Com caminhão rosa, capixaba viraliza ao compartilhar rotina na estrada

Anailê, à frente de seu caminhão rosa. Foto: Reprodução/Instagram

A rotina de Anailê Santos Goulart é tudo, menos comum. Aos 35 anos, mãe de três filhos e esposa de Lucius Hauni Ribeiro Ramos, ela dirige um caminhão rosa que se destaca entre os demais na Associação de Carreteiros Autônomos (ACA), onde trabalha como prestadora de serviços ao Porto de Capuaba. O que talvez poucas pessoas saibam é que, por trás de cada foto compartilhada e de cada vídeo gravado, existe uma trajetória de luta e superação. Uma jornada que começou com um simples desejo de fazer a diferença e se sentiu grande ao dirigir um caminhão.

Anailê e Lucius estão juntos há 20 anos e têm três filhos, com idades de 7, 9 e 13 anos. Com uma rotina que se divide entre o trabalho no Porto, as tarefas de casa e o cuidado com a família, o dia a dia de Anailê é uma verdadeira maratona. “Cada um numa escola, cada um com suas atividades, a casa sempre uma loucura”, ri ela, falando de sua vida familiar.

Trajetória

A história de Anailê no mundo dos caminhões começou há nove anos, quando ela decidiu mudar sua trajetória profissional. Não era algo natural para ela, mas o amor pelo marido e a vontade de estar mais próxima dele a levaram a tirar a carteira de motorista e começar a aprender a manobrar. “Quando fui pro caminhão com ele, me apaixonei. Eu sou pequena, mas no caminhão eu me sentia grande”, relembra Anailê, com 1,56 metro de altura.

Juntos, Anailê e Lucius compraram caminhões antigos, caindo aos pedaços, e, mesmo diante das dificuldades financeiras, enfrentaram as adversidades. Ela se lembra de como foi difícil, principalmente quando estava grávida do segundo filho, enfrentando infiltrações dentro do caminhão. “Me molhava toda, a barriga crescendo, mas não deixei de lutar”, lembra a caminhoneira.

Na gravidez de seu segundo filho, Anailê chegou a parar de trabalhar 10 dias antes do previsto, mas ainda assim não foi uma decisão fácil. “O caminhão ainda estava sem reforma, e eu usava um banquinho para subir nele. Tudo filmado e registrado”, conta, relembrando. Mas a gestação não foi fácil. No último mês, Anailê teve que parar de trabalhar por causa das dores que estava sentindo. “No último mês de gravidez, comecei a sentir muitas dores. Dois dias depois, ele nasceu de 7 meses. Fiquei internada com ele por 21 dias, mas graças a Deus deu tudo certo”.

 

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Sucesso nas redes sociais

Com o tempo, Anailê se tornou uma referência nas redes sociais. Ela começou a postar sua rotina nas redes sociais há nove anos e no Instagram, há cinco anos, com 252 mil seguidores. Seu canal no YouTube, onde começou a compartilhar sua rotina no Porto, já conta com mais de 390 mil inscritos. “Quando fiz o meu primeiro vídeo e ele bombou, com mais de 2 milhões de visualizações, a galera pediu para eu continuar. E foi aí que eu decidi seguir com o canal”, conta ela. Em sua página, não faltam momentos de descontração com a família, mas também com vídeos de trabalho e os desafios do dia a dia. “Nosso trajeto é curto, dentro do Porto, mas os meninos amam. Só que não posso levar eles no caminhão, lá dentro não podem entrar”, explica.

Além de ser caminhoneira, Anailê também é consultora de proteção veicular, o que lhe permite equilibrar melhor a vida profissional com a pessoal. Ela afirma que o apoio das redes sociais foi essencial para chegar onde chegou. “Quando não tinha condições, foi graças a seguidores que pude reformar meu caminhão. Um de Amsterdã me enviou o meu primeiro iPhone, outro do Japão pagou as portas do caminhão”, relembra com gratidão.

Em sua trajetória, Anailê teve a oportunidade de viajar para a Alemanha a convite da Mercedes-Benz, uma experiência marcante em sua carreira. Durante uma semana no país, participou da feira Hannover IAA Commercial Vehicles, a maior feira automotiva de caminhões do mundo, e testou veículos que ainda nem chegaram ao Brasil. Em uma das atividades, dirigiu um bitrem carregado em uma pista de teste, onde precisou manter a velocidade acima de 80 km/h em uma curva de 90 graus para evitar que o caminhão tombasse. “Tinha um instrutor alemão me orientando, a tradutora do lado e eu acelerando”, relembra. A viagem aconteceu ao lado de dois youtubers caminhoneiros e alguns repórteres, consolidando sua visibilidade no setor.

Desafios

O caminho para o sucesso não foi fácil. Como mulher em um ambiente predominantemente masculino, Anailê enfrentou desafios desde o início. “No começo, havia quem queria me tirar do trabalho, me observar para ver se eu iria errar. Até mesmo no sindicato foram perguntar se poderiam me tirar”, conta ela, sem perder o bom humor. “Mas eu sou tranquila, fui firme e forte. Eles que se lasquem”, brinca.

Orgulho da família

Anailê também compartilha o orgulho que a família sente da sua trajetória. “Meu pai não viu nada disso, faleceu quando eu tinha 19 anos. Mas com certeza ele ficaria muito orgulhoso”, diz, com um tom de saudade. “Minha mãe super me apoia, meus filhos amam e morrem de orgulho. Eles adoram andar no caminhão, mas o trajeto é curto e não podemos levá-los”, explica.

Para aliviar a pressão do trabalho e manter o equilíbrio mental, Anailê e Lucius encontraram uma maneira inusitada: andar de patins. “Eu comecei a patinar para desestressar. O Lucius sempre andou desde criança, fazia manobra mortal nas pistas, e eu sempre o acompanhava. Agora, patinamos juntos”, conta com um sorriso.

Hoje, Anailê é reconhecida como um exemplo de persistência e coragem. Seu caminhão rosa é símbolo de sua luta, de sua determinação para mudar de vida e conquistar um espaço, não só no mundo dos caminhoneiros, mas também nas redes sociais. Ela nunca teve medo de se destacar, de mostrar sua história, e de inspirar aqueles que a acompanham. “No começo, eu era a única mulher na associação. Hoje, já são mais duas. E a luta continua”, afirma com confiança.

Anailê encara o volante, compartilhando sua rotina de trabalho e desafios diários. Foto: Reprodução/Instagram

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