Dia a dia
Igreja Anglicana ordena duas pastoras mulheres no ES
O culto de ordenação vai acontecer na Igreja Âncora, no Centro de Vitória, com a presença do bispo Márcio Meira, de Recife

Lorrayne Pires Freitas Muniz. Foto: Arquivo Pessoal
Lorrayne Pires Freitas Muniz, 34 anos, e Elionai Lisboa de Aguiar Rodrigues, 36 anos, vão ser ordenadas, neste sábado (12), às 16 horas, pastoras da Igreja Anglicana no Brasil (IAB). O culto de ordenação vai acontecer na Igreja Âncora, no Centro de Vitória, com a presença do bispo Márcio Meira, de Recife.
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Ao abrir as portas para o sacerdócio feminino, os anglicanos mostram uma nítida tendência a possuir um clero cada vez mais igualitário. Uma vez que a exclusão da mulher do sacerdócio é uma tradição, por sua vez, influenciada pela cultura e pelos costumes da época pela qual passa.
Lorrayne é psicóloga, mãe de três filhos e casada com o reverendo Pedro Muniz da Igreja Trindade, no bairro República, em Vitória. Nasceu em um lar cristão e se dedicou a igreja católica romana até 2013, quando conheceu a igreja Anglicana. Atualmente, concilia o pastoreio com as aulas na escola infantil onde é professora.
“Desde 2020, impulsionada pelos pastores, comecei a entender meu chamado pastoral. Eles me ajudaram perceber o quanto já iniciava e exercia esse papel, sem me dar conta. Acredito que a falta de referências femininas como pastoras aqui no estado dificulte ainda mais esse passo inicial para nós, mulheres”, disse Lorrayne.

Elionai Lisboa de Aguiar Rodrigues. Foto: Arquivo Pessoal
Elionai é baiana, economista e filha de pastor. Abraçou a Igreja Âncora há mais de 10 anos e, também em 2020, foi impulsionada pelo bispo a perceber o chamado para o pastoreio, que já exercia com práticas pastorais de cuidado e serviço com a comunidade de fé. No mesmo ano, iniciou o processo de postulância, estudo de teologia no seminário, reuniões, mentorias, até chegar a ordenação.
“Deus em nenhum momento disse que as mulheres não poderiam pastorear, vemos nas escrituras a importância das mulheres no ministério de Jesus. Hoje em muitas denominações mulheres pastoreiam de fato mas não de oficio, não são chamadas de pastoras, mas independente do título é isso que ela são. A representatividade é muito importante, é preciso estimular as mulheres que acreditam que são chamadas por Deus para pastorear”, acrescentou Elionai.
Em comum, as duas apontam um grande desafio a construção desse espaço da mulher no pastoreio e esperam que juntas possam endossar ainda mais esse lugar, e servir de exemplos a outras mulheres que sentem o chamado, ou que já são atuantes em suas comunidades de fé.
Tem sido um grande desafio a construção desse espaço da mulher no pastoreio, espero que com a minha ordenação, junto com a da pastora Elionai possamos endossar ainda mais esse lugar, e nos juntar as outras mulheres que sentem o chamado, ou que já estão atuando nesse cenário da igreja capixaba.
“Com a minha ordenação e da pastora Lorrayne acredito que muitas mulheres se sentirão impulsionadas a viver e aceitar o chamado de Deus para elas. Em um estado com altos índices de violência contra a mulher o clero feminino carrega um símbolo importante de que o sagrado também acolhe a história de cada mulher desta terra e as convida para uma vida plena”, frisa Eleonai.
Para Pedro Muniz, reverendo da Igreja Anglicana Trindade, sem a presença e a contribuição das mulheres, as igrejas estariam semidesertas e em estado de abandono, mas as mulheres importam muito pouco do ponto de vista da tomada de decisão. É uma situação contraditória que não pode ser aceita e não pode durar.
“Não basta apenas ordená-las, é preciso fazer com que elas se percebam do lugar que elas já ocupam no coração da comunidade, que elas tenham uma consciência mais forte do chamado delas. Você ter mulheres a frente, liderando, pregando, acaba que inspira outras mulheres. E a presença dela pode trazer mais proximidade com as fiéis, que muitas vezes podem não se sentir a vontade de se abrir com pastores”, comentou.
SERVIÇO
CULTO DE ORDENAÇÃO
Quando: sábado (12)
Horário: 16 horas
Onde: Igreja Anglicana Âncora, na av. Presidente Florentino Ávidos, nº 300, no Centro de Vitória
COMO SURGIU
A Igreja Anglicana tem suas raízes já nos primeiros séculos com o evangelismo das Ilhas Britânicas e com o que conhecemos hoje como a Igreja Celta. Mantinha relações com a Igreja Católica Romana por um tempo, mas em 1534 se torna formalmente uma igreja independente, com mais de 85 milhões de membros em mais de 165 países, como o Brasil.
Considerada uma igreja católica, mas não romana, por manter os credos e confissões que nasceram na época dos Pais da Igreja. Reformada, por viver junto do movimento de Lutero em 1517 o mesmo movimento de rompimento com doutrinas católicas consideradas incorretas na tradição.
ANGLICANISMO E CATOLICISMO
Existem semelhanças litúrgicas nas igrejas, como o uso de paramentos, vestes e, por vezes, velas. Essas semelhanças podem assustar a quem chega, mas ao participar de um culto, perceberá muitas outras semelhanças com qualquer outra igreja evangélica nas questões de autoridade das escrituras, sermão, música, ensino, etc.
Apesar das semelhanças, as doutrinas se diferem em questões que a Igreja Anglicana não adota como: veneração aos santos, purgatório, celibato sacerdotal, reconhecimento da autoridade papal, entre outras coisas.
