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Não no meu quintal!

O ex-deputado e ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas debate o gerenciamento e o equacionamento dos conflitos de interesse que surgem no dia a dia de uma cidade

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“Não entre”. Foto: Reprodução

A expressão é norte-americana: “Not in my backyard”, ou não no meu quintal. Isso significa ser a favor de algo que, em tese, é bom para todo mundo, mas mudar totalmente de opinião, passando a ser contrário, caso a solução afete de maneira muito imediata um interesse particular próprio. Um exemplo ilustrativo: é bom ter um ponto de ônibus perto de casa, mas não exatamente na frente da minha casa. Da mesma forma, ter uma feira livre no bairro é bom, desde que a barraca de peixe não fique na minha calçada.

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Nenhum município quer sediar presídio ou aterro sanitário, embora todos reconheçam a sua importância. Arrecadar impostos e gastar em serviços e obras públicas, além de nomear e demitir ocupantes de cargos públicos, são as tarefas mais fáceis do governante.

Gerenciar e equacionar os conflitos de interesse que surgem no dia a dia da gestão pública é a parte mais difícil da missão de governar. Exige talento, capacidade de formulação e liderança política.
Na semana passada, todos acompanhamos pela imprensa o rompimento político de um deputado estadual de Vitória com o prefeito da Capital.

A repercussão do episódio acabou mais focada na dimensão político-eleitoral do confronto, sem destacar tanto o fato objetivo causador da briga: a construção de um centro de acolhimento para a população de rua a ser instalado em Goiabeiras.

Parece claro que a simples existência de população de rua, em situação de alta vulnerabilidade, exige dos poderes públicos uma ação ativa de acolhimento e atendimento social. Por outro lado, a presença de população de rua causa temor e desconforto para os moradores do bairro onde um centro de acolhimento deve funcionar e, assim, o deputado, vocalizando angústias e reações compreensíveis, colocou-se fortemente contra o projeto da prefeitura. Mais uma situação que serve de exemplo sobre o desafio de gerir conflitos entre interesses legítimos.

Deveríamos aproveitar esta pauta para debater de forma aprofundada, com base em evidências, estudos de especialistas, buscando inspiração em experiências de sucesso comprovadas em outros lugares, de políticas públicas sobre população de rua. Indigência social, saúde mental e segurança pública se encontram imbricadas neste debate, onde não deveria existir espaço para abordagens sensacionalistas e superficiais.

A vida urbana exige tratamento multissetorial e modelo de governança que coloque todos os atores sociais no processo de solução das questões complexas e muitas vezes controversas dos problemas da cidade. Também deve ser assim quando os temas estiverem relacionados com sonhos e projetos de desenvolvimento.

As novas tecnologias de informação e comunicação deram um significado completamente novo às ideias de participação da sociedade nas decisões políticas, principalmente no plano local.

Gestão e governança do século 21 viabilizam a prática política de qualidade. Envolver os atores sociais no processo decisório não é ser bonzinho nem fazer favor a ninguém. É tomar decisões ancoradas em pactuação qualificada, ampliando o capital cívico existente, que se multiplica no processo de construção de soluções ao invés de se desgastar.

Sempre há lições positivas a tirar.


*Luiz Paulo Vellozo Lucas é engenheiro de produção e político brasileiro. Formado em engenharia de produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é membro do BNDES desde os anos 80. Foi prefeito de Vitória de 1997 a 2005. Filiado ao PSDB desde 1993, em 2006 foi eleito deputado federal pelo Espírito Santo.

 

 


Plural. Foto: Freepik

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