Coluna Vitor Vogas
Os desafios de Guerino Zanon para ser candidato ao governo
Sem legenda no MDB, prefeito de Linhares precisa correr contra o tempo para se filiar ao PSD, montar uma chapa competitiva de candidatos a deputado federal e cair nas bênçãos de Kassab

Guerino precisa correr contra o tempo para viabilizar candidatura ao governo. Foto: Prefeitura de Linhares
Guerino Zanon não tem nada a perder se quiser ser candidato ao governo do Espírito Santo neste ano (e ele quer). Mas, se quiser mesmo ser candidato, também não tem tempo a perder. Para o prefeito de Linhares, a hora de tentar chegar ao Palácio Anchieta é agora. Cumprindo seu quinto mandato como governante da maior cidade do Norte do Estado (nem Sérgio Vidigal acumula tantos na Serra), Guerino encontra-se no auge da sua força e do seu prestígio político. Consagrado eleitoralmente na própria região, não tem mais para onde crescer ficando ali, na margem norte do Rio Doce.
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É verdade: para postular o cargo de governador, será obrigado a renunciar ao de prefeito até o dia 2 de abril. Mas, em primeiro lugar, se ele de fato fizer isso, do que é que Guerino realmente abre mão? Não é como se fosse um jovem e ascendente prefeito, em pleno início de carreira, largando pela metade o seu primeiro mandato na prefeitura. De novo: são cinco mandatos! Em vez de dizer aos seus netos que passou 20 anos à frente do governo municipal, Guerino poderá dizer que cumpriu a bagatela de… 17 e quatro meses.
Ao tomar posse, no dia 1º janeiro de 2021, Guerino anunciou que esse seria o seu último mandato como prefeito. Pudera: para que mais? E, se decidir exercer por inteiro esse 5º mandato, até o fim de 2024, ele corre o sério risco de perder o timing para voos maiores. Ou descumpre a sua promessa e busca um 6º mandato em 2024, ou fica por dois anos sem mandato até tentar enfim, quem sabe, concorrer ao Palácio Anchieta somente em 2026. Mas até lá… terá ele o mesmo capital político?
Acresça-se a isso o fato de que o seu vice-prefeito, Bruno Marianelli, é extremamente ligado e leal a ele. Por sinal, foi escolhido a dedo por Guerino precisamente por isso em 2020, quando o prefeito se reelegeu com 54,4% dos votos válidos (numa eleição que nasceu praticamente decidida), já pensando em se lançar ao governo do Estado em 2022. Secretário municipal nos quatro mandatos anteriores de Guerino, Marianelli representa um “seguro político” para ele, que assim, mesmo não sendo mais o prefeito de direito, poderá continuar influindo de fato na administração local.
Ademais, mesmo sendo um prefeito interiorano (barreira natural na Grande Vitória), Guerino tem o que mostrar. Ao longo de seus quatro mandatos e meio, conseguiu firmar uma marca: a do desenvolvimento econômico de Linhares, escorado principalmente em um trabalho de atração de novas empresas e investimentos para o município.
A cidade, hoje, pode ser considerada tranquilamente a “locomotiva” do interior do Espírito Santo, do ponto de vista do crescimento e da atividade econômica. Por esse critério, deixou para trás há muitos anos Cachoeiro e a vizinha Colatina. E cumpre reconhecer que esse boom iniciou-se justamente nas duas primeiras administrações de Guerino (1997-2004) – empresário e administrador antes de se tornar político –, tendo se intensificado em anos mais recentes.
Então o que é que está emperrando?
Tudo isso somado, Guerino hoje trabalha, com motivos de sobra, para pôr de pé sua pré-candidatura ao governo. Qual é então, ora bolas, o grande obstáculo do prefeito? Resposta: seu próprio partido.
Filiado há muitos anos ao MDB, Guerino não tem o menor espaço para concretizar esse projeto pela sigla, já que o partido no Estado está nas mãos da senadora Rose de Freitas. Esta, por sua vez, é aliada de Renato Casagrande (PSB) e deve levar o MDB a apoiar a reeleição do governador – se possível, disputando ela mesma a reeleição ao Senado na chapa majoritária de Casagrande. Se ficar no MDB, Guerino não terá legenda e estará fora do jogo antes do apito inicial. Simples assim.
