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Músicos capixabas acusam maestro de assédio

As denúncias foram encaminhadas para o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e seguem em segredo de Justiça. Maestro nega abusos

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Maestro Leonardo David é o fundador da Camerata do Sesi. Foto: Thiago Guimarães/Divulgação

Musicistas capixabas protocolaram mais de 20 denúncias contra o maestro Leonardo David, 41, um dos principais nomes da música erudita do estado. Exonerado nesta sexta-feira (11) da função de maestro adjunto da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (Oses) e demitido por justa causa da Orquestra Camerata do Serviço Social da Indústria (Sesi-ES), a qual fundou em 2008, ele é investigado por assédio moral e sexual.

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As denúncias foram encaminhadas para o Ministério Público do Espírito Santo (MPES), que instaurou procedimento para apurar as acusações referentes a dois maestros. O caso segue em tramitação e foi enviado também à Promotoria de Justiça Criminal de Vitória, por envolver notícia de crime, e à Secretaria de Estado da Cultura (Secult), para eventuais esclarecimentos.

A advogada responsável pelo caso, Renata Nunes, esclarece que foram feitas mais de 140 denúncias pelas redes sociais, sendo que 20 viraram um processo anônimo. “Mas esse número continua aumentando. De ontem para hoje, já fui contatada por mais de dez pessoas que também querem entrar na Justiça contra o maestro”, revela.

Segundo a advogada, essas denúncias também serão encaminhadas para o Ministério Público do Trabalho, no âmbito federal. Para dar prosseguimento aos processos, uma reunião está prevista para acontecer na próxima segunda-feira (14) com a presença de gestores da Secult, advogados e os músicos lesados.

Com a repercussão do caso, diversos artistas confirmaram na internet as práticas do maestro, alegando que ele pressionava de forma abusiva os artistas e fazia comentários que diminuíam o trabalho das mulheres e das pessoas negras das orquestras. “Convivi com o maestro por um bom tempo, porque cantava ópera. Era sempre essas piadas nojentas, sem graça… Também abusava muito do poder. Não era um líder. Fiquei feliz com essa atitude de exonerarem ele, mas a justiça ainda precisa ser feita. Precisamos dar repercussão a essa história”, disse uma das vítimas, que preferiu não ter o nome revelado.

Relatos de abusos

Uma fonte ouvida pelo portal ES360, que não quer ser identificada, relata que presenciou uma das cenas de assédio durante o ensaio da Camerata para o espetáculo “Rockestra”, no mês passado. “Na ocasião, os músicos estavam errando algumas notas, o que é normal de acontecer. Mas isso deixou ele furioso. O Leonardo parou o ensaio e ficou batendo numa mesa que tinha perto, gritando e chamando todo mundo de incompetente, alegando que todos queriam o mal dele por não estarem acertando as notas”, relembra o músico, que trabalha com o maestro desde 2007.

Ele garante que essas atitudes do maestro já acontecem há muitos anos, mas só agora vieram à público. “Para os artistas da orquestra, isso era corriqueiro. Eles sempre diziam que os ensaios diários eram uma tortura, pois sempre sofriam alguma humilhação”, conta. A fonte revela, inclusive, que muitos relatos de assédio sexual também circulavam dentro da Camerata e em outras instituições por onde Leonardo passou. “Em 2011, umas quatro colegas de um coral reclamaram comigo sobre atitudes inapropriadas vindo dele. Trata-se de uma história de nove anos atrás!”, ressalta.

Já um terceiro músico que trabalha na Oses, desde 2016, alega também que o regente Helder Trefzger tinha conhecimento e até presenciou algumas atitudes inapropriadas de Leonardo. No entanto, nunca interferiu. “Em grau de hierarquia, o Helder estava acima do Leonardo. Vários relatos chegaram até ele, mas o Helder sempre permitiu que tudo isso acontecesse, ‘passava a mão na cabeça’ dele. Se isso acontece há quase uma década, como o Helder ainda não saberia? Ele nunca gritou com ninguém, tratava todos de maneira igual, mas não interferia nessas ações”, conta.

Em um e-mail enviado para a equipe da orquestra estadual nesta sexta, Helder afirmou: “Não compactuo com qualquer tipo de assédio, atitude racista ou qualquer irregularidade cometida no âmbito administrativo. Muitas vezes não percebemos as dores de pessoas ao nosso lado e não tomamos medidas mais efetivas na correção de problemas”.

Defesa

Procurado pela reportagem, o maestro não quis comentar sobre o caso. Por nota, sua advogada apenas afirmou que “o maestro Leonardo David reitera aquilo que os que o conhecem sabem e podem testificar: é inocente de todas as acusações, jamais faltou com o respeito a ninguém e sempre conduziu as orquestras nas quais estava à frente de forma rígida porém sempre com respeito a todos”.