Dia a dia
Na CPI, advogada liga Prevent e ‘gabinete paralelo’ ao Ministério da Economia
Segundo Bruna Morato, havia um “interesse” do ministério em não parar o País em razão do isolamento e, portanto, em promover uma forma de a população sair as ruas sem medo
Durante depoimento à CPI da Covid, Bruna Morado, advogada de médicos que trabalharam na Prevent Senior, apontou para um suposto alinhamento entre o Ministério da Economia e o grupo que assessorou o governo na política de incentivo ao uso da hidroxicloroquina durante a pandemia. Segundo ela, havia um “interesse” da pasta em não parar o país em razão do isolamento e, portanto, em promover uma forma de a população sair as ruas sem medo. “E essa esperança tinha nome: hidroxicloroquina”, afirmou a advogada.
A advogada passou aos senadores informações relatadas a elas por médicos que trabalharam na Prevent Senior. Segundo ela, existiria uma colaboração com relação a empresa na produção de informações que convergissem com a teoria de que a cloroquina poderia proteger a população da covid. “No começo se chamava tratamento preventivo, e depois se entendeu como tratamento precoce”, disse.
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Ela afirmou que havia um conjunto de médicos assessorando o governo federal sobre o enfrentamento à pandemia, sendo que esse grupo estaria “totalmente alinhado ao Ministério da Economia”. A advogada observou, por sua vez, que, a partir das informações que recebeu, não ouviu falar no nome do ministro da Economia, Paulo Guedes. “O que eles falavam era um alinhamento ideológico. A economia não podia parar e o que eles tinham que fazer era isso, conceder esperança para que as pessoas saíssem às ruas”, disse a advogada.
Nesse grupo de aconselhamento estavam Anthony Wong, morto em janeiro de 2021, Nise Yamaguchi e Paulo Zanotto, afirmou Bruna Morato. “Esses médicos posso citar de forma nominal: dr. Anthony Wong, toxicologista, responsável por desenvolver um conjunto medicamentoso atóxico, a dra Nise Yamaguchi, especialista em imunologia, a qual deveria disseminar informações a respeito da resposta imunológica das pessoas, o virologista Paolo Zanotto, para que ele falasse a respeito do vírus e tratasse a respeito dessa situação de forma mais abrangente, evocando notícias. E a Prevent Senior iria entrar para colaborar com essas pessoas”, relatou.
Ao ouvir os nomes, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou se tratar do “gabinete paralelo” já investigado pela comissão. O fato novo, para o senador, seria o suposto envolvimento do Ministério da Economia no episódio.
Escritório invadido
A advogada Bruna Morato também afirmou à CPI que seu escritório foi invadido, após a veiculação de reportagem sobre supostas irregularidades da operadora de saúde. Segundo ela, o caso foi registrado na Polícia Civil de São Paulo. Ela declarou que os bandidos estavam muito bem vestidos e levaram um iPad e um computador dela.
À comissão do Senado, a advogada afirmou que o grupo não roubou o dossiê dos médicos e as provas, pois “isso nunca esteve lá”. Bruna Morato afirmou que a ação gerou intimidação. “Não posso afirmar qualquer relação com a empresa ou algo assim, mas aconteceu. E desde então eu tenho me sentido ameaçada”, disse.
Cobaias
A advogada de médicos que trabalharam na Prevent Senior afirmou à CPI da Covid que pacientes idosos da operadora de saúde não eram alertados de forma detalhada sobre os riscos do uso de medicamentos do chamado “kit covid” e que, portanto, mesmo assinando o consentimento, não sabiam que seriam “feitos de cobaia”.
“O paciente idoso é extremamente vulnerável. Na consulta por telemedicina, médico falava que tinha tratamento bom. Se quiser participar desse tratamento precisava dar ok, eles falavam ok, mas eles são parte de população vulnerável, eles não sabiam que iam ser feitos de cobaia”, disse Morato.
Segundo ela, os pacientes eram orientados a tomar o “kit covid” no segundo dia de sintomas, o que era chamado de “golden day”. “Tinham que tomar o kit e supostamente estariam salvas de qualquer complicação”, relatou a advogada.
Conjunto de provas
Após ser confrontada pelo senador governista Marcos Rogério (DEM-RO), Bruna Morato afirmou que não estaria depondo à CPI da Covid se não houvesse um conjunto de provas que corroboram os relatos de seus clientes.
“Se o senhor desconhece as prerrogativas, eu sinto muito, essa deselegância que o senhor tem ou outros tem na tentativa de desqualificar a denúncia só mostra que não tem qualquer condição técnica para tentar contestar os fatos”, disse ela após Marcos Rogério questionar sobre a condição em que Morato estaria depondo à CPI, se como testemunha ou advogada.
“O senhor desconhece as prerrogativas, estou aqui porque tenho direito de estar aqui, para defender os interesses do meus clientes. Se o senhor desconhece a função social do advogado, o senhor não deveria estar aqui me inquirindo”, rebateu a advogada
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