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Coluna Inovação

Os demônios da Faria Lima

Compreender o funcionamento das expectativas, investimentos e decisões de empresas é essencial para enxergar o papel do mercado no desenvolvimento econômico

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O mercado não é um vilão: é o conjunto de forças que impulsionam investimentos, crescimento e geração de empregos. Foto: Freepik

O mercado não é um vilão: é o conjunto de forças que impulsionam investimentos, crescimento e geração de empregos. Foto: Freepik

Quando o dólar ou a taxa de juros sobem, logo aparece alguém para colocar a culpa numa figura etérea chamada mercado.
Essa figura, mal compreendida, o tal mercado, muitos consideram uma força do mal, desvinculado do mundo produtivo e dominado por inescrupulosos banqueiros, de preferência internacionais.

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Ainda hoje existe um desconhecimento de como funciona o mercado e muitas cabeças formadas nas visões simplórias da economia planejada ainda resistem a entender o papel das iniciativas individuais, das expectativas e da lei da oferta e da procura.

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O mercado é apenas o conjunto de empresas, fundos, instituições em geral e pessoas físicas que procuram alocar seus recursos disponíveis em investimentos, projetos, empresas ou papéis que lhes dêem uma remuneração interessante de forma segura, no presente ou no futuro.

Como imaginar o setor produtivo da economia sem esse mercado? Quando uma empresa toma um empréstimo no banco para financiar seu crescimento é o mercado que está disponibilizando a poupança que alguém depositou lá. Quando uma empresa lança ações na bolsa, para se financiar, é o mercado que compra com seus fundos de pensão, fundos de ações ou diretamente com os investidores individuais que não precisam mais da intermediação de bancos. Quando um governo licita uma concessão de estradas ou um poço de petróleo ou quando pretende privatizar alguma empresa, está lá o mercado comparecendo com as empresas do setor ou os fundos interessados na possível rentabilidade do negócio.

Juros altos atrapalham o próprio mercado em outros setores. A bolsa cai, o crédito cai, o financiamento imobiliário cai, os investimentos caem, os IPO caem, a inadimplência aumenta. Achar que a Faria Lima fica contente com juros altos nem sempre é verdade.

O mercado aposta, arrisca, acredita, desconfia, prevê, tem coragem, tem medo, avança, recua, inova, lidera, segue manada e com isso gera riqueza, empregos, trabalho e renda. O mercado é apenas a resultante da ação simultânea de todas essas forças alimentadas por expectativas, inclusive com especuladores e os manipuladores, que devem sempre ser combatidos.

O preço de uma ação sobe ou desce em função do valor que se atribui a ela a partir das expectativas de lucro futuro, assim como as decisões de investimento são feitas pensando se as perspectivas da economia e daquele setor são boas ou ruins ou se o empreendedor é confiável. O mal falado mercado é que salva governos que gastam mais do que arrecadam e precisam se financiar. O Tesouro Direto coloca esses papéis do governo disponíveis para quem quer investir e o governo deve prometer os juros que compensem o risco.

Os desinformados reclamam que o Brasil gasta muito com juros, pedem até uma auditoria da dívida, que não está principalmente na mão de banqueiros internacionais como pede a paranoia, mas na nossa mão mesmo que investimos nos fundos de renda fixa. Nós e também os fundos de pensão que garantem os salários de vida inteira dos aposentados das estatais. Se reclamar dos rentistas tem que ir para a frente do espelho. Seria melhor reclamar que o governo gasta mais do que arrecada e precisa tomar emprestado. Ainda bem que existe o mercado para emprestar. Mas é sempre mais conveniente culpar o termômetro pela febre.

A esquerda gosta de distribuir riqueza – o que é justo – mas desconfia de empresários e acha que o governo pode gerar riqueza, como se uma pessoa pudesse se levantar do chão puxando pelos próprios cabelos. Empresário é bicho arisco. Faz contas e só investe se achar que vai ter retorno. Do contrário, não gera emprego, nem impostos, nem PIB. E não vai haver riqueza para distribuir. A economia de mercado não funciona com palavras de ordem e nem com ameaças. Funciona com empreendedorismo e confiança.

Enfim, o mercado é movido pelas expectativas de cada um sobre o futuro, inclusive daqueles que são contra o mercado. Melhor procurar os demônios em outros lugares.


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Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração certificado pelo IBGC e Conselheiro do CQC Inovação do Ibef/ES. Tem extensa experiência profissional, no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Brasília, como empresário, executivo de empresas públicas e privadas, conselheiro de administração e consultor nas áreas de TI, inovação, qualidade, gestão, estratégia, empreendedorismo e meio ambiente, além de ser mentor e investidor em startups. Participa do programa EStúdio 360 Inovação na TV Capixaba e no programa Inovação na Band News FM. Co-autor do livro Vencedores pela editora Qualitymark. É atualmente Presidente do Cdmec- Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico.

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