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Coluna Vitor Vogas

Piquet quer ampliar ainda mais merenda escolar em Vitória

Após inclusão de nova refeição e reforço no almoço e no jantar, vereador quer que alunos possam levar uma fruta para casa após a jornada escolar

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Vereador Leandro Piquet. Foto: Divulgação

Vereador Leandro Piquet. Foto: Divulgação

Mesmo sendo Vitória uma das capitais com melhor renda per capita e qualidade de vida do Brasil, muitos alunos da rede municipal de ensino padeciam de um problema comum a estudantes de todo o país: chegavam à escola com fome. A insuficiência alimentar, logicamente, prejudicava a sua concentração e o seu desempenho em sala de aula. A partir da constatação do problema, o vereador Leandro Piquet (Republicanos) conseguiu que a administração do prefeito Lorenzo Pazolini (do mesmo partido) alterasse a política de merenda escolar, introduzindo uma nova refeição e ampliando a que já existia, a partir deste ano letivo. Mas Piquet não está satisfeito e defende um reforço ainda maior.

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Em janeiro do ano passado, após assumir o seu primeiro mandato eletivo, na Câmara de Vitória, Piquet foi designado para presidir a Comissão de Educação da Casa. Foi uma escolha um pouco inusitada, já que o então líder do prefeito é delegado da Polícia Civil – atualmente, dá plantão na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória. Para ele, não tão inusitada, devido ao fator familiar:

“Meu pai e minha mãe são professores. Meu pai é professor de Educação Física e minha mãe é neuropedagoga. Ela trabalhava em sala de aula com crianças que tinham alguma dificuldade de aprendizagem, para a inclusão dessas crianças”, conta ele.

Imbuído da missão de presidir a importante comissão, o delegado e vereador de primeiro mandato propôs-se, antes de tudo, responder à seguinte pergunta: qual é o maior desafio da educação pública municipal?

“Como queremos trazer um pouco de ciência para a política, um pouco das premissas reais, sair do achismo, realizamos um processo seletivo no gabinete e contratamos dois mestrandos: um de Direitos e Garantias Fundamentais e um de Ciências Políticas. O desafio dos dois era fazer um diagnóstico dos desafios da educação em Vitória e propor uma política pública que melhorasse a educação de Vitória. Para isso, era necessário identificar os principais problemas.”

A fim de desvendá-los, a equipe de Piquet adotou uma metodologia muito difundida em pesquisas acadêmicas inseridas no campo das ciências sociais (antropologia, sociologia, ciências políticas) e das humanidades em geral (tapa na cara de quem acha que ciências humanas são “inúteis”, “perda de tempo” etc.): questionário e análise de dados.

“Meus assessores elaboraram um questionário amplo, todo digital, e encaminharam para os diretores de todas as escolas da rede municipal, de ensino infantil e fundamental. Eles se sentiram confortáveis para comunicar quais eram os problemas que de fato presenciavam no dia a dia.”

A conclusão foi surpreendente:

“Identificamos que um dos principais problemas da educação em Vitória era a fome. As crianças chegavam com hipoglicemia. Chegavam com fome, ou irritadas, ‘molinhas’. Os diretores reportaram a existência do problema e nós fomos atrás da solução. Vimos como era o procedimento nas unidades escolares para tentarmos erradicar a fome nas escolas. Então vimos a necessidade de modificar a política de merenda escolar.”

No fim do ano passado, após um ano debruçado sobre o tema, Piquet apresentou a Pazolini as conclusões técnicas do estudo e, por meio de uma indicação, propôs a ampliação da merenda escolar fornecida diariamente a todos os alunos da rede. A Secretaria Municipal de Educação abraçou a ideia e, desde o início do atual ano letivo, em fevereiro, a política nutricional das escolas da rede mudou: para combater a insegurança nutricional entre os alunos, a merenda escolar foi reforçada.

Na prática, esse “reforço” corresponde à inclusão de mais uma refeição diária (dejejum para quem estuda de manhã; colação para quem estuda à tarde), além da ampliação da refeição que já existia (almoço no turno matutino; janta no vespertino).

Agora, logo que chega à escola, o aluno é recebido com uma pequena refeição (o popular “lanchinho”), que pode ser uma fruta, um pão, um sanduíche… Isso não existia até então.

Mais tarde, no meio do turno letivo, o aluno recebe uma refeição mais substancial (almoço ou janta, dependendo do turno). Essa refeição já existia, mas foi reforçada: agora, é servida em porções maiores. “O aluno pode repetir”, diz Piquet.

“Agora, a criança faz mais de uma refeição durante a jornada de estudos”, resume o autor da proposição, que realça as consequências positivas dessa mudança, tanto de forma direta (a melhor nutrição dos alunos) como de forma indireta (menor evasão escolar e melhor alimentação também dos pais):

“As crianças estão se alimentando melhor. Falo isso porque sou pai de um aluno da rede. Meu filho chega em casa e não quer almoçar, porque chega do colégio satisfeito. Com isso, você garante a frequência escolar e amplia o número de matrículas. E é uma política que repercute não só para o aluno, mas também para o pai e a mãe. Tem muito pai e mãe que deixa de comer para alimentar seus filhos. E assim sobra comida para eles em casa. Então, você ganha no social, no educacional, na formação do indivíduo, na dignidade da pessoa humana”, enumera Piquet.

Mas, diferentemente dos cerca de 45 mil alunos da rede educacional de Vitória, o vereador não está saciado. Visando ampliar ainda mais a política de merenda escolar, ele busca, no momento, alternativas jurídicas para que, além dos alimentos consumidos no interior da unidade escolar, o aluno possa levar para casa uma fruta, diariamente, após o fim da jornada escolar.

“Precisamos superar questões legais, porque a lei prevê que a merenda escolar tem que ser consumida no espaço escolar. Mas estamos buscando alternativas jurídicas para que a criança possa levar essa fruta para consumir em casa. Com isso, você garante mais dignidade para a criança.”

Enquanto isso, o vereador e delegado também está disponibilizando o formulário desenvolvido por ele e sua equipe para quem quiser fazer esse tipo de análise técnica em seu município. A ideia é “exportar” o modelo para gestores de outras cidades, mais pobres que Vitória, onde certamente os alunos da respectiva rede passam por dificuldades ainda maiores ligadas à insegurança alimentar:

“Se em Vitória, a capital do Estado, com uma renda média per capita de R$ 1,5 mil, existe esse problema, imagine em outros lugares! Nas outras cidades, esse problema é ainda mais grave. A gente fica preocupado com o resto dos municípios. Vitória deu um grande passo. Obviamente, estamos longe de solucionar todos os problemas e não temos essa vaidade, mas temos que exportar as boas experiências de Vitória para outros lugares, e é isso que estamos tentando fazer.”

Segundo Piquet, o investimento da Prefeitura de Vitória em merenda escolar neste ano é de R$ 12 milhões, para atender os cerca de 45 mil estudantes matriculados na rede de ensino infantil e fundamental.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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