fbpx

Dia a dia

Dia do Orgulho: ES tem mais de 51 mil pessoas com autismo

Entre os principais desafios enfrentados por essa população está a questão da educação nas escolas

Publicado

em

Caminhada União pelas pessoas com Autismo promovido pela Amaes. Foto: Divulgação

Caminhada em Vitória pede inclusão e respeito às pessoas com autismo. Foto: Divulgação

Embora o Brasil e o Espírito Santo tenham registrado avanços significativos, as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda enfrentam dificuldades e preconceito. Só no estado, são 51.328 pessoas nessa condição, o que representa 1,3% da população, segundo dados do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Nesta quarta-feira (18), é comemorado o Dia do Orgulho Autista, uma data dedicada a reconhecer e valorizar a neurodiversidade, promovendo a aceitação das diferentes formas de ser e pensar das pessoas no espectro. Apesar das conquistas, o pesquisador e ativista Lucelmo Lacerda afirma que educar crianças e adolescentes com necessidades especiais apenas em salas regulares ainda é um desafio.

Segundo ele, a precariedade das escolas brasileiras, especialmente das mantidas pelo poder público, favorece uma lacuna de aprendizagem que limita os avanços daqueles que mais necessitam de atenção especial.

Essa é a reflexão proposta pelo especialista no livro Crítica à Pseudociência em Educação Especial, publicado pela editora Luna Edições. Na obra, o pesquisador e ativista pelos direitos das pessoas com deficiência — que também é autista e pai de uma criança autista — destaca a Inclusão Total e a Educação Inclusiva como vertentes antagônicas no debate sobre educação especial.

A primeira defende o fim das salas e escolas especializadas, como as APAEs, e a limitação de apoios pedagógicos em prol da integração social. Já a segunda também prioriza a integração, mas luta pela manutenção dos espaços especializados e pelo suporte contínuo, por entender a relevância da educação pensada conforme a necessidade de cada aluno.

Luta de dor e sofrimento

Esse pensamento também é validado pela Associação dos Amigos dos Autistas do Espírito Santo (Amaes). Segundo a tesoureira da instituição, Heloísa Moraes, essa é uma questão dolorosa para a comunidade.

“A legislação brasileira garante o direito à educação para todos, inclusive para os estudantes com TEA. Só que, na prática, muitas escolas ainda enfrentam grandes desafios para oferecer um atendimento que realmente respeite as necessidades dos alunos com TEA”, disse.

Segundo ela, faltam profissionais capacitados, mas não basta apenas a formação técnica. “O profissional da ponta — o professor, o auxiliar, o coordenador — precisa ter empatia verdadeira, sensibilidade para entender as diferenças. Sem essa empatia, mesmo os melhores cursos, palestras e informações acabam não surtindo um efeito real.”

Para Heloísa, além da capacitação, as escolas também precisam oferecer recursos adequados, como materiais e atividades adaptadas, profissionais de apoio, intérprete quando necessário, além de investir melhor na comunicação entre a escola e a família.

“Quando falta escuta qualificada e um diálogo aberto, o vínculo acaba ficando fragilizado. O aluno pode se desestimular e até mesmo desistir da escola. Isso, inclusive, acontece dentro da minha casa. Como não há essa comunicação e esse acolhimento, o meu filho não se sente pertencente à escola”, relatou.

Apesar de todas as dificuldades, Heloísa afirmou que houve avanços, e as pessoas estão mais conscientes em relação ao tema. A Lei do Autista, segundo ela, foi um marco ao reconhecer a pessoa com deficiência para fins legais e garantir acesso à saúde, à educação e à inclusão social.

“Além disso, houve mais visibilidade, claro, na mídia e nas redes sociais, o que ajudou a ampliar o debate e também incentivar diagnósticos precoces, principalmente na infância. Mas ainda enfrentamos grandes desafios estruturais. O acesso ao diagnóstico ainda é desigual entre as regiões. Muitos municípios não contam com profissionais especializados. Há longas filas de espera na rede pública para consultas com neurologistas, psiquiatras e terapeutas. A situação é ainda mais crítica para autistas adultos, que demandam apoio contínuo. Há uma lacuna quase total de políticas públicas para essa fase da vida. É fundamental que os governos, em todas as esferas, assumam seu papel de garantir o direito e o cuidado integral à pessoa autista em todas as fases da vida.”

Consciência sobre o autismo

A conscientização das pessoas em relação ao autismo está crescendo e é um dos motivos de comemoração, apesar de ser um crescimento ainda tímido ou em públicos específicos. “Muitas famílias conseguem o diagnóstico dos filhos mais cedo, o que pode mudar vidas. Mas essa consciência ainda é superficial e seletiva. É mais fácil acolher uma criança pequena com traças leves, né? Com falas doces e comportamentos que causam ternura, mas e os autistas adultos? E aqueles que não falam? Aqueles que gritam? A verdade é que quando o autismo exige mais da sociedade, a sociedade se afasta. E é nesse momento que muitas famílias se sentem sozinhas, lutando por dignidade, respeito e por um olhar que não julgue, mas compreenda. Por isso lutamos aqui todos os dias para que o autismo seja visto em toda a sua complexidade. Porque consciência de verdade não é apenas saber que o autismo existe, é reconhecer, incluir e respeitar quem vive com ele todos os dias”.