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O bitcoin não será substituído

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Por Matheus Camargo

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Após o início do funcionamento da rede do bitcoin, outros projetos de criptoativos baseados em tecnologias semelhantes — em maior ou menor grau — foram sendo desenvolvidos. A essas outras criptomoedas chamamos altcoins. O problema é que, muitos desses projetos, visando proporcionar maior simplicidade, eficiência e rapidez, além de menores custos e menor dispêndio energético às suas respectivas operações, foram construindo dinâmicas de rede que se afastam da dinâmica da blockchain do bitcoin na medida em que, por vezes, faltam-lhes as características fundamentais da blockchain original.

Um exemplo disso é o próprio Ethereum, atualmente a segunda maior dominância do ecossistema cripto, representando – no dia 30 de maio de 2021 – 18,09% da capitalização desse mercado, frente aos 43,15% do bitcoin. O Ethereum foi concebido em 2013 pelo seu criador, Vitalik Buterin, e é um projeto com larga utilização em aplicações inovadoras, tais como, smart contracts e Descentralized Autonomus Organizations (DAOs). Diferentemente do anônimo Satoshi, Buterin é uma pessoa pública, o que demonstra certo grau de centralização da rede Ethereum.

Outra diferença entre os projetos se refere ao protocolo de consenso utilizado, visto que a rede Ethereum passa, atualmente, por uma transição da prova-de-trabalho (Proof-of-Work, PoW) para outro tipo de protocolo, conhecido como prova-de-participação (do inglês Proof-of-Stake, PoS). Sumariamente, a dinâmica desse protocolo é a de que quanto mais unidades do criptoativo um nó da rede detiver, maior será o seu poder de verificação na mineração de novos blocos. Isso é um incentivo econômico para que aqueles que possuem mais ativos mantenham a integridade da rede.

A vantagem dessa mudança é a redução colossal no gasto energético. Contudo, a noção absoluta da desnecessidade de terceiros que interfiram no funcionamento da rede é posta à prova, o que, inclusive, já aconteceu de fato no episódio da bifurcação (fork) da rede Ethereum.

O fork da rede Ethereum ocorreu em decorrência de um hacker que explorou falhas nos códigos originais de uma das aplicações da rede, conseguindo extrair uma quantia significativa de criptoativos. Ora, se a proposta da blockchain original é que ela seja um local de registro imutáveis e sem a interferência de terceiros, o fato de haver sido realizado um fork na blockchain do Ethereum (de modo que os criptoativos perdidos fossem recuperados) demonstra que ela se distancia da blockchain do bitcoin.

Do episódio em questão, resultaram duas blockchains independentes, com pontos em comum apenas em seus primórdios. O novo encadeamento tornou-se o Ethereum propriamente dito, ao passo que o encadeamento original passou a ser o Ethereum Classic.

No aspecto monetário, enquanto o Ethereum é um ativo inflacionário, não havendo limites à expansão da sua oferta monetária, o bitcoin é um ativo deflacionário, pois a sua oferta monetária é limitada pelos seus protocolos originais a vinte e um milhões de unidades. Essa dicotomia leva a questionar os projetos de criptoativos com oferta monetária ilimitada na medida em que não são soluções muito diferentes – ao menos sob esse ponto de vista – das tradicionais moedas fiduciárias.

Isso coloca sob discussão a real integridade, descentralização, segurança e imutabilidade da blockchain do Ethereum, e também de outras altcoins, haja vista que muitas funcionam de maneira semelhante a ele num ou noutro ponto; porém, na grande maioria das vezes, são ainda mais frágeis.

Sobre o autor

Matheus Camargo. Foto: Divulgação/Ibef

Matheus Camargo. Foto: Divulgação/Ibef

Matheus Camargo é defensor da liberdade, empreendedor e investidor até o último dia de vida. Entusiasta do mercado financeiro e da tecnologia blockchain. Membro do IBEF Academy. Possui experiência de 5 anos como Oficial do Exército Brasileiro.


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