Personagens
Filha inspira pai a acordar cedo para servir café de graça no ES
Neste Dia dos Pais, história de Sanderley Vargas mostra como a pequena Raquel o inspira a sair cedo para oferecer café e afeto nas ruas

No semáforo, Sanderley oferece café com um sorriso; em casa, ao lado da filha Raquel, encontra a maior motivação para recomeçar. Foto; Reprodução
Todos os dias, antes mesmo do sol nascer, Sanderley Vargas, de 29 anos, deixa o bairro Zumbi dos Palmares, em Vila Velha, levando consigo garrafas térmicas e um motivo: sua filha Raquel, de 4 anos. É ela quem lhe dá a força para sair de casa cedo e enfrentar o semáforo da Avenida Carlos Lindenberg com um propósito simples de vender um café quente e dar um “bom dia” com sorriso largo a quem passa.
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Aos que param, oferece o copo. Não há cobrança. Apenas um papel com a chave do PIX para quem quiser contribuir. A confiança virou método, mas também sinal de resistência. O gesto, que poderia passar despercebido, esconde uma trajetória marcada por perdas, recomeços e fé.
Raquel como motivação para não desistir
Neste Dia dos Pais, celebrado neste domingo (10), Sanderley resume: “Minha filha foi o que me fez levantar da cama. Quando pensei em desistir, ela me puxou sem saber.” A pequena Raquel não o acompanha ao trabalho, mas está em cada movimento que ele faz, das garrafas lavadas na véspera ao primeiro café servido ainda no escuro.
É por ela que ele recusa parcerias apressadas e sonha alto, mas com os pés firmes no chão. “Quero dar orgulho pra minha filha. Mostrar que dignidade a gente constrói mesmo quando parece não ter mais nada.”
Do México às ruas de Vila Velha
Há pouco mais de um ano, Sanderley tentava cruzar a fronteira do México para os Estados Unidos. Tinha vendido tudo após ser assaltado na loja que mantinha em Vila Velha. A tentativa de recomeçar fora do Brasil virou um pesadelo.
No México, foi sequestrado, virou morador de rua e só conseguiu voltar ao Brasil com ajuda da igreja e do consulado. “Vi coisas que não desejo a ninguém. Crianças sendo abusadas, policiais que servem à máfia. Achei que não ia voltar.”
Ao retornar, falido e emocionalmente abalado, foi acolhido pela sogra, Joelma. A mesma casa que o recebeu foi também onde nasceu o novo plano de vida: um café preparado com cuidado e oferecido sem exigência.
Confiança que gera retorno e empatia
A rotina no semáforo começou com uma garrafa. Em pouco tempo, virou cinco por dia. Ele calcula que já serviu centenas de copos e que, mesmo sem cobrar, não teve prejuízo.
Moradores de rua e servidores públicos não pagam. “Mas já recebi PIX de R$ 50 por um café. As pessoas entendem o propósito”, conta. Por 30 dias, guardou todo o dinheiro arrecadado dentro das próprias garrafas térmicas, sem mexer. O resultado foi mais do que financeiro — foi emocional. “Vi que eu podia confiar nas pessoas. Isso me devolveu a fé.”
Projetos e futuro
Com a repercussão do vídeo em que compartilhou o “Propósito dos 30 Dias”, Sanderley ultrapassou 21 mil seguidores no Instagram. Três empresas do setor já o procuraram para parcerias. Ele, no entanto, prefere esperar.
Nos planos está a criação de um projeto social para oferecer café da manhã a pessoas em situação de rua. “É o mínimo que posso fazer depois de tudo que recebi”, afirma.
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