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Dia a dia

Mais de 5 mil mudas serão plantadas na Ilha do Frade

Entre as mudas, há bromélias, gravatás e pitangueiras e araçás além de outras que servem de alimento. A ação começa às 9h de segunda-feira

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Mais de 5 mil mudas de plantas nativas serão usadas no restabelecimento do equilíbrio ecológico na região da Ilha do Frade, em Vitória. Como parte do Projeto Restinga, na segunda-feira (15), serão plantadas as primeiras 200 mudas. A ação tem início marcado para às 9 horas, na Praia das Castanheiras.

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O Projeto Restinga ocorre desde abril de 2021 e tem como objetivo recuperar a vegetação nativa da região da Ilha do Frade. O projeto tem apoio financeiro da Vale e gestão técnica e fiscalizatória da Prefeitura Municipal de Vitória. Na prática, mais de 5 mil mudas serão plantadas em uma área de 13 mil metros quadrados, com o cercamento protetório de trechos das praias. Entre as mudas, há bromélias, gravatás e pitangueiras e araçás além de outras que servem de alimento, sendo necessária a remoção de árvores exóticas.

O secretário municipal de Meio Ambiente, Tarcísio Föeger, destaca que o projeto é fundamental para proteger a Baía das Tartarugas, uma Área de Proteção Ambiental (APA) rica em biodiversidade, e que o Projeto faz parte do Vixflora, programa de recuperação florestal da gestão Lorenzo Pazolini, que almeja plantar uma árvore por cada habitante da Capital. “As ações de recuperação da restinga em Camburi com a Vale, na Curva da Jurema com a Zurich Airports e na Ilha do Frade com a SAMIFRA fazem parte deste programa”, disse.

ALÉM DAS TARTARUGAS

“A APA Baía das Tartarugas é uma das maiores áreas de valorização ambiental que nós temos, com toda a dinâmica marinha que ela possui. Além da ocorrência das tartarugas, que dão nome à região, temos um mosaico de diferentes ambientes, incluindo a orla, a areia, costão rochoso, ilhas, a foz do Rio Camburi, tudo isso faz com que seja uma das maiores áreas de ocorrências de uma série de organismos importantes como peixes, tartarugas, golfinhos, aves e muitos outros”, afirma Tarcísio.

Para o secretário, recuperar essa faixa de cobertura vegetal nativa de restinga é fundamental para tornar o ambiente costeiro mais aprazível, com a vinda de animais nativos, fazendo a devida contenção da erosão eólica. Uma vez que a vegetação é abrigo para uma série de animais silvestres, principalmente aves que vivem nesse ambiente costeiro. Elas fazem seus ninhos nessa área de vegetação de restinga.

Ele destaca ainda a necessidade de remoção de espécies exóticas. “O nome exótico é dado para espécies vegetais que não são nativas dessa região. Foram inseridas na nossa orla e arborização urbana no decorrer dos anos, mas não têm uma função importante, como pinheiros e castanheiras. Não oferecem frutos para os animais, a sombra impede que a restinga se desenvolva e há todo um efeito negativo sobre edificações, com suas raízes, entre outros”.

O doutor em Recursos Naturais e gerente do Projeto Restinga, Vinícius Rocha, também considera fundamental restaurar a vegetação da região para proteger a biodiversidade da Ilha do Frade e da Baía das Tartarugas como um todo, e melhorar o local para visitação em prol da sociedade.

BIODIVERSIDADE E TURISMO

Segundo Vinícius, o Projeto Restinga vai aumentar e integrar as áreas de praias recuperadas a todo o ecossistema da APA (Área de Proteção Ambiental), com a grande biodiversidade terrestre e marinha, ampliando as possibilidades de turismo organizado a nível local, nacional e internacional, melhorando a infraestrutura das praias para sociedade e possibilitando a ampliação de uso para sustentar populações tradicionais principalmente.

“Temos pequenos fragmentos de restinga que serão aumentados pelo projeto e isso vai ajudar a melhorar o ambiente para permitir que aumente a diversidade de aves. Como símbolos da restinga, temos o sábia-da-praia e a coruja-buraqueira. Agora é comum vermos os anus-brancos e pretos, quero-quero, sabiá-barranco, lavadeira-mascarada, corruíra ou garrincha, suiriri, bem-ti-vi, canário-da-terra-verdadeiro, beija-flor-tesoura, garça-branca grande e pequena, garça azul”, acrescenta o gerente do projeto.

