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Solidariedade

Ex-dependente cria comunidade terapêutica em Cariacica

O espaço foi fundado por Jocimar Guaitolini, que conhece de perto a dependência química e, por este motivo, sabe exatamente como o problema deve e merece ser tratado

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Comunidade Terapêutica Fênix, em Cariacica. Foto: Divulgação

Comunidade Terapêutica Fênix, em Cariacica. Foto: Divulgação

Há pouco mais de um ano, a Comunidade Terapêutica Fenix, em Cariacica, foi inaugurada com o objetivo de recuperar e reabilitar dependentes químicos. O espaço foi fundado por Jocimar Guaitolini, 50 anos, que conhece de perto a dependência química e, por este motivo, sabe exatamente como o problema deve e merece ser tratado. E cada um dos 27 acolhidos buscam sua história de superação.

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Com a premissa de que, diante da impossibilidade de promover mudanças no “dependente químico”, é necessário alterar o meio onde ele vive e o retirar da situação em que acontece o consumo de drogas, a comunidade terapêutica possui um modelo residencial. A Comunidade Terapêutica Fenix é uma casa de recuperação com diferentes terapias e com regramento de horários na rotina.

Guaitolini se preocupou em montar um time de profissionais que atuam na unidade capacitados para enfrentar a reabilitação e ajudar o paciente a lidar com todas as dificuldades existentes no caminho. Tem psicólogo, terapeuta, assistente social. E os horários estabelecidos para as tarefas e alimentação são seguidos à risca, uma parte do tratamento fundamental para a recuperação.

“Estabelecemos uma rotina. Quando se é dependente químico, você não tem hora para acordar ou comer. Aqui estabelecemos todos esses horários, que são seguidos à risca. No cronograma eles têm horário para acordar, se alimentar, cuidar da limpeza de quartos e banheiros, tem horário das terapias e até mesmo para dormir. No tempo vago, tem os que escolhem cuidar da horta ou da criação, tem quem queira apenas ler um livro”, comenta Guaitolini.

De segunda a sábado, o grupo participa de duas sessões de terapia, seja com terapeuta e psicólogo, ou mesmo com convidados externos – pastor, padres, ex-dependentes químicos -. A ressocialização é um dos pilares da Comunidade Terapêutica Fenix. Que se preocupa ainda em reconstruir o vínculo dessas pessoas com seus familiares que, na maioria dos casos, já se quebraram.

“Muitos deles chegam sem nada e sem ninguém. É difícil para a família, que já foi muito machucada e até roubada. Com o passar do tempo e a aceitação do tratamento, nós buscamos ajudar na reconstrução desse vínculo. É muito importante a presença da família no tratamento. Nós buscamos auxiliar eles de todas as formas. A maioria sai daqui com suas famílias de volta e até com emprego. Mais de 200 pessoas já passaram pela nossa casa. Em média, o tratamento dura seis meses, podendo ser prolongado”, comemora Guaitolini.

A INSPIRAÇÃO DA COMUNIDADE

Para o fundador da comunidade, lidar com a dependência química é um desafio em muitos sentidos. Antes de tudo, é necessário enfrentar a própria negação: mesmo que, ao redor, muitas pessoas ofereçam ajuda, é bem comum o adicto – como são conhecidos os viciados no AA – achar que não necessita dela. A fase de aceitação na reabilitação do dependente químico também não é nada fácil: é preciso lidar com todos os efeitos físicos e psicológicos da abstinência e encontrar forças para continuar lutando.

No entanto, histórias de superação existem – como foi dito anteriormente -. E Jocimar Guaitolini é uma delas. Vindo de uma família classe média, teve contato desde cedo com o álcool e o cigarro. Aos 15 anos, já experimentara maconha e aos 18 conheceu a cocaína. Aos 35 anos, foi a vez de se afundar no crack. Nesse meio período, se casara duas vezes e teve três filhos.

“Primeiro achei que o problema era o Brasil. Eu separei da minha primeira esposa e deixei minha filha que acabara de nascer para ir morar no Estados Unidos. Lá eu consegui ficar limpo por dois anos. Foi só aprender umas palavras em inglês, que eu já passei a procurar quem vendia. E o usuário ele reconhece quem vende. Eu passei muito aperto, corri de polícia. E me afundei na droga. Morei lá por 17 anos e, nesse período, voltei ao Brasil duas vezes”, lembra.

Nos Estados Unidos, as experiências de trabalham foram as mais diversas – de lavar prato e abrir uma empresa no ramo da construção civil -, mas lá estava também a dependência química. Anos se passaram e o vício estava descontrolado, perdera a segunda esposa e a empresa passou a ser gerenciada pela irmã. A vida o trouxe de volta para o Brasil e, dessa vez, com a oportunidade de virar o jogo.

“Eu já não trabalhava mais. Eu era um morador de rua em casa. Eu só usava drogas. Eu não fui pai, apenas arquei com algumas despesas. Minha irmã me pegou e me levou até uma comunidade terapêutica. Na época, eu não tinha dinheiro, e lá era bem precário, faltava o básico. Mas eu me interessei por aquilo. Após sair de lá, eu decidi que queria ajudar outras pessoas, eu trabalhei em algumas comunidades e fui vendo o que era preciso. Há pouco mais de um ano eu consegui estruturar a Comunidade Terapêutica Fenix”, ressaltou.

A reabilitação é um processo longo, e a paciência é fundamental. O paciente passa por uma desintoxicação, cujo tempo varia de acordo com o nível de toxicidade no organismo. Depois da alta da clínica é o início de uma nova jornada, que conta com lutas diárias. E apesar de não ter tido recaídas, Guaitolini tem a consciência de que a bebida é a porta de entrada para outras drogas e busca se manter sóbrio.

“Eu perdi muitas coisas na minha vida que não posso recuperar. Eu não fui pai. Mas, hoje, sei que posso ser avô. Graças a Deus eu reconstruí o vínculo com toda a minha família. E eles me apoiam nesse projeto. E eu sou grato por isso. A família é essencial no tratamento. E eu retomei meu casamento com minha segunda esposa, que hoje também abraça esse projeto da comunidade terapêutica”, frisa.

COMO AJUDAR O PROJETO

A maior parte dos dependentes químicos acolhidos pela comunidade terapêutica não tem condições financeiras para arcar com as despesas. E a associação é mantida por doações, seja de entidades religiosas, pessoas físicas ou mesmo empresários. E se você quiser abraçar essa associação para que continue fazendo a diferença, pode fazer a sua doação por meio do PIX [email protected]. Também é possível entrar em contato por meio dos telefones 27 99772-3731/ 2799715-6262.


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