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Coluna Vitor Vogas

Líder do governo pode virar solução para Casagrande na eleição da Assembleia

Comendo pelas beiradas, o discretão Dary Pagung não pode ser descartado na concorrência interna para ser o próximo presidente da Casa. Confiável e leal ao governador reeleito, ele pode despontar como “solução doméstica” para o Palácio Anchieta

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Dary Pagung. Foto: Tati Beling

Nesta etapa preliminar da eleição da próxima Mesa Diretora da Assembleia, marcada para 1º de fevereiro, o deputado reeleito Marcelo Santos (Podemos) e o eleito João Coser (PT) largaram na frente. Segundo outros parlamentares, os dois já estão se articulando. Correndo por fora, porém, dois outros deputados experientes, ambos reeleitos, podem surpreender quando a disputa se afunilar, lá para meados de janeiro: o presidente estadual do PSDB, Vandinho Leite, e o líder do governo Casagrande na Casa de Leis, Dary Pagung (PSB). Os dois não podem ser descartados, principalmente Dary.

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Reeleito para seu 5º mandato consecutivo, o deputado de Baixo Guandu pode despontar como uma “solução doméstica” para o Palácio Anchieta nesse processo. Além de ser correligionário de Renato Casagrande e seu líder em plenário, Dary é considerado um dos mais leais aliados do governador na Casa. Essa lealdade inquebrável foi provada novamente na última campanha eleitoral – há relatos de que Dary só fez e distribuiu material de campanha casado com o do governador (só com fotos dos dois juntos), mesmo em locais onde a rejeição a Casagrande era maior.

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E, se o nome do próximo presidente ainda está longe de estar definido, uma certeza se pode carimbar desde já: a de que, desta vez, diferentemente de 2019 e 2021, Casagrande só não emplaca o presidente de sua preferência se não quiser. Nesse caso, Dary poderá cair de vez nas graças de Casagrande, ser ungido pelo governador e apresentado pelo governo, via Casa Civil, como o candidato oficial do Palácio, nos idos de janeiro. Até lá, pode e deve jogar parado. O Palácio se encarregaria de fazer todo o esforço de articulação por ele. Apontaria para Dary e diria “é ele, sigam-no todos que quiserem pertencer à base”.

Dary pode emergir como essa solução caseira para o governo Casagrande porque reúne dois pré-requisitos imprescindíveis.

O primeiro é a confiabilidade: uma fidelidade canina que inspira aos palacianos confiança absoluta e a segurança de que, pelos dois anos seguintes, o chefe do Poder Legislativo não causará nenhum problema, contratempo ou sobressalto ao Executivo. No que depender da condução da Assembleia, o governo poderá navegar por mares perfeitamente serenos após quatro anos de uma relação com o atual presidente, Erick Musso, marcada por algumas tempestades, redemoinhos e um tsunami em novembro de 2019 (com a reeleição antecipada da Mesa, depois anulada pela Justiça).

Além disso, Dary é considerado um nome que “passa fácil” entre os colegas de plenário. Como líder do governo, desenvolveu bom trânsito até com deputados de oposição, pois é considerado um cumpridor de palavra, sem enrolação ao dialogar e negociar: se dá para fazer, ele diz que dá; se não dá, não dá e pronto.

É bom lembrar que Casagrande deve formar maioria na Casa sem dificuldade – 15 dos 30 estaduais se elegeram pela sua coligação, Camila Valadão (Psol) o apoiou no 2º turno, e há oito eleitos pela coligação do Republicanos com o União Brasil, o Patriota e o PSC, os quais, ao menos em parte, poderão ser atraídos para a base –, mas a oposição formada por PL e PTB elegeu seis deputados e promete dar trabalho em plenário ao próximo governo.

Um presidente que transite bem também com a extrema direita entrincheirada nessa bancada poderá ajudar muito o Palácio Anchieta a abrandar a impetuosidade de Capitão Assumção e companhia.

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Coser e Marcelo

Os outros nomes que largaram na frente de Dary, como dito, são Coser e Marcelo, que já estariam se articulando e de fato, hoje, são hoje mais citados por colegas. Em comum com Dary, ambos têm o fato de também serem aliados de Casagrande. No entanto, nenhum dos dois conjuga aquelas duas características identificadas em Dary que podem constituir vantagens para ele nessa disputa interna.

