Dia a dia
Depois de 46 anos, orelhões vão deixar as ruas
Nova Lei Geral das Telecomunicações faz com que empresas não precisem mais manter aparelhos. A contrapartida será um maior investimento em telefonia móvel e banda larga em localidades ainda não atendidas

Orelhão na Rua Sete, no Centro de Vitória. Foto: Chico Guedes
Em um futuro não muito distante, encontrar telefones públicos nas ruas do estado será tarefa de gincana. O processo de desaparecimento dos orelhões ganhou um catalisador com a sanção, pelo presidente Jair Bolsonaro, no início de outubro, da Lei Geral das Telecomunicações.
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O documento não sofria alterações há 22 anos. A nova redação cria a possibilidade de que as empresas de telefonia fixa troquem o regime de concessão para o de autorização, como funciona com a telefonia móvel. A mudança deixa as companhias de telefonia livres de algumas atribuições. Entre elas, a instalação e a manutenção de orelhões. A contrapartida será um maior investimento em telefonia móvel e banda larga em localidades ainda não atendidas.
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Atualmente, de acordo com dados da Anatel, o estado conta com 3.750 aparelhos. Desses, 2.090 funcionam 24 horas e 145 estão em manutenção. Do total, 152 são adaptados para cadeirantes e 106 para deficientes auditivos e da fala. Vitória é a cidade do estado com maior quantidade de orelhões: 395. Apesar do número pequeno, a extinção total não está tão próxima de acontecer. Locais com alto trânsito de pessoas devem permanecer com orelhões.

Orelhões na rua do Rosário, na antiga sede da Telemar. Foto: Chico Guedes
“A agência reguladora – Anatel – introduziu algumas mudanças no novo PGMU – Plano Geral de Metas de Universalização – em vigor desde dezembro de 2018, prevendo a retirada de orelhões subutilizados pelas operadoras de telefonia fixa que atuam no Brasil (Oi, Telefônica, CTBC e Sercomtel). O novo Plano Geral de Metas de Universalização veio adequar as regras vigentes no Brasil à tendência mundial, garantindo a permanência de orelhões em locais onde há demanda, como shoppings, escolas, postos de saúde, hospitais, órgãos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, estabelecimentos de segurança pública, bibliotecas, museus, terminais rodoviários, aeródromos etc., bem como em localidades hoje só atendidas com o TUP [telefone de uso público]”, explicou a empresa Oi, em nota.
Linha do tempo
1971 – O orelhão é criado pela designer Chu Ming Silveira.
1972 – O primeiro aparelho é inaugurado em 20 de janeiro no Rio de Janeiro.
1975 – Orelhões passam a aceitar chamadas interurbanas no país.
1992 – As fichas telefônicas cedem espaço para os cartões telefônicos.
1997 – Morre Chu Ming Silveira, a criadora do orelhão.

Aparelhos na Costa Pereira, no Centro de Vitória. Foto: Chico Guedes
Na hora do aperto
Embora, na média, o número de telefones celulares no Brasil supere o tamanho da população, os orelhões ainda quebram um galho na hora das dificuldades.
A comerciante Lia Silva conta que ainda usa o aparelho quando precisa fazer ligações para telefones fixos de empresas prestadoras de serviços, por exemplo. “Muitas vezes, quero ligar para um lugar que não aceita ligação de celular. Podendo usar e encontrando um orelhão em funcionamento na rua, eu uso”, explica.
Ela diz, porém, que o número de aparelhos em Vitória diminuiu muito. “No meu bairro, tinha muitos orelhões. Hoje em dia, só tem um no posto de saúde e outro no ponto de ônibus”, conta.
Quase um cinquentão
Apesar de ainda não ter chegado aos 50 anos, o orelhão já não tem mais fôlego. O modelo foi criado pela designer paulista Chu Ming Silveira, em 1971, quando estava à frente do Departamento de Projetos da Companhia Telefônica Brasileira. A escolha pelo modelo, que foi exportado para países como Peru, Colômbia, Paraguai, Angola, Moçambique e China, tinha como objetivo dar ao usuário a melhor acústica possível para ele fazer uma ligação.
O formato peculiar rendeu outros apelidos, como tulipa e capacete de astronauta. Seu nome oficial, entretanto, é Chu II. O Chu I, apelidado de Orelhinha, era em um formato menor e com projeto para ambientes fechados.
O primeiro orelhão foi inaugurado no Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1972. Cinco dias depois, ocorreu a inauguração em São Paulo. Na década de 1990, as fichas telefônicas deram vez aos cartões telefônicos – tecnologia que se tornou item de colecionador.