Já no caso de algumas árvores exóticas, nota-se que as raízes não se fixam bem no solo e regularmente são observadas quedas de árvores, que podem causar graves acidentes em pessoas na praia. Elas foram trazidas erroneamente do continente Australiano, não são do ambiente natural e causam diversos prejuízos. “Elas impedem o crescimento da vegetação natural e não podem ser usadas como alimentos para os pássaros, como o sabiá-da-praia e a coruja-buraqueira, assim como emitem substância alelopática de suas folhas ao chão, o que impede o retorno da vegetação original sombreada”, destaca Vinícius.

PRESERVAÇÃO DE ESPÉCIES

Essa iniciativa ambiental, segundo Vinícius, também vai preservar répteis e mamíferos, como morcego e sagui. E ainda, irá aumentar consideravelmente a área de restinga já existente na região, intensificando a barreira para as ressacas do mar e a erosão das praias que pode piorar a qualidade para uso.

Além do impacto em terra, o Projeto Restinga tem efeitos positivos também no ambiente marinho. Afinal, as fortes chuvas e a presença de uma vegetação inadequada causam o caimento do solo que, por consequência, sujam o mar e reduzem a qualidade da água costeira.

“A quantidade de espécies marinhas que ocupam tais áreas também é afetada, em casos de mudanças de sedimentos e cor da água”, complementam os técnicos do projeto.
Processo semelhante já foi realizado na Ilha do Boi e em Camburi, em Vitória, além de praias de outros municípios como Vila Velha, Guarapari, Serra, Aracruz e Linhares.

O gerente do Projeto Restinga ressalta a importância da colaboração entre as ONGs SAMIFRA e Instituto ECOMARIS, juntamente com a Prefeitura de Vitória e a Vale: “A gestão ambiental completa no Brasil e no Espírito Santo têm funcionado bem com esse tripé, onde participam ativamente a sociedade civil organizada em defesa dos direitos sociais, o setor público e a iniciativa privada. Essa experiência deve ser replicada em diversas outras comunidades”.

SUSTENTABILIDADE

Todo o conceito do Projeto Restinga nasceu a partir de um apelo da comunidade da Ilha do Frade, em projetos de escuta ativa e mapeamento participativo organizados pela SAMIFRA.

Segundo a presidente da associação, Talita Guimarães, o objetivo é implementar em Vitória o que, por vezes, a sociedade só vê em outros lugares.

“Queremos ser um exemplo de sustentabilidade, para que o projeto possa ser replicado em outros lugares, se adaptando às diferentes realidades”, espera. Talita ressalta ainda que projetos como esse só saem do papel e se tornam viáveis com a busca de parcerias.

“Por mais que o poder público tenha excelentes projetos, ele sozinho não conseguiria executar, seja por falta de recursos ou por razões burocráticas. Então fizemos parcerias. Agimos como articuladores entre todos os atores envolvidos no projeto”, conta a presidente da associação.

DIA MUNDIAL DA LIMPEZA

O Restinga não é o primeiro processo de sensibilização ambiental junto aos moradores e frequentadores da Ilha. Entre eles há a ação anual “Dia Mundial da Limpeza”: desde 2018, no mês de setembro, quando voluntários fazem mutirão em busca de ruas e praias mais limpas. Devido ao sucesso, essa ação, inclusive, já foi adotada também em outros municípios da Grande Vitória.

Outro projeto que ainda está em fase inicial é o Ecofrade. Realizado pelo Instituto Últimos Refúgios, também em parceria com a Prefeitura de Vitória e a Vale, pelo qual o objetivo é implementar a coleta seletiva para os moradores e fazer com que usuários da praia e das praças deem destinação adequada aos resíduos.

BAÍA DAS TARTARUGAS

A Ilha do Frade é o “coração” da Baía das Tartarugas. Criada em 2018, é a primeira Área de Proteção Ambiental (APA) de Vitória, que vai desde o início da Praia de Camburi até a Terceira Ponte. São mais de 16 km de extensão.
O Projeto Restinga afetará positivamente essa Baía, já que ela tem o objetivo de proteger a diversidade biológica da região.

“O projeto irá aumentar e integrar as áreas de praias recuperadas a todo ecossistema da APA, com grande biodiversidade terrestre e marinha”, ressalta o coordenador Vinícius Rocha.

CRONOGRAMA DE AÇÕES

A primeira fase do Projeto Restinga foi focada em estudos, planejamento, diálogo com a comunidade, manejo inicial da vegetação e plantios simbólicos. Agora, começa a segunda fase da iniciativa ambiental.

De acordo com o cronograma, a poda de árvores exóticas e o cercamento de praias serão realizados durante todo o mês de agosto. Entre agosto e dezembro, serão realizadas atividades de plantio de mudas nativas, irrigação e limpeza. Já a manutenção será planejada para ter duração de cerca de um ano.