fbpx

Coluna Vitor Vogas

Gilson Daniel não estará na nova equipe de Casagrande

Por decisão do governador, deputado federal eleito não voltará para a equipe de governo e exercerá o mandato na Câmara. Isso aproxima Gilson da eleição a prefeito de Cariacica em 2024. Entenda as razões de Casagrande e as consequências eleitorais para Gilson

Publicado

em

Gilson Daniel vai exercer mandato na Câmara dos Deputados

No dia 1º de dezembro, o governador Renato Casagrande (PSB) preparava-se para começar uma coletiva de imprensa sobre o dilúvio que caiu no Espírito Santo no início deste mês, quando a colega Fabi Tostes, do jornal online Folha Vitória, perguntou-lhe se o deputado federal eleito Gilson Daniel (Podemos) seria puxado de volta para o secretariado. Casagrande desconversou um pouco, mas afirmou: “Gilson tem um mandato para exercer em Brasília”.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Não era preciso dilúvio nem tempestade. Para bom entendedor, um pingo é letra: o governador não tinha a menor intenção de voltar a escalar o aliado como secretário e preferia contar com ele em Brasília, assumindo e exercendo o seu mandato como deputado federal a partir de fevereiro. E também aqui, no último dia 3, vaticinei que o governador não pretendia convocar não somente Gilson, mas nenhum aliado eleito para deputado estadual ou federal em outubro (por um motivo que recordarei melhor mais à frente).

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

A previsão se cumpriu: nesta segunda-feira (12), o próprio Gilson Daniel confirmou à coluna que não voltará para a equipe de governo e que exercerá o seu mandato na Câmara. Isso após uma conversa definitiva entre ele e Casagrande, em um café compartilhado neste fim de semana. Na conversa, o governador disse ao ex-prefeito de Viana que prefere mesmo contar com o apoio e a colaboração dele no mandato para o qual se elegeu. A decisão foi de Casagrande, é claro.

“Sim, isso é normal”, confirmou Gilson. “O governador conta comigo, temos uma relação pessoal.”

É o que prefere Casagrande – e a palavra final sobre montagem de equipe é dele, obviamente –, mas não é bem o que queria Gilson, pelo menos não no início.

Quarto deputado federal eleito com mais votos no Espírito Santo em outubro, o presidente estadual do Podemos nutria interesse real em voltar a fazer parte do 1º escalão no próximo governo Casagrande, a contar de 1º de janeiro, de preferência à frente ou da Secretaria de Agricultura ou da Secretaria de Desenvolvimento Urbano.

São duas pastas com muitas entregas e, em tese, um trabalho bem realizado no comando de uma ou de outra poderia cacifá-lo para lançar candidatura à sucessão de Casagrande em 2026 – o que, diga-se, não está descartado.

Eventual retorno de Gilson ao secretariado estadual – ele foi chefe das pastas de Governo e de Planejamento na atual administração – também resolveria outro pleito do Podemos: o ex-secretário estadual de Segurança Pública, Alexandre Ramalho, 1º suplente do partido na Câmara, assumiria o mandato no lugar dele. É o que o próprio Ramalho também preferia. Mas isso, igualmente, não vai se concretizar.

Agora, a presença de Ramalho no secretariado do governo Casagrande 3 virou questão de honra para Gilson e para o Podemos. O partido até já tem uma representante certa no alto escalão da próxima gestão: Emanuela Pedroso, braço direito do próprio Gilson e secretária estadual de Planejamento desde abril, foi anunciada na semana passada por Casagrande como secretária de Governo a partir de janeiro. Ela é filiada ao partido.

Entretanto, Gilson é enfático ao falar da expectativa de reconvocação de Ramalho: “Com certeza. A indicação do Podemos é Ramalho. É na pessoa do Ramalho que o Podemos se sentirá representado”.

Com efeito, Ramalho tem boas chances de retornar à equipe de governo. No caso dele, não tanto por uma questão de cumprimento de cota partidária, mas porque o governador realmente gostaria de poder voltar a contar com ele na Secretaria de Segurança Pública (Sesp), de cujo comando só saiu, em abril, para ser candidato a federal.

Os efeitos eleitorais da decisão de Casagrande

Em termos de planejamento eleitoral, a consequência do não retorno de Gilson ao governo estadual é que, agora, fica ainda maior a possibilidade de ele se lançar candidato a prefeito de Cariacica contra Euclério Sampaio (UB) em 2024.

