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Dia a dia

ONG e moradores cobram ações para reduzir pó preto em Vitória 

O MPF e o MPES também já notificaram o Iema para resolver o problema

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Pó preto invade casas de moradores na Grande Vitória. Foto: Divulgação (ONG SOS Espírito Santo)

Não são apenas os Ministério Público Estadual e Federal que estão cobrando providências para reduzir a quantidade de emissão de pó preto na Grande Vitória. A ONG Juntos SOS Espírito Santo Ambiental e associações de moradores também estão na luta para encontrar soluções para resolver o problema que tem feito parte da rotina de quem vive na Região Metropolitana. 

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Na semana passada, o MPF-ES e o MPES notificaram o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema-ES) para que melhore o processo de monitoramento do ar e que a sociedade tenha respostas mais rápidas sobre o controle da poluição.

O presidente da ONG SOS Espírito Santo Ambiental, Eraylton Moreschi, explicou que os números de monitoramento divulgados pelo Iema não condizem com a realidade enfrentada pelos moradores.

“Os números sempre foram altos. O monitoramento do pó preto em julho de 2022 mudou indicando números não críveis com a poluição que chega nas nossas residências. Está na hora do Iema e Ministérios Públicos sentarem novamente e discutir estratégias para um novo programa através de termos de ajustes de conduta para combater a poluição do pó preto na nossa região”, afirmou.

Moreschi informou que na quarta-feira (29) vai participar da reunião da Comissão de Meio Ambiente na Assembleia e vai apresentar uma série de cobranças às autoridades. Entre elas, novos Termos de Ajustamentos de Conduta (TACs) com as empresas ArcelorMittal e VALE, em especial para tratar das emissões das fontes pontuais de materiais particulados e gases e realização de novos estudos com o Núcleo de Qualidade do Ar da UFES para identificar a origens e quantidade de partículas emitidas no ar.

“Os números apresentados são questionáveis, provavelmente teve algum problema na metodologia. Talvez faltou uma supervisão ou auditoria no Iema. Todos os números apresentados em 2023 não condizem com a realidade do morador da Grande Vitória”.

Riscos à saúde

A exposição à poluição do ar tem um efeito adverso à saúde humana, sendo uma das mais importantes causas de óbitos prematuros em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Neste contexto, o livro Material Particulado na atmosfera urbana e suas interações com a saúde humana traz importantes informações para os especialistas nessa área e a todos os interessados em entender melhor o que vem a ser a poluição do ar com suas fontes e processos atmosféricos e como a população é afetada por respirar um ar com a presença de compostos com concentrações acima dos níveis recomendados como seguros. Clique aqui para ter acesso à publicação.

Moradores

A Ilha do Frade é um dos bairros mais atingidos pelo emissão do pó preto porque está localizada na reta onde os navios são carregados no porto de Tubarão. A presidente da Associação de Moradores do bairro, Talita Rebouças, reconheceu que os investimentos prometidos pelas empresas estão sendo feitos, mas, segundo ela, o problema continua.

“Os números são bonitos, mas o que a gente sente na Ilha do Frade é muito pó de minério. O monitoramento deles informa uma queda brusca na emissão, mas o que a gente não sente, principalmente nesse período de novembro até março por conta do vento nordeste. Estamos na rede onde os navios são carregados. Por mais que ocorra a redução nunca vamos zerar esse pó de minério aqui”, afirmou.

O aumento do pó preto também foi observado pela Associação Comunitária dos Moradores de Jardim da Penha e Pontal de Camburi (Acojap). Segundo o presidente da associação, Felipe Cirilo, houve um crescimento das reclamações referentes ao pó preto nos últimos meses.

“Temos percebido um aumento nos últimos meses, porém, inferior a anos anteriores. A associação busca sempre o diálogo com os poderes públicos construídos para solicitar melhorias na vida dos moradores do bairros de sua representação. Particularmente sobre a questão do pó preto, temos acompanhado a execução do termo de compromisso ambiental assinado pela Vale, MPF, MPES, Governo do Estado e prefeitura de Vitória. O TCA determina que ao longo do tempo as empresas da Ponta de Tubarão deverão adotar medidas para redução de sua contribuição na poluição do ar de Vitória”, afirmou. 

O que diz a ArcelorMittal:

A ArcelorMittal Tubarão informa que está investindo, até o final desse ano, R$ 1,87 bilhão na melhoria dos seus processos ambientais. Dentre os projetos já finalizados estão a instalação de Wind Fences (barreiras de proteção) em vários pátios; novas coberturas nas correias transportadoras de matérias-primas; um novo sistema de despoeiramento no Pátio de Beneficiamento de Coprodutos e uma nova quarta bateria na Coqueria*, dentre outras melhorias e tecnologias. Algumas dessas ações estão contempladas em termo de compromisso firmado com o Poder Público e outras foram identificadas proativamente.

*Local onde o Coque é produzido. O coque é um carvão especial que é feito em um forno muito quente e sem contato com o ar. Ele é usado para ajudar a fazer aço. É como um ingrediente especial que ajuda a fazer o aço ficar forte e resistente.

O que diz a Vale:

A Vale tem investido continuamente para aprimorar seus controles ambientais, conforme compromisso assumido com a sociedade e com os órgãos públicos. A empresa está implantando seu Plano Diretor Ambiental, que conta com diversas ações para reduzir ao máximo a emissão de poeira e aprimorar a gestão hídrica na Unidade Tubarão, em Vitória. As ações implantadas reduziram em cerca de 85% as emissões difusas de poeira emitidas pela empresa em relação a 2010 e a previsão é alcançar aproximadamente 93% de redução. São mais de 160 projetos, entre implantação de novos equipamentos, melhorias em controles ambientais hídricos e atmosféricos e estudos de novas tecnologias . 

Em 2022, por exemplo, concluímos mais uma obra prevista no PDA para reduzir a emissão de poeira na Unidade Tubarão. Trata-se do fechamento do pátio de estocagem temporária de pelotas da Usina 8. Na mesma usina, o pátio de insumos, com 8 mil m² de área, já havia sido fechado em 2019.

Importante esclarecer, também, que a poeira sedimentável, popularmente conhecida como “pó preto”, é composta por diferentes elementos provenientes de diversas fontes, como veiculares, construção civil e industriais, conforme Inventário de Fontes do Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema).

O que diz o Iema:

A medição da poeira sedimentável, popularmente conhecida como pó preto, é realizada desde 2009, por meio da Rede Manual de Monitoramento de Poeira Sedimentável (RMPS), único método certificado atualmente, seguindo a norma americana ASTM D1739-98.

São 12 estações espalhadas pela Grande Vitória. Cada ponto de monitoramento representa a qualidade do ar em determinada região, estando diretamente influenciado por fontes diversas de emissões, como trânsito, atividade industrial ou a realização de obras nas proximidades.

A medição da poeira sedimentável é feita com jarros de coleta, que ficam expostos por 30 dias e, após isso, são levados a um laboratório para quantificação do material acumulado. Considerando as diversas etapas envolvidas no processo, o resultado final das análises é conhecido, em média, após 30 dias da coleta dos recipientes.

Os dados da medição da poeira sedimentável são mensais e podem ser acompanhados no site do Iema.

O Iema está em fase piloto, desde julho de 2022, de uma rede de monitoramento automática de poeira sedimentável, com uma tecnologia inédita no Brasil. Após períodos de testes e avaliação de viabilidade e confiabilidade dos dados, será tomada decisão do seu uso permanente e possível ampliação.