Dia a dia
Fumacê é pouco eficaz contra o mosquito da dengue
Mesmo sendo uma medida bastante cobrada pela população, o fumacê usado para o combate ao mosquito da dengue é constante alvo de divergência
O Espírito Santo já vive uma epidemia de dengue. De 31 de dezembro de 2023 a 17 de fevereiro deste ano, o estado registrou mais de 25.276 casos notificados de dengue. A taxa de incidência está em 621,94 por 100 mil habitantes. O fumacê está entre as estratégias utilizadas para reduzir a proliferação do mosquito Aedes aegypti e reduzir a transmissão de doenças causadas por esse mosquito, como dengue, zika ou chikungunya. Mesmo sendo uma medida bastante cobrada pela população, o fumacê usado para o combate ao mosquito da dengue é constante alvo de divergência entre pesquisadores.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
A medida consiste na utilização de componentes químicos com o objetivo de matar o mosquito Aedes aegypti. Normalmente, um carro do poder público passa nas áreas de foco e borrifa o produto através da técnica UBV, sigla que significa Ultra Baixo Volume. No Espírito Santo, o uso de inseticidas à base do composto neonicotinóides está proibido desde 2021, de acordo com a Lei Estadual 11.421. Por isso, em outubro de 2023, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) distribuiu 288 equipamentos para o reforço do combate e controle de vetores nos 78 municípios capixabas, sendo: 96 Termonebulizadores veiculares como doação; 96 Termonebulizadores manuais; e 96 mini geradores de aerossol (MGA).
> Vacina contra dengue: mais de 2 mil doses são aplicadas no Espírito Santo
Apesar dos esforços do poder público no uso do fumacê, a própria Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) aponta que o controle químico funciona apenas como um paliativo, sendo necessário medidas focal eficiente e o compromisso de cada cidadão na eliminação de água parada. É fundamental que os municípios fortaleçam as medidas de controle mecânico com eliminação de criadouros; intensifiquem as ações de vigilância entomológica; reforcem o trabalho das equipes que realizam as visitas domiciliares, eliminação e tratamento de criadouros; e promovam mobilizações sociais com ações de educação à população sobre cuidados e limpeza, de modo a evitar criadouros potenciais para o Aedes aegypti.
Uma vez que o efeito dura até 30 minutos quando liberado no ar e o produto atinge apenas mosquitos adultos voando no momento em que o veneno é usado. Os criadouros não são afetados. Assim, por depender de fatores externos, a medida é considerada de baixa eficácia. Para ter um efeito melhor, o produto deveria ser pulverizado pelos carros de fumacê com as casas de portas e janelas abertas – para que o veneno “entrasse” nas residências. Mas isso nunca acontece. Além disso, chuva, calor intenso e ventos acima dos 6 km/h também diminuem a eficácia do produto.
Somada a baixa eficácia na ação, estudos indicam ainda que o contato recorrente com o inseticida pode causar intoxicação e, a longo prazo, o desenvolvimento de câncer e outras doenças.
> Tive dengue recentemente, posso ser vacinado?
“Tem muito mosquito circulando no nosso estado. E se tem muito vetor da doença, vai haver maior transmissão. O controle vetorial – do mosquito – é um grande desafio da saúde pública e a gente enquanto comunidade temos que fazer a nossa parte. Temos que olhar nosso quintal e procurar focos do mosquito dentro de casa. O fumacê tem uma eficácia muito baixa, tanto que tem municípios que nem utilizam mais. A chance de matar o mosquito tem uma chance irrelevante, além da toxicidade do produto. O que mais funciona é todo mundo verificando o quintal e procurando possíveis focos de dengue. Com o esforço coletivo a gente consegue controlar mais do que o fumacê passando um período por dia”, alertou a infectologista Ana Carolina D’Etorres.
INSETICIDA PROIBIDO NO FUMACÊ
A Secretaria da Saúde (Sesa) alerta que o uso de inseticidas à base do composto neonicotinóides no serviço de Ultra Baixo Volume (UBV) acoplado está proibido no Espírito Santo desde 2021, de acordo com a Lei Estadual 11.421.