Vai daí que, para emplacar sua candidatura ao Palácio Anchieta, o primeiro e indispensável passo para Guerino é trocar, até o dia 02 de abril, o MDB por um partido que lhe dê legenda para concorrer. Hoje, a alternativa mais viável para o prefeito é o PSD. Sua candidatura ali tornou-se ainda mais factível a partir da remoção (aliás “autorremoção”) de um obstáculo: a saída de Neucimar Fraga, que até então exercia a presidência estadual do PSD, mas voluntariamente deixou o cargo e o partido na última quarta-feira (23), para entrar no PP.
Com isso, a presidência estadual do PSD passa para o até então vice-presidente, José Carlos da Fonseca Junior, o Zé Carlinhos. Em outras palavras, voa automaticamente, sem escalas, para as mãos do grupo político do ex-governador Paulo Hartung, do qual Guerino faz parte. Os hartunguistas acabam de ganhar o controle do PSD no Espírito Santo. Em nível estadual, o caminho fica livre para que Guerino se filie ao PSD e lance sua candidatura ao governo, com a ajuda do sujeito oculto, Paulo Hartung – incentivador do histórico aliado.
E Ricas?
Outra boa notícia para Guerino é o súbito mergulho do seu virtual concorrente interno pela legenda do PSD para disputar a mesma vaga. O superintendente da Polícia Federal no ES, Eugênio Ricas, também pretende (ou pretendia) se filiar ao PSD e se candidatar ao governo pelo partido. Chegou a se apresentar publicamente e a dar entrevistas como aspirante a candidato. Mas, nos últimos dias, o movimento do cometa Ricas esfriou com a mesma rapidez com que foi colocado na rua. O delegado dá sinais de que vai recolher o carro e continuar à frente da PF no ES, em vez de se desincompatibilizar até o dia 02 de abril.
Nesse caso, Ricas preferiria não largar a chefia da Superintendência para entrar numa disputa interna com Guerino sem garantia alguma de que obterá a legenda – até porque, convenhamos, seria realmente um movimento para lá de arriscado: renunciar à tão cobiçada posição de superintendente, em prejuízo da própria carreira e da ascensão nos quadros da PF, para correr o risco de lá na frente ficar com a brocha na mão, sem chefiar a PF no ES nem poder disputar o governo.
E Kassab?
Neucimar fora tá ok… Ricas fora tá quase ok… Se dependesse só do contexto local, dir-se-ia que tudo agora está mais fácil para Guerino. “Se dependesse só do contexto local”: só que não, muito pelo contrário.
O PSD é um desses partidos com uma característica singular. “Singular” no sentido literal, como antônimo de “plural”. É um partido que tem dono. Especificamente, é o partido de Gilberto Kassab. E, como todo cacique partidário de todo partido desse porte (ainda mais pertencente ao Centrão), o que Kassab mais quer nessa eleição, sem dúvida alguma, mais que eleger governadores, mais até que fazer o presidente da República, é eleger deputados estaduais e, principalmente, federais (que é o que garante a cada legenda recursos do Fundo Partidário, tempo de TV etc.).
Assim, antes de mais nada, Kassab terá que ser convencido de que lançar a candidatura de Guerino aqui no ES é um bom negócio para ele e para o seu partido. Por isso a missão nº 1 de Guerino agora, correndo contra o tempo, é montar e apresentar a Kassab, até 02 de abril, uma chapa competitiva com 11 pré-candidatos a deputado federal, para em outubro poder lhe entregar pelo menos um no Espírito Santo.
Na prática, precisa levar com ele um punhado de candidatos respeitáveis a federal, filiando todos nos próximos dias ao PSD. Sem isso, fica muito difícil.
De todo modo, seja nesse urgente trabalho de montagem expressa de uma chapa, seja nesse diligente trabalho de convencimento de Kassab, Guerino poderá sempre contar com os bons préstimos de seu mentor político.
Isso é um trabalho para Paulo Hartung.
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