Dia a dia
Podas irregulares colocam em risco árvores de Vitória, alerta bióloga
Especialista aponta cortes que matam árvores, plantio de espécies inadequadas e pede mudanças urgentes na política de arborização da capital

Exemplos de podas em Vitória que deixam árvores comprometidas e levantam críticas de especialistas sobre a forma como são realizadas. Foto: Reprodução
Uma árvore centenária cortada de um dia para o outro, podas que deixam apenas o tronco e espécies anãs plantadas sem função ecológica. Esses são alguns dos problemas da arborização de Vitória que vieram à tona em debate no Parlamento nesta segunda-feira (1º).
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A bióloga Marina Mello Allemand Damião apresentou imagens de podas consideradas irregulares. Ela alertou que a árvore é um ser vivo. E que em determinadas podas que vêm sendo feitas, elas podem vir a morrer.
Espécies inadequadas e falta de sombra
Segundo Marina, o plantio de espécies erradas compromete o papel das árvores no ambiente urbano. “Essas árvores não fornecem sombra, não têm copas, não ajudam com a limpeza do ar”, afirmou.
Ela destacou ainda o uso de árvores-anãs, implantadas para evitar conflitos com a fiação elétrica. Apontadas como solução para não atrapalhar os fios, elas não substituem a medida ideal, que seria o enterramento da rede.
Benefícios ignorados
A bióloga lembrou que a arborização é tão necessária quanto o saneamento básico. Entre os benefícios, citou a redução do calor, a melhora na qualidade do ar, o controle de mudanças climáticas e a contribuição para a saúde mental da população. “Precisamos de árvores de tronco duro, raízes profundas e copas altas”, resumiu.
Críticas e projetos no Parlamento
O tema também mobilizou vereadores. Maurício Leite (PRD) apontou que em Jardim Camburi há espécies que danificam calçadas. Já Bruno Malias (PSB) criticou a falta de planejamento na execução dos contratos. “O contrato de poda é um dos mais caros, mas vemos árvores caindo e dificuldade de manejo pelas equipes”, afirmou.
Malias lembrou do Projeto de Lei 54/2025, que exige capacitação técnica das empresas contratadas para podas.
O presidente da Câmara, Anderson Goggi (PP), lamentou a derrubada de uma árvore centenária no Hucam. “A gente passa um dia, tem uma árvore, e no dia seguinte, a árvore não está mais lá”, declarou.
Cultura do corte
Para Luiz Emanuel (Republicanos), o problema também é cultural. “A cada dez pedidos que eu recebia quando estava como secretário, nove eram para retirar e não para plantar a árvore. Concordo que essas podas estão sendo feitas de maneira errada.”
Ele afirmou que pretende convidar o biólogo Renato de Jesus para desenvolver um projeto paisagístico para Vitória.
Prefeitura cita plano diretor e 6 mil podas
Em nota, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam) informou que o monitoramento e o manejo da arborização seguem o decreto 17.699/2019, que instituiu o Plano Diretor de Arborização e Áreas Verdes.
Segundo a pasta, mais de 6 mil podas foram realizadas no primeiro semestre de 2025 em todas as regiões da cidade. As intervenções seguem diretrizes técnicas previstas em normas e na lei municipal nº 8.696/2014, que regulamenta o uso e a gestão da arborização urbana e áreas verdes públicas.
A secretaria ressaltou que qualquer cidadão pode solicitar serviços de plantio, poda, retirada de árvores ou paisagismo por meio do Fala Vitória 156.
Mudar a lógica da poda
Encerrando o debate, Marina defendeu uma mudança de postura. “A poda de árvores é o último passo. Precisamos trocar a poda pelo cuidado. Uma árvore aqui e outra lá não é um projeto de arborização”, destacou.
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