
A partir de agosto, haverá aumento de etanol na gasolina de 27% para 30%. Foto: Freepik
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou o aumento da mistura obrigatória de etanol na gasolina de 27% para 30%, chamado de E30, e do biodiesel no diesel de 14% para 15%, o B15. A medida começa a valer no dia 1º de agosto e tem como objetivo reduzir custos e aumentar a autossuficiência do país em combustíveis.
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Apesar dos benefícios econômicos e ambientais, a mudança gera preocupação, principalmente entre donos de veículos fabricados antes dos anos 1990, que não são flex, ou seja, não foram projetados para rodar tanto com gasolina quanto com etanol.
O presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, Edson Orikassa, alerta que carros antigos podem sofrer danos em componentes como mangueiras de borracha, plásticos e até metais, que tendem a oxidar com o etanol. “Nos últimos anos, houve uma grande evolução nesses materiais, mas alguns veículos antigos podem não ter proteção contra esse desgaste”, afirmou. A recomendação, nesses casos, é usar gasolina premium, que não terá alteração na quantidade de álcool, mas custa mais caro — cerca de R$ 4 o litro.
O professor de engenharia automotiva da Universidade de Brasília (UnB), Alessandro Oliveira, explica que tanto os carros com carburador quanto os primeiros modelos com injeção eletrônica podem sentir os impactos da nova proporção de etanol. “É uma frota já bastante reduzida, mas esses veículos podem sofrer mais, inclusive no aumento do consumo de combustível”, destacou.
Outro grupo que merece atenção são os carros importados com motor exclusivamente a gasolina. Segundo Oliveira, a maioria dos veículos modernos consegue se adaptar, mas ainda não há estudos conclusivos sobre o efeito do E30 na durabilidade desses motores. “É sempre uma dúvida. Alguns modelos já apresentam problemas mesmo com a gasolina que tem 25% de etanol”, comentou. Nesses casos, o professor também recomenda a gasolina premium.
Para os veículos flex, que representaram 88% dos carros novos licenciados no ano passado, a mudança não gera preocupação. “O carro flex já é preparado para isso. Inclusive, pode rodar 100% com álcool sem problema”, garantiu Orikassa. Segundo Oliveira, o motorista pode notar um leve aumento no consumo, mas será pouco significativo. “Às vezes, até uma mudança na temperatura ou na umidade do dia já altera o consumo”, explicou.
Ao anunciar a medida, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, informou que os testes de durabilidade para carros movidos apenas a gasolina ainda estão em andamento e devem ser concluídos até o fim do mês. “Por isso, defendemos que a gasolina premium permanecesse sem alteração na fórmula, garantindo uma opção segura para quem tem veículo a gasolina”, afirmou.
A nova mistura, válida a partir de 16 de março, será aplicada tanto na gasolina comum quanto na aditivada. O Ministério de Minas e Energia informou que os testes feitos pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes) não identificaram problemas técnicos com o aumento do etanol nos veículos em circulação.