fbpx

BandNews FM

Procura por pets exóticos desafia o combate ao tráfico 

O quinto e último episódio da série aborda a dimensão do mercado ilegal de fauna

Publicado

em

 

Ouça o quinto episódio: 

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

 

Receba as informações da BandNews ES no grupo da Rádio.

Ter um animal silvestre ou exótico dentro de casa e cuidar como se fosse membro da família é uma situação bem comum, como já vimos nas reportagens anteriores de tutores que adquiriram esses bichos de forma legal. Mas, existe um outro lado da história que preocupa as entidades ambientais e impacta diretamente no desenvolvimento das espécies, inclusive naquelas ameaçadas de extinção. É bom lembrar que, em nenhuma hipótese, animais ameaçados de extinção podem ser vendidos, ainda que legalmente.

O tráfico de animais é a terceira maior atividade ilegal do mundo, ficando atrás do tráfico de drogas e o de armas. As que mais sofrem com esse cenário são as aves. A demanda pela compra de pássaros é maior e eles também lideram o ranking entre os silvestres mais traficados no Brasil, movimentando com isso a caça e o tráfico de animais.

E se o movimento ilegal da venda desses bichos é alto, a grande demanda do mercado consumidor é o que justifica esse crime. Se tem quem compra, é preciso ter quem venda. E foi essa a resposta que a organização global Proteção a Animal Mundial no Brasil teve no levantamento Crueldade à Venda. Segundo o biólogo João Almeida, um dos dados mais preocupantes revelados neste trabalho foi o que apontou a relação direta entre lojas legalizadas e traficantes de animais.

“Existe uma correlação forte entre uma coisa e outra e eu falo com base em evidências, de acordo com o nosso relatório Crueldade à Venda. A grande maioria das pessoas no Brasil, que não têm condição social privilegiada, não podem comprar o animal silvestre em um pet shop, porque é caro. Então, vão buscar realizar essa compra por meios não legalizados. E aí, entra a cadeia do tráfico e da ilegalidade”, explica.

Os números do tráfico

Nesta atividade ilegal, são mais de 38 milhões de animais silvestres retirados da natureza no Brasil por ano, de acordo com a Polícia Ambiental. No Espírito Santo, ao longo de 2021, foram 4.202 aves resgatadas e mais de 3 mil armadilhas, gaiolas e viveiros apreendidos ou interditados. Até abril deste ano, 731 resgates de aves tinham sido feitos.

O subcomandante do Batalhão da Polícia Ambiental do Espírito Santo, major Luchi, relata que os animais traficados morrem, muitas vezes, ainda no transporte, por conta das péssimas condições a que são submetidos.

“Geralmente, estes animais são transportados em compartimentos inadequados, com tamanho inferior, são amontoados. Passam horas e horas sem água, sem comida. De cada dez animais que são traficados no Brasil, um sobrevive. Os outros nove, morrem”, conta.

Apesar de ser uma atividade constante que movimenta cerca de dois bilhões de dólares por ano, a área de investigação destes crimes ainda é tímida, principalmente no Espírito Santo. A Polícia Federal deflagrou, no ano passado, a Operação Aveas Corpus com o objetivo de investigar a captura e o comércio de papagaios Chauá e outras aves. Na ação, foi constatado que os pássaros eram capturados no estado e vendidos para comerciantes do Rio de Janeiro.

Diferente das histórias dos proprietários legais de cobras, coruja, papagaio e macaco que contamos aqui, a realidade mostra que eles não são a maioria. A parcela maior de quem tem um silvestre ou um exótico em casa é formada por pessoas que desconhecem as regras ambientais. Quem lida com isso diariamente é o médico veterinário Eduardo Lázaro, que atende inúmeras vezes silvestres não legalizados.

“Eu posso atender os animais ilegais e devo, porque a minha parte é saúde, só que meu dever é a orientação. Muitos tutores não sabem que os animais são ilegais. É muito fácil comprar, você procura no Facebook e acha”, afirma.

Não é possível legalizar um animal que já foi adquirido sem autorização. Para evitar uma punição, o caminho certo é devolvê-lo. Assim, esses bichos terão a oportunidade de ir para um centro de reabilitação e serem introduzidos novamente na natureza.

Criadouros ilegais ou animais criados em cativeiro de forma amadora e sem autorização podem ser denunciados aos órgãos competentes. Beatriz Resende, bióloga do Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) orienta o passo a passo de como denunciar e, com isso, contribuir para a preservação das espécies.

“O Iema recebe denúncias de maus-tratos, de criadouros ilegais, de pessoas com animais em casa. As denúncias podem ser feitas para o Iema e também para a Polícia Ambiental ou para o Ibama. Se for parte da nossa gestão, a gente faz a fiscalização. Se não, repassamos”, explica a bióloga.

Respeito pelos animais

Essa paixão por animais atinge desde quem quer conviver com eles de perto, como conhecemos algumas histórias, até aqueles que contemplam apenas de longe, no habitat natural deles. Mas, independente de qual for a escolha, uma coisa é certa: nenhum animal, sejam os pets convencionais ou não, pode ser maltratado. E, se isso acontecer, a denúncia deve ser feita.

Antes de levar tanta responsabilidade para dentro de casa, é preciso pensar não duas, mas várias vezes.

Seja uma cobra ou um cachorro, um macaco ou gato. Animais são seres que possuem a capacidade de transmitir os melhores sentimentos aos humanos. De perto, o amor e companheirismo, de longe a contemplação. A nós cabe a tarefa de retribuir a eles o cuidado de tudo o que nos transmite.

Ouça o episódio anterior: Silvestres em casa: proteção ou uma ameaça à espécie?