fbpx

Solidariedade

“Minha mãe me deu a vida duas vezes”: doação de rim emociona no ES

Transplante entre mãe e filha realizado em Cariacica marca avanço nos transplantes no ES e reforça importância da doação de órgãos

Publicado

em

Maria Aparecida doou um rim para a filha Cirlene e deu a ela uma nova chance de viver após anos de tratamento e diálise

Maria Aparecida doou um rim para a filha Cirlene e deu a ela uma nova chance de viver após anos de tratamento e diálise. Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo com o maior programa público de transplantes do mundo, o Brasil ainda enfrenta um desafio central: a baixa taxa de doadores. Embora o número de procedimentos tenha batido recorde em 2024 — com mais de 30 mil transplantes realizados, segundo o Ministério da Saúde — o total de doadores efetivos caiu em relação ao ano anterior.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

No Espírito Santo, a realidade contrasta com os dados nacionais. O estado registrou um crescimento de 21,8% nos transplantes de órgãos sólidos, somando 173 procedimentos em 2024, de acordo com a Central Estadual de Transplantes. Os órgãos mais transplantados foram rins, fígado e coração.

O alerta por mais doações ganha força nesta sexta-feira (6), Dia Mundial do Transplantado. A data, criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), busca conscientizar a população sobre a importância da doação e prestar apoio aos pacientes transplantados e suas famílias.

Medo, esperança e superação: uma história entre mãe e filha

Em maio, o Espírito Santo foi palco de uma história que sintetiza o poder transformador de um transplante. A dona de casa Maria Aparecida Celleri, de 55 anos, decidiu doar um rim à filha, Cirlene Schultz, de 38, que havia perdido a função renal após complicações durante a gravidez.

“Ela vomitava todos os dias, não conseguia comer. Chegou a pesar 45 quilos. Ver a minha filha daquele jeito me doía profundamente”, lembra Maria. Foram três anos de diálise peritoneal até que, no último dia 9 de maio, as duas entraram juntas no centro cirúrgico do Hospital Meridional Cariacica. O transplante foi um sucesso, e mãe e filha se recuperam bem em casa.

“Hoje me sinto como se tivesse nascido de novo. É como ter um pedacinho da minha mãe dentro de mim para o resto da vida”, disse Cirlene, emocionada. Ela afirma que, se fosse o contrário, também doaria sem pensar duas vezes.

Quando doar é possível e o que impede

De acordo com o médico Gustavo Peixoto, coordenador do Programa de Transplante Hepático do Hospital Meridional Cariacica, a doação pode ocorrer em duas situações: com o doador vivo ou após a morte. No primeiro caso, são permitidas doações de rim, parte do fígado, pulmão ou medula óssea — geralmente de parentes até o quarto grau ou cônjuges. Não parentes podem doar apenas com autorização judicial.

Já a doação pós-morte depende de avaliação médica para verificar a viabilidade dos órgãos e tecidos, como coração, rins, fígado, pâncreas, intestino, pulmões, ossos e tendões. Contudo, um obstáculo importante persiste: a recusa familiar.

“Na maioria dos casos, os familiares não sabem se o ente queria doar, ou têm dúvidas sobre o processo”, explicou Peixoto. “Por isso, é fundamental comunicar o desejo em vida. Uma única pessoa pode beneficiar até dez outras com a doação.”

O cirurgião Isaac Walker, especialista em cirurgia do aparelho digestivo, reforça que doar é um gesto que ressignifica o fim de uma vida e abre novos caminhos para outras. “Cada paciente que sai da fila e ganha um órgão é uma história de superação, de retorno aos sonhos, à rotina e à esperança.”

Brasil ainda precisa falar mais sobre doação

Embora o Brasil lidere o ranking de transplantes realizados pelo setor público, o país ainda convive com filas de espera longas e com a falta de diálogo sobre o tema nas famílias. Em 2023, foram 4.129 doadores efetivos. Em 2024, esse número caiu para 4.086.

A queda é pequena, mas significativa diante da alta demanda. De acordo com especialistas, aumentar a doação passa por educação, campanhas permanentes e humanização do tema. Histórias como a de Maria e Cirlene mostram que, quando a informação chega, a solidariedade costuma responder.

LEIA MAIS: