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Falta um ano para a primavera da advocacia – e não, isso não é muito tempo

“O fato é que a nossa Casa vem se deteriorando, em moral e respeito, mais rapidamente nos últimos dois anos”, escreveu Érica Neves

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Advocacia. Foto: PIxabay

Um ano. Seria bastante tempo para planejar uma mudança de casa, uma viagem desejada e até um casamento, mas não é muito quando falamos de consolidar uma sonhada transformação de modelo institucional e mudar os rumos de toda uma classe de profissionais. Quando o papel de uma sólida instituição de 91 anos, como a OAB/ES, está distorcido – sua imagem desgastada e pessoalizada e suas ações e motivos desvirtuados dos seus preceitos fundamentais de existência – os segundos correm mais rápidos, as semanas voam e os meses passam velozmente.

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Temos muito a refletir nesse meio-tempo e entender que é chegada a hora de dar adeus a um longo inverno e se abrir à primavera. Na minha caminhada de Norte a Sul do Espírito Santo, conversando com tantos advogados e advogadas, tenho refletido muito. Nos últimos cinco anos, a única sensação imutável é o desserviço geral da OAB/ES para solucionar questões com o sistema judicial e a explícita pompa na utilização do poder político e financeiro sem reflexos e benefícios coletivos.

Reflito, por exemplo, sobre a falta que faz uma transparência nas contas da instituição, que são absurdamente escondidas, e a independência financeira das subseções, que refletirá no dia a dia da advocacia que mais precisa e na democracia dentro da instituição. Também sobre a falta de uma gestão profissional para os esportes, para que a advocacia que usufrui pare de ser moeda de troca em época eleitoral, um ciclo de politicagem que deveríamos combater, e não se entregar e corromper.

O fato é que a nossa Casa vem se deteriorando, em moral e respeito, mais rapidamente nos últimos dois anos. Não deixando margem para questionamentos e críticas, a Ordem se tornou algoz de grande parcela da advocacia, dos esquecidos dativos e criminalistas aos que simplesmente atrasam uma parcela da anuidade e os que precisam do transporte gratuito, sistema que tanto orgulho nos trouxe em outras épocas. Está muito claro quem se esbalda com o poder da Ordem e quem teme o poder dela.

Reflito, também, sobre nossa pirâmide etária – nos jovens, que estão chegando sedentos por tecnologia e novos modelos de negócios e nada de profissionalizante encontram na instituição, enquanto, aos mais experientes, restou rezar para conseguirem acompanhar a implantação do PJE e virtualização dos atos, cuja chegada era certa como o nascer do sol e nada de qualificação temos disponível pela nossa Casa até hoje.

Penso, também, nos criminalistas, esses guerreiros que padecem com a distorção midiática contínua da sua atividade. Ninguém deveria se sentir confortável em criminalizar a advocacia, e nossas prerrogativas precisam ser defendidas com exaustão e firmeza. Neste tema, olho para trás e vejo o caminho que nos levou a essa posição de conflito, quase inimigos do sistema judicial e policial, quando deveríamos ser partícipes e contribuir com soluções. Penso, também, no que vivemos hoje, com a politização do símbolo da OAB, para a busca de poder de acordo com os interesses pós-Ordem de alguns.

Um ano é tempo mais do que suficiente para refletir sobre muita coisa. E, para quem sonha com esta mudança estrutural, é pouco, é logo ali. Convido, portanto, a advocacia a já embarcar nessa reflexão, olhar com afinco para o cenário que se desenha, as experiências que já tivemos, as oportunidades que já perdemos por nossa omissão e as necessidades que temos. E começar a pensar na necessidade de mudar de estação e sorrir para a primavera – o tempo do cuidado, do respeito, da moral e, principalmente, da união.

E por que escrevo todas essas palavras agora? Porque me preocupo, pois na minha concepção, nunca uma mudança foi tão necessária e urgente para o futuro da nossa profissão, que tanto amo, a profissão que me faz realizar, todos os dias, o sonho de criança. Um ano não é muito tempo para quem tem esperança, coragem e vontade.


*Érica Neves é advogada, diretora da Associação Brasileira dos Advogados. Já foi secretária-geral adjunta da OAB/ES

 

 

 

 


Plural. Foto: Freepik

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