Dia a dia
Estudo aponta substâncias cancerígenas em água de 8 cidades do ES
Apresentaram alto risco: Serra, Guarapari, Domingos Martins, Atílio Vivacqua, Marataízes, Colatina, Baixo Guandu e Águia Branca

Água, água mineral, hidratação. Pixabay
Um levantamento sobre o controle e a qualidade da água realizado em todo o país apontou que no Espírito Santo oito cidades tinham água com detecções acima do limite de segurança de substâncias com maiores riscos de gerar doenças crônicas, como câncer, entre os anos de 2018 e 2020.
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Na Grande Vitória, a cidade onde a água apresentou mais problemas foi a Serra, onde foi detectada a presença de arsênio e chumbo e outras substâncias consideradas de risco, como mercúrio e ácidos halocéticos e trihalometanos (leia abaixo mais detalhes das substâncias). Também ficaram em alto risco as cidades de Guarapari, Domingos Martins, Atílio Vivacqua, Marataízes, Colatina, Baixo Guandu e Águia Branca.
Nas outras cidades da Grande Vitória, foram identificadas substâncias que geram riscos à saúde e que podem causar doenças renais, cardíacas respiratórias e alteração no sistema nervoso central a periférico. Estão classificadas nesta categoria as cidades de Vitória, Cariacica e Vila Velha.
Os dados estão no Mapa da Água, levantamento feito pela ONG Repórter Brasil. Segundo a publicação, os dados que compõem o mapa são resultados de testes feitos pelas empresas e instituições responsáveis pelo abastecimento. Eles integram a base de controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, o Sisagua, do Ministério da Saúde. Os dados foram interpretados de acordo com os parâmetros do Ministério da Saúde. Os testes são feitos após o tratamento e a maioria dessas substâncias não pode ser removida por filtros ou fervendo a água.
De acordo com o levantamento, as substâncias químicas e radioativas são agrotóxicos e outros resíduos da indústria que se misturam aos rios e represas. Quando estão acima do limite estabelecido no país, essas substâncias são prejudiciais à saúde. O consumo diário dessa água aumenta o risco de câncer, mutações genéticas, problemas hormonais, nos rins, fígado e no sistema nervoso – a depender do produto. O risco é maior para quem bebeu diversas vezes ao longo de anos.
“Se há substância acima do valor máximo permitido, podemos dizer que a água está contaminada”, afirma Fábio Kummrow, professor de toxicologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em entrevista ao Repórter Brasil. “Uma outra forma de dizer é que essa água não está própria para consumo, como quando um alimento passa da data de validade”. Contaminada ou imprópria, Kummrow confirma que existe risco para quem bebe a água, e ele varia de acordo com a substância e com o número de vezes que ela foi consumida ao longo do tempo.
A Cesan, responsável pelo tratamento da água na Grande Vitória e grande parte do Estado, foi procurada para comentar o resultado do levantamento, mas não respondeu até o fechamento da edição.
Confira as substâncias encontradas nas cidades e seus riscos
Arsênio (Substâncias Inorgânicas) – identificado na Serra
O arsênio e seus compostos são classificados como cancerígenos para humanos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde. A exposição prolongada ao arsênio por ingestão de água está relacionada com aumento do risco para câncer de pele, pulmão, bexiga e rins, bem como outros problemas na pele e tecidos. O ácido arsênico e o trióxido de arsênio, dois compostos inorgânicos desse elemento, são usados como descolorante, clareador e dispersante de bolhas de ar na produção de garrafas de vidro e outras vidrarias.
Chumbo – identificado na Serra
O chumbo é classificado como provavelmente cancerígeno para o ser humano, pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, não há nível seguro de exposição ao elemento, especialmente para crianças, que podem desenvolver problemas de comportamento, de aprendizado e de crescimento. O chumbo pode causar danos ao sistema neurológico, hematológico, gastrintestinal, cardiovascular, reprodutor e renal. Depois de entrar em contato com o chumbo por longos períodos de tempo, adultos tiveram aumento da pressão sanguínea, danos renais e efeitos neurológicos. As diversas formas do metal são utilizadas como ingredientes em soldas, lâminas de proteção contra raios X, material de revestimento na indústria automotiva, revestimento de cabos, placas de bateria, esmaltes, vidros, componentes para borracha, tintas e pigmentos.
Ácidos haloacéticos total (Subprodutos da desinfecção) – Vitória, Cariacica e Serra
Os ácidos dicloroacético, tricloroacético, bromoacético e dibromoacético são classificados como possivelmente cancerígeno para humanos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde. Em altas concentrações, os ácidos haloacéticos também podem gerar problemas no fígado, testículos, pâncreas, cérebro e sistema nervoso. Os ácidos haloacéticos são classificados como subprodutos da desinfecção, formado quando o cloro é adicionado à água para matar bactérias e outros microorganismos patogênicos.
Trihalometanos Total (Subprodutos da desinfecção) – Vitória, Cariacica, Serra e Vila Velha
Os trihalometanos são um grupo de compostos químicos e orgânicos que derivam do metano. Ele inclui substâncias como o clorofórmio, classificado como possivelmente cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC). A exposição oral prolongada a esta substância pode produzir efeitos no fígado, rins e sangue. Os trihalometanos são utilizados como solvente em vários produtos (vernizes, ceras, gorduras, óleos, graxas), agente de limpeza a seco, anestésico, em extintores de incêndio, intermediário na fabricação de corantes, agrotóxicos e como fumigante para grãos. Alguns países proíbem o uso de clorofórmio como anestésico, medicamentos e cosméticos.
Mercúrio (Substâncias Inorgânicas) – identificada na Serra
O cloreto de mercúrio é classificado como possivelmente cancerígeno pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, devido ao aparecimento de tumores de estômago, na tireoide e renais em animais. Além disso, a exposição prolongada ao mercúrio afeta os rins e pode alterar o tecido testicular, aumentar as taxas de reabsorção e gerar anomalias no desenvolvimento. Os compostos inorgânicos de mercúrio são utilizados em alguns processos industriais e na produção de outras substâncias químicas. Também são usados em rituais e para fins medicinais. O metilmercúrio, um dos compostos de mercúrio orgânico frequentemente usado em garimpos para extração de ouro, é o mais tóxico e apresenta danos principalmente ao sistema nervoso e pode causar até a morte.
Fonte: Mapa da Água
