Dinheiro
Empresas recorrem à recuperação judicial para escapar da falência
Alta dos juros pressiona empresas e deve gerar novo recorde de pedidos de recuperação judicial em 2025, segundo a Serasa Experian

Recuperação judicial. Foto: Freepik
Com juros elevados e dificuldade de acesso ao crédito, empresas brasileiras enfrentam um cenário de forte inadimplência e recorrem cada vez mais à recuperação judicial para evitar a falência. Segundo dados da FecomercioSP, cerca de 7,2 milhões de empresas estão inadimplentes no país, o que representa 31,6% dos negócios ativos.
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A Serasa Experian projeta que o número de pedidos de recuperação judicial em 2025 supere os 2.273 casos registrados em 2024, estabelecendo um novo recorde. Já em 2025, grandes empresas como a Bombril, a FMU, subsidiárias da Oi e até o clube de futebol Vasco da Gama recorreram ao mecanismo.
Planejamento financeiro insuficiente agrava cenário
Para o advogado Luciano Pavan, presidente da Comissão de Falências da OAB Nacional, um dos principais problemas é o despreparo do empresário na hora de calcular o custo dos financiamentos. “O empresário, quando faz o cálculo para saber se aqueles juros cabem no seu bolso, na maioria das vezes só leva em consideração os juros nominais, não fazendo conta dos juros efetivos que também são destacados no contrato”, explica.
Além disso, segundo ele, muitos recorrem a empréstimos sem planejamento, considerando apenas a margem de lucro imediata. “O empresário em dificuldade financeira só pensa em sair daquela situação e acaba se endividando sem qualquer planejamento. E aí é que reside o perigo, que acaba tendo como solução a ação de recuperação judicial”, afirma.
Recuperação judicial não significa falência
Luciano ressalta que o pedido de recuperação judicial não é um indicativo de falência, mas sim uma tentativa legal de manter a empresa ativa. “Ela é a solução para que a empresa não venha a falir e um chamamento da coletividade credora para uma renegociação”, diz. A proposta precisa estar amparada por um planejamento contábil sólido que demonstre a incapacidade de seguir operando diante das cobranças atuais.
Nesse processo, um administrador judicial nomeado por um magistrado acompanha a renegociação entre empresa e credores. O objetivo é viabilizar o soerguimento da empresa e evitar sua quebra.
Vantagens da recuperação judicial
Entre os principais benefícios da recuperação judicial estão a possibilidade de alongar o prazo para quitação de dívidas vencidas, inclusive por mais de dez anos, além da repactuação de juros, que em muitos casos podem ser reduzidos ou até zerados.
Luciano defende que propor a recuperação judicial pode ser um sinal de responsabilidade e boa fé. “O empresário sábio é aquele que quer honrar seus pagamentos. A boa fé sempre precede a vitória. Propor uma ação de recuperação judicial sempre deve ser vista como uma demonstração de boa fé do empresário endividado”, avalia.
Ele conclui dizendo que, quando bem conduzido, o processo pode representar a melhor saída. “No tempo certo, é o melhor remédio.”
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