Dia a dia
Conheça o Cetas, unidade do Ibama que devolve animais à natureza
O Centro de Triagem de Animais Silvestres recebe vítimas de apreensão, resgates e entregas voluntárias. Em 2020 foram mais de 3,4 mil

Filhotes de papagaios chauá tratados na UVV antes de serem encaminhados para um criador conservacionista. Foto: Divulgação
Você sabia que de cada 10 animais retirados à força da natureza, apenas um sobrevive? Não bastasse a alta taxa de mortalidade, quando caçadores levam os filhotes dos ninhos, os pais acabam assassinados para facilitar a captura. O destino deles seria o comércio ilegal, não fosse o trabalho dos órgãos ambientais de segurança. Ainda assim, mesmo quando são recuperados, o retorno à natureza pode ser longo e depende de um importante trabalho realizado nos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
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No Espírito Santo, a unidade está localizada na região de Barcelona, na Serra, bem próximo de uma área verde, local ideal para a reabilitação de espécies selvagens. Mas, segundo o responsável pelo Cetas, Décio Luiz Castellões, não são apenas os animais vítimas de apreensões que recebem os cuidados da sua equipe. “Também recebemos aqueles que são resgatados e entregas voluntárias de animais legalizados ou não legalizados que devolvidos aos cuidados Ibama. Mas nosso carro-chefe são os pássaros de canto oriundos de apreensão, como o trinca-ferro, sabiá, azulão, coleirinha e canário da terra, entre outros”.
Segundo Décio, o trabalho de Centro de Triagem do Ibama consiste em receber, cuidar e dar a devida destinação para o animal. Em 2020, mais de 3,4 mil indivíduos deram entrada na unidade, o quarto maior número de todos os Cetas do país. Destes, pouco mais de 2,2 mil retornaram à natureza, cerca de 550 foram enviados para cativeiros e outros 523 morreram.

Papagaios chauá vítimas de caçadores no Norte do Espírito Santo. Foto: Divulgação/Cetas/Ibama
“Recebemos tanto animais saudáveis quanto machucados, vítimas de atropelamento, ataque de cães e até mesmo de pessoas. No caso dos caçadores, eles mantém os bichos em situações de maus tratos. E quando chegam até nós, apresentam problemas de desnutrição, por exemplo, que podem deixar sequelas e encurtar seu tempo de vida”, explica o responsável pelo Cetas.
A reabilitação
Quando um animal selvagem é domesticado pelo homem, sua vida na natureza está exposta. Por isso, quando o Centro de Triagem recebe animais saudáveis ele pode ter dois destinos. Se for extremamente manso, ele permanece sob os cuidados do Ibama por alguns meses, sendo avaliado para saber se ele pode retornar para à vida selvagem ou se deverá ser encaminhado para um zoológico ou criador conservacionista.
No caso dos animais machucados, os cuidados são redobrados. “Logo quando chega, ele é direcionado para um veterinário parceiro para ser avaliado e medicado, passa por exames, se necessário, e permanece conosco durante sua recuperação. Ao final do tratamento, ele é novamente avaliado e decidimos se ele pode ser solto ou se irá para um zoológico ou criador conservacionista.
De acordo com Flaviana Guião Leite, professora de clínica, manejo e conservação de animais selvagens da Universidade de Vila Velha, o trabalho de reintrodução do animal à natureza é de máxima importância e deve ocorrer o mais breve possível. “Quanto mais tempo eles passam em ambiente com muita gente e vozes humanas, mais ligados às pessoas eles serão. Durante todo o processo de reabilitação, eles vão reaprender a se alimentar sem a interferência humana e irão interagir com outras espécies em ambientes naturais monitorados até estarem prontos. Esse é um processo longo e cheio de detalhes que em alguns casos pode levar até mais de um ano”.
Ou seja, o caminho de volta à natureza é árduo. Mas para quem se dedica diariamente a este processo, a soltura tem o sabor de dever cumprido. “É um trabalho muito gratificante. É como ver um filho que cresceu e está saindo de casa tomando as rédeas da própria vida”, frisa Décio Luiz Castellões.
Orientações à população
Segundo o responsável pelo Cetas, caso um morador se depare com um animal selvagem em sua casa, a recomendação é acionar a prefeitura local, que oferece serviços de resgate, ou mesmo a Polícia Militar Ambiental, para lidar com animais peçonhentos ou que ofereçam riscos.
“E caso alguém deseje adquirir algum animal, que procure por um criador licenciado. Pesquisa na internet e verifique o número da licença. Alguns criadores, inclusive, oferecem até mesmo certificados de origens dos animais, como se fosse uma certidão de nascimento. E todos eles terão uma anilha, marcação ou chip de identificação”, explica Décio.
Para fazer denúncias, basta acionar a Polícia Militar ou o Ibama pelo telefone 0800 061 8080.