Coser seria, para o governo, um aliado confiabilíssimo sentado à cadeira de presidente. Mas não “passa tão fácil” quanto Dary entre os pares. Tirando os deputados eleitos por partidos de esquerda ou centro-esquerda – minoria, mesmo na coligação de Casagrande –, o ex-prefeito de Vitória pode encontrar dificuldades de aceitação entre parlamentares de centro-direita e direita eleitos fora e até dentro da base do governador. Isso, é claro, por ser líder estadual do Partido dos Trabalhadores (PT).

Quanto a Marcelo, dá-se meio que o contrário. Experiente e astuto articulador, o decano da Assembleia pode conseguir reunir os apoios necessários e construir em torno de si a maioria matemática para se eleger, na sua negociação direta com os deputados reeleitos e os novatos – a qual pode passar inclusive por cargos comissionados ligados à atual Mesa Diretora, onde ele exerce influência como 1º vice-presidente. Para isso, Marcelo talvez possa até contar com a ajuda do atual presidente, Erick Musso, que assim, mesmo sem mandato, poderia tentar preservar alguma influência na direção da Casa. É o que muito se especula.

O problema é que, ao contrário de Dary e de Coser, Marcelo não desperta entre alguns conselheiros palacianos aquela sensação de confiabilidade máxima e inabalável. Alguns mantêm o pé atrás com ele. E essa relativa desconfiança é reforçada justamente pela mencionada proximidade de Marcelo com Erick desde que os dois chegaram juntos à Mesa em 2017 – este desbancou Theodorico Ferraço contando com articulação conduzida por aquele. Desde então os dois não saíram mais do comando da Casa. Marcelo foi 1º vice-presidente de Erick nos últimos três biênios e atuou como primeiro oficial de sua tropa interna nos últimos seis anos.

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Tyago Hoffmann

Ao lado de Dary, uma solução doméstica para Casagrande – porque seu correligionário e porque também aliado forte dele – poderia ser Tyago Hoffmann (PSB), nome já aventado pela coluna em nossa primeira análise sobre o tema. Tyago, contudo, parece uma carta eliminada já na primeira rodada do jogo, um nome riscado de pronto da lista de “candidatos viáveis”.

A bem da verdade, o ex-secretário estadual de Governo jamais chegou a manifestar interesse no cargo, ao menos publicamente, mas seu nome chegou a ser cotado. Segundo relatos, porém, ele não teria a mínima chance. Mesmo dentro da base do governo, o que lhe falta em apoio lhe sobra em arestas com os futuros colegas. Dito de outro modo, Tyago teria enorme dificuldade em receber o voto mesmo de outros deputados eleitos pela coligação de Casagrande, devido às arestas que acumulou com eles no percurso para chegar à Assembleia.

Isso não somente devido aos seus tempos de atuação como secretário de Governo, mas porque existe um (res)sentimento generalizado entre deputados governistas de que Tyago foi muito favorecido, durante a campanha, por um governo que fez de tudo para o eleger, pondo a máquina inteira para operar em seu benefício, em detrimento de muitos outros aliados que não gozaram dos mesmos privilégios.

Vandinho Leite

Correndo por fora, mas bem por fora, na raia mais externa de todas, o deputado Vandinho Leite é outro que não pode ser de todo esquecido nesse processo. Também é muito experiente, bem articulado, aliado do governo Casagrande e preside no Estado um partido muito importante da coligação governista: o PSDB do vice-governador eleito, Ricardo Ferraço.

Eu diria, porém, que aquele fator “confiabilidade a toda prova” também pode pesar um pouco contra o deputado tucano, já que, se hoje ele é aliado indubitável do atual e do próximo governo Casagrande, o mesmo não podia ser dito até pouco tempo atrás. Na verdade, até o fim de 2020, a situação era bem outra: Vandinho oscilou bastante na relação com o governo e, até a metade do atual mandato, estava no bloco de oposição, ao lado de Pazolini, Assumção, Bahiense, Carlos Von e Torino Marques.

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

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