Coluna Vitor Vogas
Os 10 motivos que levaram Casagrande a apoiar Marcelo contra Vandinho – Parte 1
Em duas partes, coluna explica o que realmente levou o governador a declarar apoio a Marcelo Santos na eleição da Assembleia (incluindo os motivos não ditos)

Marcelo com Casagrande em evento do governo. Foto: reprodução Facebook
A eleição é do comando da Assembleia, mas a definição interessa sumamente ao Poder Executivo. Da boa vontade de quem se senta à cadeira de presidente da Casa e da relação política estabelecida com ele/a, depende a governabilidade e, sem exagero, o sucesso de um governo. Por isso, de maneira mais ou menos velada, com menor ou maior grau de intensidade, todos os governadores procuram influenciar a escolha dos deputados a cada dois anos. Todos.
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O que é raro, muito raro, é um chefe do Executivo fazer isso de maneira tão explícita como acaba de fazer o governador Renato Casagrande (PSB). Ao declarar aberta e publicamente, com direito a entrevista a este espaço, seu apoio ao deputado Marcelo Santos (Podemos) na disputa com o também governista Vandinho Leite (PSDB), Casagrande não só quebra a tradição da “influência velada” como destoa do próprio comportamento político, historicamente mais discreto em questões dessa natureza.
Por isso, o que meio Espírito Santo se pergunta no momento é: por que o governador decidiu apoiar e explicitar seu apoio a Marcelo Santos, esvaziando a chapa de Vandinho? O que realmente pesou em sua decisão? Para responder a tais perguntas, listamos e explicamos os 10 motivos que levaram Casagrande a fazer esse movimento tão atípico, incluindo os quatro citados por ele e os outros seis não verbalizados:
AS RAZÕES OFICIAIS
1. Marcelo é o decano da Assembleia (está lá desde 2003, vai para o 6º mandato seguido e, nesses 20 anos, nunca presidiu a Casa);
2. Não é candidato a prefeito de Cariacica e a nada em 2024 (como já afirmou);
3. Não é candidato à reeleição em 2026 (tentará vaga na Câmara dos Deputados, segundo já declarou);
4. Tem um histórico de aliança com Casagrande e um tempo mais longo que Vandinho de “aliança estável” com ele.
Isso foi o que disse o próprio governador. Passemos agora a explicar, mais detidamente, as razões não ditas por ele:
AS RAZÕES NÃO OFICIAIS
5. Porque “é o que temos para hoje”
Na última terça-feira (24), escrevi que o governador tem tudo neste momento para enfim conseguir emplacar na presidência da Assembleia o nome “da sua predileção”. Um leitor contestou o uso da expressão: “Casagrande vai ganhar perdendo. Nem Marcelo e muito menos Vandinho são da predileção dele”.
O leitor está certo.
A bem da verdade, o presidente dos sonhos para Casagrande não seria Marcelo e, claro está, muito menos Vandinho. Mas, como ensina um ditado muito repetido no meio político, “o ótimo é inimigo do bom”.
> Casagrande: “Marcelo é meu candidato à presidência da Assembleia”
Qualquer um dos outros três deputados cotados que ficaram pelo caminho agradava muito mais a Casagrande, por manterem relação política muito mais estreita com ele e lhe inspirarem uma segurança bem maior no quesito lealdade política.
Tanto João Coser quanto Dary Pagung ou Tyago Hoffmann seriam presidentes absolutamente confiáveis para o governador. Vou frisar: não apenas “confiáveis”, mas “absolutamente confiáveis”, sem nenhum “senão” ou “porém”, expectativa que, no Palácio Anchieta, não repousa nem sobre Vandinho nem sobre Marcelo.
Coser é aliado histórico de Casagrande, tem fama de cumpridor de acordos e, no ano passado, sempre defendeu o apoio do PT à reeleição do governador em vez do lançamento de Contarato. Para Casagrande, o petista na presidência seria um escudo anti-sustos e sobressaltos.
Dary não só é filiado ao PSB como é o líder do governo no plenário e conhecido por sua fidelidade canina a Casagrande.
Tyago não só é do PSB como acompanha Casagrande desde o seu primeiro governo (2011-2014) e foi um dos homens fortes da administração passada (2019-2022). Tem canal direto com o governador, é um de seus conselheiros políticos e foi o principal coordenador da campanha dele no 2º turno em outubro passado.
Mas, por motivos diversos, nenhum dos três vingou. E a eleição ficou afunilada entre Marcelo e Vandinho. Podendo escolher entre os dois (e somente entre os dois), Casagrande fez a opção que, convenhamos, era a mais natural… o que nos leva ao ponto seguinte.
> Vandinho Leite: “Casagrande foi truculento e desrespeitoso”
6. Porque Marcelo é o “menos desconfiável” (para Casagrande)
Muito bem, não podendo emplacar nem Coser nem Dary nem Tyago, o governador se viu diante da escolha entre Marcelo e Vandinho. Segundo a coluna apurou, falando a interlocutores, ele teria confidenciado na última segunda-feira (23) que sua escolha foi “dificílima”. Ok.
