Dinheiro
Taxista tem novo perfil de cliente e descarta rixa com motoristas de apps
Quase cinco anos após a chegada da Uber no Espírito Santo, 2.107 táxis permanecem ativos na Grande Vitória

Robinho, como é conhecido, é motorista de táxi em Vila Velha. Foto: Daniela Künsch
Não faz muito tempo desde a chegada de aplicativos como a Uber no Espírito Santo, mas a lembrança de como se conseguia uma corrida já parece algo muito distante. Até setembro de 2016, o serviço era oferecido apenas pelos taxistas em seus pontos ou telefones. Entre os mais jovens, a tecnologia ganhou forças. Mas um público ainda permanece fiel ao táxi, os idosos.
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Robson de Paula Gomes, 50, é taxista há 25 anos em Vila Velha. Quando ingressou na profissão, trabalhava como defensor, motorista que dirige e divide seus lucros com os permissionários, donos das placas de táxis. Assim ele permaneceu por cinco anos, até receber como doação a permissão de um amigo que deixou o ofício.
Robinho, como ficou conhecido, conta que muita coisa mudou desde que iniciou a carreira, inclusive o retorno financeiro. “Teve uma época que fazíamos cerca de 50 corridas por dia. Hoje, fazemos no máximo 20, quando há movimento. Em dias normais, esse número não chega a 15. Por esse motivo, o taxista precisou mudar sua forma de trabalho e muitas vezes aborda os passageiros na rua. Hoje, nós precisamos deles. Antigamente era o contrário”.
Mas a situação poderia ser pior. Graças à confiança que conquistou durante seus 25 anos de profissão, talvez por falta de intimidade com os aplicativos, o idosos se mantiveram fieis ao seu trabalho. “Quem, assim como eu, construiu amizades no passado e adquiriu credibilidade, vai sobrevivendo. Pessoas que um dia dei muito carinho, hoje não me abandonam. Tenho esses idosos como meus pais”, disse.
Taxista descarta rixa com motoristas de aplicativos
No início das operações da Uber na Grande Vitória, taxistas realizaram muitos protestos contra o serviço. A rixa existia, principalmente, pelo fato de que ambos os profissionais ofereciam o mesmo serviço. Os taxistas, no entanto, eram obrigados a seguir uma série de regras impostas pelos municípios, além dos gastos extras com impostos e aferição regular dos taxímetros.
Mas esse cenário de tensão mudou e muitos taxistas, hoje, são motoristas de aplicativos. Segundo o presidente do Sindicato Profissional dos Motoristas de Táxi no Estado do Espírito Santo (Sindtavi-ES), João Vailati Fidencio, isso ocorre em virtude das facilidades que a nova profissão oferece. “No passado era proibido prestar esse tipo de serviço remunerado em carros particulares. Mas a partir do momento que não existe mais burocracia, quem vai querer encarar todas as obrigações da nossa categoria? Muitos taxistas migraram e continuarão migrando”.
Para Robson, a debandada ocorreu principalmente entre os antigos defensores que deixaram de depender do vínculo junto aos permissionários. “As pessoas precisam se reinventar. Por isso, quando encontramos um antigo colega na rua dirigindo pelo aplicativo, ficamos felizes pela sua conquista”.
E é com essa mesma empolgação ao ser questionado pela reportagem se gostaria de divulgar algum contato para clientes interessados que Robinho deu uma aula de empatia e respeito ao próximo. “Não é me procurar não, é procurar todos os colegas taxistas da Grande Vitória e também os motoristas de aplicativos. As pessoas têm que trabalhar, todos têm que comer”.
Bicos para complementar a fonte de renda
Apaixonado por futebol, Robinho divide, desde os anos 90, seu tempo entre os táxis com os campos e quadras de futebol. Árbitro profissional, ele atuou como bandeirinha do futebol no Espírito Santo até 2010, quando interrompeu as atividades. Dois anos antes, no entanto, teve a oportunidade de trabalhar em uma Copa do Brasil Sub-17, e conheceu de perto dois atletas promissores que decolaram em suas carreiras: Neymar e Philippe Coutinho.
O taxista lembra com carinho da sua segunda ocupação que hoje se transformou em uma fonte de renda extra. “Nas horas vagas, sábados, domingos e feriados ainda trabalho em um jogo ou outro do futebol amador. O dinheiro não é muito, mas ajuda a complementar a renda e manter acesa a paixão pelo esporte”.
