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Bem-estar

Qual é o impacto do uso excessivo de melatonina? Entenda

Hormônio é o queridinho para auxiliar no sono de muita gente, mas o aumento no uso chama atenção de muitos médicos

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Níveis de melatonina aumentam durante a noite. Foto: Freepik

Quando o sono não está regulado, milhares de pessoas tentam recorrer a fórmulas e tratamentos. Um tipo que tem virado o “queridinho” de muita gente é o uso da melatonina, um hormônio produzido no cérebro.

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Esse hormônio tem um papel de regular o ciclo de dormir e despertar do nosso corpo e às vezes é chamada de “hormônio da escuridão”. Isso porque os níveis da melatonina diminuem ao longo do dia, ou quando luzes de aparelhos estão próximo aos olhos.

Com o aumento no uso da melatonina, os médicos passaram a se preocupar ainda mais com o hormônio. Para alguns profissionais, a melatonina não é tão segura quanto as campanhas de marketing dizem.

Em 2020, o médico pediatra Michael Toce, pronto-socorro do Hospital Infantil de Boston, nos Estados Unidos, percebeu o aumento de crianças internadas por overdose de melatonina. Numa pesquisa, ele identificou que entre 2012 e 2021, os chamados para relatar casos de overdose de melatonina cresceram 530%.

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“As vendas da melatonina cresceram nos últimos anos, assim como o uso pediátrico. Crianças se intoxicam com o que têm ao seu redor – sendo assim, o aumento na disponibilidade leva ao aumento na intoxicação.”

No estudo mais amplo de Toce, que analisou 260.435 casos de ingestão de melatonina, ele identificou quase 300 casos de internação em UTI. Cinco delas tiveram de ser entubadas, e duas morreram.

A melatonina também foi apontada como causa de outras mortes. Em 2019, um estudo documentou o caso de dois bebês encontrados desmaiados e os exames toxicológicos da autópsia de ambos mostraram altos níveis de melatonina.

Além das crianças, a melatonina também pode trazer efeitos adversos para adultos. Um estudo de maio deste ano reportou o caso de uma mulher de 21 anos que morreu de overdose de melatonina e difenidramina, um anti-histamínico usado para tratar alergias, insônia e sintomas de resfriados.

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Não é possível determinar que as mortes ou efeitos tenham sido diretamente causados pela melatonina, entretanto todas as vítimas envolvidas tinham vestígios do hormônio no corpo, o que chama atenção dos pesquisadores.

Estudos em ratos e camundongos indicam que a melatonina tem um efeito tóxico em doses extremamente altas (mais de 400mg por quilo), mas isso é muitíssimo mais do que a dose recomendada (2 a 10mg) para tratar problemas de sono.

O que se sabe é que há receptores de melatonina pelo corpo, incluindo nos sistemas reprodutivo, cardiovascular e imunológico – mas os efeitos da substância fora do cérebro são pouco conhecidos. Ao mesmo tempo, milhões de pessoas tomam melatonina diariamente sem qualquer efeito adverso.

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“Todas as medicações têm efeitos colaterais, então em relação a outras drogas usadas para tratar o sono, ela é considerada muito segura. No entanto, acho que o que mais preocupa é o desconhecido. Se você dá (a melatonina) a uma criança em desenvolvimento, qual impacto isso vai ter daqui a dez anos? Não sabemos. Sequer sabemos quanta melatonina é em excesso, porque tais estudos simplesmente nunca foram feitos”, afirma Sanford Auerbach, professor e diretor do Centro de Distúrbios do Sono do Centro Médico de Boston.

No Brasil, o hormônio é regulamentado pela Anvisa para ser vendido nas farmácias como suplemento. Por aqui, a fórmula é de, no máximo, 0,21 miligramas por dia. Ao contrário de outros países em que as doses podem chegar até 5 mg.

*Com informações BBC Future.