“Se saímos um pouco da questão das arboviroses, encontramos nos 78 municípios capixabas o incomodo causado pelo Culex. Temos hoje estados, como Alagoas e Piauí, que possuem transmissão da Febre do Nilo pelo Culex quinquefasciatus – pernilongo comum – e nós, como Vigilância, precisamos olhar para frente para intervir em tempo oportuno”, explicou o subsecretário de Vigilância em Saúde, Orlei Cardoso.
Em outubro de 2023, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) distribuiu 288 equipamentos para o reforço do combate e controle de vetores nos 78 municípios capixabas, sendo: 96 Termonebulizadores veiculares como doação; 96 Termonebulizadores manuais; e 96 mini geradores de aerossol (MGA).
O QUE DIZ CARIACICA?
A Prefeitura de Cariacica garantiu que não utiliza o composto neonicotinoides no serviço de fumacê. O produto utilizado é a Paletrina 2,5%, conforme legislação estadual.
O QUE DIZ VITÓRIA?
A Secretaria de Saúde de Vitória (Semus) informou que, após a proibição do uso de inseticidas à base de neonicotinóides no serviço de fumacê no Espírito Santo a partir de 2021, houve mudanças significativas na abordagem de controle de insetos em Vitória. Embora o fumacê ainda esteja em funcionamento na capital, os métodos e produtos utilizados foram adaptados para cumprir com as novas regulamentações e priorizar a proteção do meio ambiente e da saúde pública.
As mudanças incluem a substituição dos inseticidas à base de neonicotinoides por alternativas que sejam eficazes no controle de insetos vetores, mas que também sejam menos prejudiciais ao meio ambiente e à fauna não alvo, como abelhas e outros polinizadores. Atualmente, a praletrina é o inseticida usado para o controle de insetos no fumacê. Além disso, há um foco maior na utilização de técnicas de controle integrado de insetos transmissores de arboviroses, que envolvem o uso combinado de métodos físicos, biológicos e químicos de maneira mais equilibrada e sustentável.
Essas medidas visam não apenas manter a eficácia do controle de insetos transmissores de doenças, como também proteger a biodiversidade e reduzir os impactos negativos sobre o ecossistema. É importante ressaltar que, mesmo com a proibição dos inseticidas à base de neonicotinoides, o serviço de fumacê continua sendo uma ferramenta útil e complementar no combate a doenças transmitidas por vetores em períodos epidêmicos, e seu uso é realizado de forma responsável e conforme as diretrizes estabelecidas pelas autoridades sanitárias e ambientais.
O QUE DIZ A SERRA?
O carro fumacê – veículos equipados com termonebulizadores – tem circulado semanalmente, todos os dias da semana, antes do pôr-do-sol ou nascer do sol, horários estratégicos para a dispersão da fumaça na Serra. É utilizada para aplicação a mistura de inseticida com óleo mineral altamente aquecido, transformando-se em uma densa névoa que se espalha no ambiente, não possuindo efeito residual.
> Nove sinais para ficar atento durante a alta de casos da dengue
Segundo a Prefeitura da Serra, a aplicação é feita de forma criteriosa, com uso de produtos químicos conforme orientado no Manual de Uso e Manutenção dos Termonebulizadores no Controle do Culex elaborado e publicado pela Secretaria Estadual de Saúde em 2023. Nenhum dos insumos utilizados no município possui componente do grupo dos neonicotinóides, estando em conformidade com a Lei Estadual nº 11.421/2021 assim como a Lei Municipal nº 5.572/2022 de igual teor.
As aplicações espaciais de inseticida são realizadas em todos os 130 bairros da Serra com intervalos de 15 a 20 dias dias, de modo que a saúde da população não seja colocada em risco, o meio ambiente não seja afetado e para que não haja resistência do mosquito ao inseticida utilizado.
O QUE É A FEBRE DO NILO?
A Febre do Nilo Ocidental (FNO) é uma doença causada pelo vírus do Nilo Ocidental (VNO), transmitido principalmente por mosquitos infectados. A maioria das pessoas infectadas não apresenta sintomas, e cerca de 20% desenvolve uma doença febril leve. No entanto, em casos mais graves, os sintomas podem incluir: dor de cabeça, fadiga, dores musculares, náusea, vômito, erupção cutânea e dor nos olhos.
De acordo com o Ministério da Saúde, não existe tratamento disponível para os casos leves e moderados – o paciente fica em repouso e com reposição de líquidos. Na versão grave da doença, há necessidade de acompanhamento de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui