Empresa de ex-deputada entra na mira de operação da PF

secretária de desenvolvimento econômico de Cariacica, Lúcia Helena Dornellas

O vice-prefeito da Serra, Thiago Carreiro (União Brasil), é o principal alvo da Operação Freeloader, deflagrada nesta quinta-feira (8) pela Polícia Federal, a partir de autorização da 26ª Zona Eleitoral da Serra. Pré-candidato a vereador, Carreiro é suspeito de ter desviado recursos do Fundo Eleitoral, praticado fraudes e lavado o dinheiro desviado quando concorreu a deputado federal, na eleição passada, em 2022. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos contra oito investigados, inclusive na residência e no gabinete de Carreiro na Prefeitura da Serra.

Uma das suspeitas que pesam contra o vice-prefeito é a de que ele teria contratado e transferido a quantia de R$ 225 mil para uma empresa de marketing eleitoral que não teria efetivamente prestado serviços à campanha.

Essa empresa pertence à ex-deputada estadual Lúcia Dornellas.

A Justiça Eleitoral autorizou o cumprimento de mandados de busca e apreensão também na residência dela em Cariacica, na sede da sua empresa e no gabinete que ela ocupava como secretária de Desenvolvimento Econômico e Inovação de Cariacica. Lúcia também é investigada na operação. Em nota enviada à coluna, ela nega todas as suspeitas e se diz confiante na Justiça.

Na página oficial do TSE, é possível verificar que, em sua prestação de contas da campanha a deputado federal em 2022, Thiago Carreiro declarou ter pago exatamente a soma total de R$ 225 mil, em duas transferências, à empresa da ex-deputada (Lúcia Helena Dornellas – LD Consultoria em Gestão), por serviços de “mentoria digital e elaboração de estratégia”, “assessoria e consultoria política”. Foi o maior gasto declarado pela campanha.

Lúcia foi deputada estadual pelo PT e candidata a prefeita de Cariacica, seu reduto, pelo mesmo partido, em 2012. Poucos anos depois, decidiu parar de disputar mandatos eletivos, mas não saiu da política, abrindo uma empresa de consultoria. No pleito municipal de 2020, a empresa dela foi contratada pelo então deputado estadual Euclério Sampaio, candidato a prefeito de Cariacica vitorioso naquele pleito. O fato ganhou grande repercussão, já que a adversária de Euclério no 2º turno foi Célia Tavares, do partido de Lúcia.

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Logo depois do pleito, a ex-deputada se desfiliou do PT. Na administração de Euclério, tornou-se secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação. No começo de junho deste ano, desligou-se do cargo para poder se dedicar à campanha à reeleição do prefeito de Cariacica. Ela é a coordenadora da campanha de Euclério.

Voltando à Serra e à Operação Freeloader, a coluna teve acesso ao documento que embasou a fase externa da operação, cumprida nesta quinta-feira pela Polícia Federal: o pedido de busca e apreensão criminal em face dos investigados, totalizando oito pessoas (entre elas, Carreiro e Lúcia Dornellas), além da campanha de Carreiro e da empresa de Lúcia.

O processo tramita em sigilo. O requerimento foi apresentado, no âmbito do inquérito policial, pela Polícia Federal ao juízo da 26ª Zona Eleitoral da Serra, que autorizou o cumprimento dos mandados. A decisão da juíza Cristina Eller Pimenta Bernardo é datada de 17 de junho.

No inquérito policial, assim como o vice-prefeito da Serra e outras seis pessoas, Lúcia é citada no rol de suspeitos de terem praticado os crimes de falsidade ideológica, apropriação de valores destinados ao financiamento público de campanha eleitoral e lavagem de capitais.

Além de contratações irregulares, a investigação da Polícia Federal verificou possível fraude no pagamento de R$ 225 mil à empresa de Lúcia, “a pretexto de contratação de serviço de marketing eleitoral”.

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A partir das suspeitas de fraude, a Polícia Federal acionou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que emitiu um Relatório de Inteligência Financeira. No documento, o órgão averiguou que a ex-deputada investigada “possivelmente contou com a participação” de outros dois investigados e de cinco outras empresas “para ocultar a origem e legalizar os valores desviados” (lavagem de dinheiro).

Diante de tais suspeitas, a Polícia Federal requereu a autorização judicial de busca e apreensão domiciliar, concedida pela juíza, “a fim de apreender instrumentos e objetos que tiverem relação com os fatos e colher provas que sirvam ao esclarecimento dos fatos e suas circunstâncias”.

A juíza também deferiu a quebra do sigilo dos dados contidos em aparelhos eletrônicos apreendidos. A magistrada ainda autorizou o compartilhamento das provas porventura obtidas na Operação Freeloader com outra investigação em curso, a qual tramita perante a 54ª Zona Eleitoral de Cariacica.

A manifestação de Lúcia

Entramos em contato com Lúcia Dornellas e com a defesa da ex-deputada, que emitiram a seguinte nota:

“A empresa de marketing de Lúcia Dornellas prestou serviço para a referida campanha eleitoral, com emissão de nota fiscal e todas as formalidades necessárias – à luz da Justiça Eleitoral e da Receita Federal. A profissional possui uma longa trajetória, como deputada, presidente de autarquia e empresária do ramo de comunicação – colhendo, em todos os esses anos, respeito, lisura e bom trato com a coisa pública. Lúcia segue confiante na Justiça e sua assessoria jurídica esclarecerá os fatos em momento oportuno.”

Campanha cara

A campanha de Carreiro a deputado federal em 2022 pode ser considerada custosa. Seu gasto total declarado superou R$ 1,8 milhão. O vice-prefeito da Serra recebeu pouco mais de 13 mil votos para deputado federal e passou longe de conseguir uma vaga na Câmara dos Deputados. Seu partido, o União Brasil, não elegeu nenhum deputado federal pelo Espírito Santo.

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