Plural
Feminicídio cai, mas ES está longe de vencer a guerra
Artigo escrito pela delegada Gracimeri Gaviorno, que é especialista em segurança pública e foi chefe da Polícia Civil do ES
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) divulgou números sobre violência contra a mulher nos quatro primeiros meses deste ano. A boa notícia é que o número de feminicídios caiu. De janeiro a abril de 2024, foram registrados 9 feminicídios no ES, 25% a menos que no mesmo período do ano passado. Em 2023, somente em quatro meses, 12 mulheres foram assassinadas no estado apenas por serem mulheres.
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A diminuição dos feminicídios consumados é motivo de comemoração, pois qualquer vida preservada deve ser celebrada. Por outro lado, os registros de violência doméstica aumentaram no Espírito Santo de janeiro a abril deste ano, comparando com o mesmo período do ano passado. De acordo com a Sesp, foram 8.039 casos em 2024, contra 7.498 em 2023 (aumento de 7,2%). Só em abril deste ano, foram 1.883 casos.
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O dado de redução do número de feminicídios no estado podem nos dar a falsa sensação de que estamos vencendo essa guerra, entretanto, infelizmente, isso não é verdade. O desespero das vítimas é tão grande que, só neste ano no estado, pelo menos três mulheres pularam de andares superiores para fugir das agressões. Ou seja, há diversas outras violências associadas a agressões.
Afora as tentativas de feminicídio, sabemos que os casos de violência contra a mulher são subnotificados, pois muitas vítimas não levam o fato ao conhecimento da polícia ou a violência recorrente é registrada como um único fato.
Lamentavelmente, 70% dos casos de violência contra a mulher acontecem dentro de casa. Isso nos leva a pensar que esses crimes não podem ser evitados. A boa notícia é que, sim, eles podem ser impedidos! Podemos interferir precocemente, evitando, inclusive, que ele volte a acontecer e, assim, que não ocorra uma escalada progressiva da violência.
O caminho para enfrentarmos esse flagelo é investir em prevenção primária em diferentes eixos, como, por exemplo, educação nas escolas, empresas, igrejas, ambientes esportivos e ambientes públicos.
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Devemos também fortalecer as redes de apoio. Crianças e mulheres devem se sentir seguras e acolhidas para denunciar as violências que sofrem. Cito, ainda, a necessidade de promover ações articuladas de observação das famílias nas áreas de educação, assistência social, segurança e saúde.
Por fim, compreender que a autonomia financeira é importantíssima, mas na maioria das vezes, insuficiente. É imprescindível investir na saúde mental e psicológica das vítimas e dos agressores. Só vamos vencer esta guerra quando entendermos que a violência doméstica é resultado de um cultura perversa de desprezo pelas mulheres e que atinge, inevitavelmente, a todas as pessoas.
*Gracimeri Gaviorno é delegada e especialista em segurança pública. Foi chefe da Polícia Civil do ES
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