Se ele se tornasse secretário de Agricultura ou de Desenvolvimento Urbano, o trabalho seria usado como vitrine para uma candidatura ao governo estadual em 2026. Como isso não aconteceu, o plano A pode passar a ser Cariacica, logo ali, daqui a dois anos.

Gilson apoiou a eleição de Euclério em 2020, mas a relação política entre eles está abalada desde o processo eleitoral deste ano. Isso porque, em Cariacica, Euclério fez tudo para eleger o candidato apoiado por ele a deputado federal: Messias Donato (Republicanos), realmente eleito. Gilson sentiu-se prejudicado. Desde então, os dois têm mantido contatos frios e formais.

Entretanto, o ex-prefeito de Viana evita falar de eleições neste momento: “Tenho que trabalhar. É meu trabalho que vai me dizer se tenho condições de me candidatar a algum cargo”.

Os porquês do “não” de Casagrande

Casagrande não quis chamar Gilson de volta para a equipe por duas razões.

A primeira é uma regra de ouro que ele instituiu como critério na composição do novo time: não convidar nenhum deputado federal ou estadual eleito de maneira a permitir que o 1º suplente assuma a vaga na Câmara Federal ou na Assembleia.

No Palácio Anchieta, há uma fila que desce pela escadaria Bárbara Lindenberg (aquela em frente à sede do Executivo), formada por aliados levando pedidos com o mesmo escopo. Nessa fila se encontram, por exemplo, Freitas (1º suplente do PSB na Câmara), Bruno Lamas (1º suplente do PSB na Assembleia) e Alexandre Quintino (1º suplente do PDT na Assembleia).

Nenhum deles vai nem para o 1º escalão do governo nem para a vaga dos respectivos titulares na Assembleia e na Câmara. É mais provável que sejam acomodados em cargos do 2º escalão.

No entendimento do governador, se ele abrisse exceção para Gilson Daniel, quebrando a própria regra de ouro, teria que ceder para os demais, ficando refém de aliados antes mesmo do início do próximo governo.

A segunda razão é que, no Congresso muito dividido e instável que se configura para os próximos quatro anos, será muito importante para Casagrande ter em Brasília, guardando posição estratégica, aliados firmes e fortes com quem ele saiba que poderá contar.

A divisão do Congresso não vale somente em relação ao governo Lula (PT). No Espírito Santo, dos dez deputados federais eleitos, três apoiaram Manato (PL) contra Casagrande: Gilvan (PL), Amaro Neto (Republicanos) e Evair de Melo (PP). Isso sem falar no senador eleito, Magno Malta (PL).

O possível retorno de Ramalho

Ramalho a princípio não priorizava retornar à Secretaria de Segurança (Sesp), tampouco assumir a Secretaria de Justiça – outra pasta para a qual é cotado. Como dito, o que ele preferia mesmo era subir para a Câmara. Mas, como essa saída agora está vedada, poderá ser convencido a mudar de ideia.

Se Ramalho realmente estiver na foto oficial do próximo secretariado, não será o único candidato a deputado não eleito na moldura. O deputado estadual Renzo Vanconcelos (PSC) é nome certo no 1º escalão, assim como o deputado federal Felipe Rigoni (UB). Este último só não estará lá se resolver aceitar algum outro convite mais tentador.

Ambos foram bem votados individualmente, mas não conseguiram vaga na Câmara por causa da legenda. Renzo tem maiores chances de assumir a Secretaria de Esportes, mas também já foi cotado para a Agricultura. O convite feito a Rigoni é para assumir a de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Se Ramalho não voltar para a Sesp, a tendência é que Casagrande mantenha no cargo o atual secretário, coronel Márcio Celante.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui

Vitor Vogas

Nascido no Rio de Janeiro e criado no Espírito Santo, Vitor Vogas tem 39 anos. Formado em Comunicação Social pela Ufes (2007), dedicou toda a sua carreira ao jornalismo político e já cobriu várias eleições. Trabalhou na Rede Gazeta de 2008 a 2011 e de 2014 a 2021, como repórter e colunista da editoria de Política do jornal A Gazeta, além de participações como comentarista na rádio CBN Vitória. Desde março de 2022, atua nos veículos da Rede Capixaba: a TV Capixaba, a Rádio BandNews FM e o Portal ES360. E-mail do colunista: [email protected]

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.