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Coluna André Andrès

O melhor vinho brasileiro é um Clarete. Mas… você sabe o que é Clarete?

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O resultado foi surpreendente, conforme admite Patricio Tapia, o autor do Guia Descorchados, a principal publicação do gênero na América do Sul: o melhor vinho brasileiro de 2020, segundo a avaliação do criterioso guia é o Era dos Ventos Clarete. Clarete? Pois é. Não é exatamente um tinto, não é branco, não é rosé. É… clarete! O mesmo guia elegeu o Claret Cabernet Sauvignon, da Cousiño Macul, como o Vinho Revelação do Ano na América do Sul. Claret? Sim, claret.

Claret, clairet, clarete eram termos quase esquecidos no mundo do vinho, e agora foram ressuscitados. Para entender a diferença entre eles é preciso recuar um pouco na história e passear por alguns países…

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Há um equívoco muito comum cometido por quem está experimentando seus primeiros vinhos: considerar a Malbec uma uva argentina. Apesar da alta qualidade alcançada pela casta em Mendoza, por exemplo, sua origem é francesa, mais precisamente Cahors, no sul da França, próximo a Bordeaux. Mas o Malbec de Cahors é um vinho bastante escuro. Daí ter recebido o apelido de “vinho negro”. Era (e ainda é) um ponto extremo de uma característica marcante: vinhos tintos bem escuros eram bastante comuns no correr da história, tanto na França quanto em Portugal e Espanha. Por volta do século XII, os produtores de Bordeaux começaram a ganhar mercado, principalmente o da Grã-Bretanha, com seus tintos. Mas eles não eram tão escuros quanto os vinhos já conhecidos por lá. Eram tintos de cor rosada. Por conta disso, passaram a ser chamados de “claret” pelo ingleses. O tempo passou, o vinho bordalês ganhou corpo, cor, estrutura, fama e preço. Ainda assim, até hoje muitos britânicos continuam chamando de claret todos os vinhos feitos em Bordeaux.

Os franceses sempre resistiram à utilização dessa expressão. Mais recentemente, no entanto, houve uma mudança nesse posicionamento. Foi criada até uma denominação de origem, a Bordeaux Clairet, para definir os rosés produzidos na região.

Não parou por aí. Produtores bordaleses decidiram homenagear os vinhos exportados para o Reino Unido na Idade Média e passaram a colocar no mercado o clarete, um vinho de cor rosada, intermediário entre o rosé e o tinto. Ele pode ser feito apenas com uva tinta ou com mescla de tintas e brancas. As peles da uvas são maceradas com o sumo e eles ficam em contato por até quatro dias. Para se ter noção da diferença: no caso do rosé, esse contato acontece por apenas quatro ou cinco horas.

Trata-se de um tinto mais frutado, muito fresco e fácil de beber. Deve ser deixado no gelo um pouquinho, para ficar com uma temperatura intermediária entre aquela ideal para o serviço do rosé e do tinto, algo entre 13 e 16 graus.

Como se vê, as características do claret ou clarete estão sempre baseadas num ponto de equilíbrio. É realmente um vinho incomum, de menor corpo e maior expressão da fruta. Não é leve como o rosé nem encorpado como o tinto. Caminha entre os extremos: entre o pesado e o leve, vai pelo centro, como se buscasse a conta certa entre a baunilha e o sal. E aí, dizem muitos, é onde mora a virtude.

Vinho Claret

Messias Clarete – A vinícola Messias surgiu há mais de 90 anos na região da Bairrada, em Portugal. O rótulo leva o nome do fundador da casa, responsável por rótulos famosos, como o Quinta do Cachão e o Quinta do Valdoeiro. O representante português da lista é feito com castas típicas, Baga e Tinta Roriz, e sai da região de Beiras. Não passa por tonéis de madeira. Como é fermentado apenas em cubas de aço inox, fica bastante frutado e fresco. Leve. E com a cor rubi clara, característica dos claretes.
Quanto custa? A partir de R$ 40.
Onde? Em lojas da web.

Vinho Claret

Claret Cousiño Macul Cabernet Sauvignon – É um vinho de edição limitada, ou seja, só é produzido quando a vinícola considera a safra ideal para fazê-lo. Ele recebeu 94 pontos do Guia Descorchados e foi escolhido como o Vinho Revelação do Ano pelo severo júri da publicação. É uma boa maneira de conhecer esse estilo de vinho, porque a garrafa pode ser encontrado por um preço acessível quando se considera essa pontuação e o título do guia. E falar da Cousiño Macul é quase desnecessário: trata-se de uma mais tradicionais e mais qualificadas vinícolas do Chile. Vinho gostoso, muito fácil de beber, sem nenhuma pretensão de ser uma “pancada” de aromas e sabores emprestados pela madeira. É muito agradável. E para completar: o rótulo é lindo.
Quanto custa? em torno de R$ 75.
Onde? Supermercado Carone

Vinho Clarete

Era dos Ventos Clarete – A escolha de um clarete como o melhor vinho tinto brasileiro, segundo a Descorchados, é, nas palavras do autor do guia, Patricio Tapia, um ato rebelde e irônico. “Um vinho simples, de fruta, para beber no verão à beira da piscina, como o melhor tinto brasileiro do ano? Um tinto que se parece mais com um rosé do que com um tinto? Este é o Sr. Tapia maluco? Mas esse é exatamente o ponto. Você deve aprender a andar antes de correr. O vinho brasileiro precisa encontrar clareza frutada, frescor e, também, precisa se levar menos a sério, fazer vinhos divertidos e simples e, acima de tudo, não acreditar que o melhor deve ser um blockbuster doce e tânico. A beleza também é encontrada na sutileza. E este clarete é um belo e sutil vinho”. Curiosamente, a vinícola não revela qual mescla de uvas brancas e tintas utilizou. Mas só o fato de ter conquistado o título de melhor vinho brasileiro é suficiente para recomendá-lo como rótulo a ser provado.
Quanto custa? A partir de R$ 150. Mas o título do Descorchados valorizou o vinho e seu preço tem se alterado muito.
Onde? Lojas na web.

André Andrès

Há mais de 10 anos escrevo sobre vinhos. Não sou crítico. Sou um repórter. Além do conteúdo da garrafa, me interessa sua história e as histórias existentes em torno dela. Tento trazer para quem me dá o prazer da sua leitura o prazer encontrado nas taças de brancos, tintos e rosés. E acredite: esse prazer é tão inesgotável quanto o tema tratado neste espaço.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.