Coluna Vitor Vogas
Prefeito de Aracruz: mãe do atirador foi professora na escola pública atacada
Em entrevista à coluna, Dr. Coutinho também diz conhecer bem o pai do autor dos ataques, líder comunitário em Coqueiral: “Muito tranquilo, pessoa de bem”

Dr. Coutinho, prefeito de Aracruz. Foto: reprodução Facebook
“É o momento de dar as mãos. É muito difícil, mas vamos enfrentar tudo de uma forma pacífica, com muita união, oração e fé em Deus.” O desabafo é do prefeito de Aracruz, Luiz Carlos Coutinho (Cidadania), que conversou com a coluna no fim da tarde desta sexta-feira (25), marcada para sempre na história do Espírito Santo, de maneira trágica, pelos ataques executados por um atirador de 16 anos contra alunos e professores de duas escolas no bairro Coqueiral de Aracruz (uma particular e uma da rede estadual).
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Doutor Coutinho, como é mais conhecido, conta que ficou incrédulo em seu gabinete quando recebeu por telefone, às 10 horas, a notícia da tragédia, portada pela superintendente estadual de Educação em Linhares. Deslocando-se imediatamente para os locais dos ataques, o prefeito chegou a ver, estendidos no chão, os corpos das duas professoras vitimadas na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti. “Aquela coisa terrível…”
Segundo o prefeito, o pai do autor confesso dos ataques é líder comunitário em Coqueiral de Aracruz, além de policial militar da ativa. Já a mãe do agressor é professora aposentada e deu aula justamente na Escola Primo Bitti, um dos dois alvos dos ataques na manhã desta sexta. O jovem frequentou a mesma escola até junho deste ano, quando os pais pediram a sua transferência.
A Secretaria Estadual de Educação confirmou que a mãe do agressor é professora da rede estadual, lecionava na Escola Primo Bitti e aposentou-se em 2020.
O atirador de 16 anos foi apreendido pela polícia na tarde desta sexta-feira e contou que planejou os ataques por dois anos. Conforme as últimas informações oficiais da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), três vítimas fatais foram confirmadas até o momento da publicação deste texto, sendo duas professoras e uma aluna, além de 13 feridos (alguns em estado gravíssimo).
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Leia abaixo, na íntegra, a entrevista do prefeito Dr. Coutinho:
O que o senhor tem a dizer sobre o ocorrido?
É lamentável, é imprevisível… Não dá nem para falar sobre uma coisa tão trágica. Cheguei lá logo depois e vi os corpos estendidos no chão, as professoras caídas no chão, aquele sangue todo, aquela coisa terrível… Ele [o autor dos ataques] estudava na escola Primo Bitti e saiu há seis meses, com a aquiescência da mãe. O que se comenta é que ele tinha depressão. Na ficha escolar dele, não consta nada. E os pais dele também estão em estado de choque. Ninguém sabe em detalhes, mas o comentário geral na cidade é que ele sofria de depressão.
Como o senhor descreve o clima da cidade no momento?
Ah, todo mundo está muito abalado e chocado demais. É difícil acreditar… Era uma escola monitorada, bem vigiada, com uma boa reputação e tudo mais.
Coqueiral de Aracruz é um bairro muito pacato…
Sim, e um bairro nobre.
Como os moradores da cidade, principalmente os do bairro, estão se sentindo?
Com certeza, todo mundo assustado. Vamos esperar que as pessoas se acalmem. O povo está abalado demais, porque um troço desses realmente é muito impressionante. Conheço o pai dele [do agressor]. É policial militar. Está na ativa. Tanto que, das duas armas encontradas com ele, uma é a usada pelo pai em serviço.
O senhor conhece bem o pai do atirador? Convive com ele e com a família?
Conheço muito bem ele. É meu amigo. É líder comunitário de Sapolândia, uma das três comunidades de Coqueiral. E a mãe dele era professora da escola. Mas se aposentou recentemente. Com o pai eu convivia de vez em quando. Ele é psicanalista, é muito tranquilo. É uma pessoa de bem, muito engajado na comunidade de Coqueiral. O garoto, eu não conhecia.
No seu pior pesadelo, o senhor imaginou que isso pudesse um dia ocorrer aí?
Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. A cidade aqui é muito tranquila. Às 10 horas, quando me ligaram no gabinete, fiquei chocado. Pensei “não é possível, não acredito”. E comecei a fazer ligações.
Quem deu a notícia ao senhor?
Foi a superintendente de Educação de Linhares.
E para quem foi sua primeira ligação?
Liguei primeiro para a nossa secretária municipal de Saúde, pedindo a ela que ligasse para a Sesa, para enviarem ambulâncias. Depois liguei para a PM. E depois para o Casagrande. Ele é nosso parceiro, mandou dois helicópteros e muitos policiais civis e militares e secretários para Coqueiral. Ele estava em São Paulo e veio para cá.
Quais providências a prefeitura pretende tomar agora?
Nossa prioridade no momento é dar apoio às famílias das vítimas. Além dos três óbitos confirmados, há duas vítimas em estado muito grave, internadas em hospitais de Vitória e Serra: uma professora e um aluno, um rapazinho, parece que com 13, 15 anos. Os dois sofreram perfurações no crânio. São casos muito delicados. Eu sei, porque sou médico e sei um pouco. Agora precisamos acalmar a cidade. Nesta hora é preciso um conjunto de todas as forças. Todos estão se solidarizando. É o momento de dar as mãos. Cada um tem que ter compaixão e se solidarizar com o outro, para a gente sair dessa e tocar a vida. Isso pode acontecer em qualquer lugar do mundo: quando não é bandido, é alguém com problema mental. É muito difícil, mas vamos enfrentar de uma forma pacífica, com muita união, oração e fé em Deus, com certeza, para confortar os corações de todos nós. A misericórdia de Deus é infinitamente grande e vai acalmar e curar não só o meu coração como os corações de todas as pessoas atingidas.
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