do rótulo escolhido.
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Inicialmente, vamos explicar quem faz isso bem. Apenas um país tem regras internacionalmente reconhecidas quando se trata da qualificação do tempo de maturação do vinho, ou seja, o período no qual ele fica em barricas de madeira ou na garrafa antes de ir para o mercado. A Espanha é exemplar nessa questão. Os espanhóis classificam seus vinhos conforme o tempo de amadurecimento. Os limites são claros e as definições, confiáveis. O país trabalha com quatro qualificações: joven, crianza, reserva e gran reserva. Mais abaixo você vai encontrar mais detalhes sobre essas definições. Por enquanto, fique com essa informação: a definição de um vinho a partir do seu tempo de amadurecimento é realmente clara e válida quando estamos falando dos espanhóis.
E os outros países?
A produção no restante da Europa é bem mais confusa em relação a essas classificações. A França segue denominações muito próprias e não adota esses termos. Portugal tem uma grande série de qualificações (novo, colheita, escolha, grande escolha, reserva, grande reserva, reserva de família e vai por aí afora) e não há um padrão muito claro. Além disso, os vinhos são submetidos à Comissão Vinícola Regional (CVR). Aí ocorre um problema: são várias CVRs espalhadas no país e não há exatamente um padrão norteando o trabalho de todas elas.
Enfim, existem regras, mas elas estão longe da clareza adotada nos vinhos da Espanha. De qualquer forma, a qualificação de reserva ou grande reserva nos vinhos portugueses é uma indicação de qualidade, mesmo sem o consumidor saber exatamente quanto tempo o vinho maturou em madeira, por exemplo.
Na Itália, algo muito parecido acontece. Existem comissões avaliadoras, mas os critérios de avaliação variam de região para região. Por exemplo, para receber o rótulo “riserva”, um Barolo precisa envelhecer por pelo menos 62 meses, e 18 desses meses devem ser passados em barrica. Já no caso do Chianti, da Toscana, o envelhecimento mínimo tem de ser de 24 meses, sendo três deles em garrafa. A situação se repete, ou seja, um “riserva” é um vinho com bom tempo de envelhecimento na vinícola, mas não se pode precisar esse período.
Está bem… Mas e o vinho reservado??
Não chega a ser um golpe de marketing, mas a criação da expressão “reservado” por latino-americanos, principalmente os chilenos, chega perto disso. Criou-se uma confusão intencional entre “reserva”, “gran reserva” e “reservado”. As palavras são próximas, a qualidade, no entanto, está bem distante. O ponto fundamental: o vinho reservado não passa por amadurecimento. Por conta disso, é um vinho bem mais simples, sem complexidade. No entanto, muitas vezes é adquirido como um grande tinto, um rótulo de qualidade superior. Está longe disso.
Essa confusão com as qualificações na América do Sul acontece por conta da falta de referência para as qualificações. No caso da Europa, pode não haver padrão, como em Portugal e na Itália, mas ao menos existem comissões para avaliar a produção. Já no Chile, na Argentina e no Brasil não há regra nenhuma.
Um produtor coloca a expressão “reserva” ou “gran reserva” conforme seu critério. Uma vinícola pode considerar como gran reserva um tinto com 24 meses de barrica, enquanto outra coloca a mesma qualificação no rótulo de um vinho com 12 meses de amadurecimento.
Essa absoluta falta de critério abriu brecha para rótulos virarem peça de marketing. Então, trocou-se uma informação importante – o tempo de maturação do vinho – por um argumento de venda. Para dar um empurrão no consumo, criou-se uma expressão sem significado claro, mas de apelo sonoro por se confundir com rótulos de referência. E nasceu o vinho “reservado”. Ele é ruim? Não exatamente. Só não é totalmente franco, honesto, porque aposta no pouco conhecimento do consumidor. Então, a partir de agora, preste atenção: quando escolher um reservado no supermercado, você estará levando um simples, em nada comparado a um reserva ou gran reserva espanhol. Você fará isso por opção, não por ter caído numa pequena cilada de marketing. O mundo do vinho é vasto, saboroso, mas também tem suas impurezas…
A classificação na Espanha
Confira, a seguir, como os vinhos são classificados na Espanha
Joven:
. Vinho jovem, sem envelhecimento mínimo obrigatório
. Pode ser lançado no mercado após 3-6 meses da colheita
Crianza:
. Envelhecimento mínimo de 2 anos, sendo 6 meses em barris de carvalho
. Graduação alcoólica mínima de 12,5%
Reserva:
. Envelhecimento mínimo de 3 anos, sendo 1 ano em barris de carvalho
. Graduação alcoólica mínima de 13%
Gran Reserva:
. Envelhecimento mínimo de 5 anos, sendo 2 anos em barris de carvalho
. Graduação alcoólica mínima de 13%
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