Mas, levando em conta exclusivamente o critério “confiabilidade” – e tendo de escolher, nesse caso, não o “absolutamente confiável”, mas o menos “desconfiável” –, alguém tinha mesmo alguma dúvida de que o governador preferiria apoiar Marcelo a Vandinho, como efetivamente fez, se comparado o histórico de ambos na relação com o governo nos últimos quatro anos? O contrário, sim, teria causado imensa surpresa.
Não que Marcelo, repito, inspire 100% de segurança nos corredores do Palácio Anchieta. Ali, muitos confiam nele com um pé e meio atrás e os dois olhos bem abertos, cientes de que, se o mais ingênuo deputado estadual conserta um relógio no escuro, Marcelo não só conserta como fabrica o relógio (e suíço).
O decano da Assembleia tem a astúcia de uma raposa política, uma das mais longevas em atividade no Estado. Graças a ela, sobreviveu por todos estes anos, estando prestes a inaugurar o seu sexto mandato seguido na Casa.
Está viva, por exemplo, a lembrança de que foi ele, Marcelo, na condição de vice-presidente, quem conduziu a fatídica sessão do dia 27 de novembro de 2019, na qual Erick Musso antecipou a própria reeleição para a presidência, pegando o governo de calças curtas (dias depois, em entrevista a mim em A Gazeta, Marcelo tratou de se eximir de responsabilidade, frisando que fez de tudo para tentar em vão dissuadir um Erick surdo a qualquer argumento).
Por outro lado, ao longo do governo passado, Marcelo deu inúmeras provas de lealdade ao governo Casagrande. Na Assembleia, mais que aliado, foi um parceiro do Palácio Anchieta.
Conduzindo diversas sessões no lugar de Erick, o ainda vice-presidente ajudou o governo a aprovar matérias importantes – não raro passando o trator sem pejo por cima do plenário.
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No mandato passado, o governo teve três líderes (Enivaldo dos Anjos, Freitas e Dary, nessa ordem). Mas não raro Marcelo também agiu como um líder informal em plenário, pondo sua capacidade de articulação a serviço do governo.
Emblemático foi o episódio em que, presidindo a sessão, Marcelo a deu subitamente por encerrada (para evitar desgaste maior ao Executivo em uma discussão delicada), enquanto Freitas, então líder do governo, seguiu falando sozinho ao microfone e foi tirar satisfações com ele.
“Sim, ele tem nos ajudado. E nós agora estamos ajudando ele”, afirma um auxiliar do governador.
Essa parceria, a bem da verdade, remonta ao primeiro mandato de Casagrande (2011-2014), no qual Marcelo também foi um aliado constante em plenário. Até pelo seu perfil – sempre com a situação, jamais na oposição –, Marcelo sempre foi um aliado estável para Casagrande (assim como o foi para Paulo Hartung).
No caso de Vandinho, não se pode dizer o mesmo.
“Quando se coloca Vandinho e Marcelo, ninguém tem dúvida: se tenho que confiar em um dos dois, não será Vandinho”, diz o mesmo auxiliar.
Aqui cabe frisar um adjetivo usado por Casagrande ao enumerar os critérios que o levaram a escolher Marcelo: “[Ele] tem um histórico de aliança comigo. Vandinho também tem, mas Marcelo tem um tempo maior de relação estável de aliança comigo”.
“Tempo maior de relação estável”.
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Sim, é bem verdade que, após ter perdido em 1º turno a eleição a prefeito da Serra em 2020, na metade do governo passado, Vandinho fez um recuo tático e passou a integrar a base de Casagrande.
É bem verdade que, daí em diante, tornou-se um aliado constante, como é verdade que, na presidência estadual do PSDB, deu alta cota de contribuição pessoal para a reeleição de Casagrande no ano passado.
Não só porque, durante a duríssima campanha contra Manato (PL), botou seu bloco na rua nos dois turnos, mas porque antes disso, na decisiva fase de pré-campanha, foi fiador do ingresso do PSDB na coligação de Casagrande, com Ricardo Ferraço como candidato a vice. Para isso, barrou as aspirações de César Colnago em se lançar ao Palácio Anchieta. Isso conta a favor dele, é claro.
Por outro lado, está ainda muito fresco na memória de casagrandistas o comportamento de Vandinho nos dois primeiros anos do mandato passado. Do início de 2019 ao fim de 2020, o tucano foi, ao lado de Pazolini e Capitão Assumção, seguramente a maior pedra no sapato do governador. Eram constantes os petardos disparados por ele da tribuna.
Para citar um episódio marcante, no dia 12 de junho de 2020, Vandinho participou, ao lado de outros cinco deputados de oposição, da polêmica aparição surpresa no Hospital Dório Silva, então exclusivo para pacientes Covid-19, tratada pelos próprios deputados como “visita técnica”, mas pelo governo Casagrande desde o início como invasão pura e simples, no auge da pandemia.
“Culminou com aquilo. Mas foram dois anos de pau. Ele puxava o bonde da oposição. Depois da eleição municipal, se redimiu”, lembra um colaborador de Casagrande. “No nível de credibilidade, quando se faz a comparação, Marcelo acaba tendo prioridade”, arremata.
Na próxima coluna: os outros quatro motivos não ditos por Casagrande para apoiar Marcelo.
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