Coluna Vitor Vogas
Felipe Rigoni lança autobiografia
Aos 30 anos, o pré-candidato ao governo conta em quem votou para presidente, histórias pessoais de superação, decepções no Congresso e bastidores da campanha e do mandato
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O deputado federal Felipe Rigoni (União Brasil), pré-candidato a governador, está prestes a lançar um livro contando a sua história de vida. Publicada pela Editora Intrínseca, no selo História Real, a autobiografia leva o título “Sempre uma escolha – Minha jornada contra o medo, o preconceito e a má política”. Ao longo das 270 páginas da obra, Rigoni conta em primeira pessoa parte da sua vida pessoal, das suas superações devido à deficiência visual, da campanha à Câmara dos Deputados em 2018 e da sua experiência como congressista nos primeiros três anos de mandato.
O livro foi elaborado com a ajuda da jornalista e escritora Sibelle Pedral, que realizou inúmeras entrevistas com ele durante quase um ano e costurou todas as histórias, como conta o próprio Rigoni na seção de agradecimentos. A ghost writer já foi repórter da revista Veja e redatora-chefe da revista Claudia (ambas do grupo Abril). O editor é Roberto Feith e o prefácio é assinado pelo economista Marcos Lisboa, consultor técnico informal de Rigoni em muitos temas debatidos no Congresso.
Na primeira metade do livro, o deputado narra – ora com humor, ora com emoção – histórias de sua vida pessoal, com a família em Linhares e como estudante em Ouro Preto e em Oxford, antes de entrar para a política. Em detalhes, ele narra o doloroso processo da cegueira gradual que o acometeu, desde que foi diagnosticado, aos seis anos, com uma doença degenerativa nos olhos, passando pelas várias cirurgias, até ficar totalmente cego aos 15 anos. Não tangencia os medos e a ansiedade que experimentou durante esse período e nos anos seguintes.
Essa parte da obra é pontuada por relatos de superação pessoal, desde algo aparentemente mais “simples” – mas não para um cego –, como a primeira viagem de ônibus que, já cursando Engenharia na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), realizou sozinho até Linhares, para visitar os pais, quando tinha 17 anos. As outras aventuras foram ainda mais ousadas: intercâmbio nos Estados Unidos e mestrado em Oxford, na Inglaterra. Seu projeto de fim de curso: eleger-se deputado federal por seu país. Foi ali que nasceu a ideia.
Pra cego ver (e escrever)
A segunda metade da biografia é mais centrada no mandato parlamentar: Rigoni passa pelas principais bandeiras de seu mandato, como a melhoria da educação pública e a garantia de renda mínima para a população mais vulnerável, e também aborda momentos como a relatoria do novo marco legal do saneamento básico, a definição de suas emendas parlamentares com participação popular direta, a instituição do orçamento secreto (segundo ele, “um orçamento zoado”), a eleição de Arthur Lira (PP) como presidente da Câmara, em fevereiro de 2021, a votação da reforma da Previdência, com o seu apoio, e a consequente punição que sofreu da direção nacional do PSB, levando-o a decidir sair do partido pelo qual se elegeu em 2018.
Além de fruto de confessa decepção, a pena aplicada pelo PSB parece ser um trauma não superado por Rigoni nesse início da trajetória política do deputado.
No capítulo frustrações, há espaço para outros desabafos: “Em pouco mais de três anos de mandato, tive um curso completo das mazelas da vida política brasileira”, registra o autor da autobiografia.
Ele também se queixa dos lobbies corporativistas que dominam Brasília: “o sindicato do cidadão brasileiro (#SQN)”. “O poder público é capturado por interesses de grupos organizados”, afirma o deputado, que, ao longo do texto, define a si mesmo como “um cego ruim em ser cego” e “um liberal por evidência”. E, com senso de humor (ele costuma fazer piadas sobre a própria condição), pergunta, em alusão ao super-herói da Marvel Comics que, como ele, é cego: “Eu seria o Demolidor?”
Em quem votou em 2018?
Na obra, Rigoni revela que votou em Ciro Gomes (PDT) no 1º turno da eleição para presidente em 2018. No 2º, votou em branco. Ele explica as opções:
“Ciro era minha esperança de um segundo turno sem a temida polarização entre Fernando Haddad, o candidato do PT, e Jair Bolsonaro, na época no pequeno PSL, uma legenda até então inexpressiva. Rezando pela minha cartilha liberal, eu teria preferido Henrique Meirelles, o ex-presidente do Banco Central que tanto fizera pela liberdade econômica, ou João Amoêdo, do Novo, mas dei um raro voto útil. No segundo turno, entre Bolsonaro e Haddad, votei em branco, algo inimaginável exceto naquela circunstância. Eu não escolheria o PT, que havia sido responsável pelos maiores escândalos de corrupção na história do país, e tampouco Bolsonaro, sobre quem, já na época, guardava sérias reservas em relação à capacidade de gestor e discordâncias sobre seus posicionamentos ultraconservadores.”
Bolsonaro: “presidente mentiroso”
E as críticas a Bolsonaro não param aí. Rigoni diz que, já no Congresso, “enfrentaria um presidente mentiroso que, em vez de trabalhar pelo país, se ocupava em proteger os filhos investigados por corrupção e diariamente fabricava tensões e brandia ameaças às nossas instituições democráticas”.
Observações do colunista
O PSL realmente era “uma legenda inexpressiva” em 2018, mas cresceu com Bolsonaro, fundiu-se ao DEM e deu origem ao União Brasil… que vem a ser o atual partido de Rigoni, inclusive presidido por ele no Espírito Santo desde março. Quanto a Bolsonaro, é o provável candidato à Presidência do chefe da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), com quem Rigoni tem ensaiado uma parceria eleitoral na disputa pelo governo estadual.
Precocidade
Como tudo em sua vida, a autobiografia de Felipe Rigoni é precoce (digo-o não no sentido pejorativo). Com apenas 30 anos, ele conta a sua história de vida. Como paralelo, ocorre-me o clássico “Feliz Ano Velho”, de Marcelo Rubens Paiva, autobiografia lançada pelo autor quando tinha 23 anos, em 1982. Como Rigoni, Paiva carrega uma limitação física desde a juventude: é paraplégico.
Agradecimentos
Nos agradecimentos, Rigoni inclui os 84.405 eleitores que votaram nele em 2018 e o cientista político João Gualberto Vasconcellos (um dos estrategistas de sua campanha ao governo e um dos que leu a primeira versão do livro e contribuiu com sugestões). Além disso, reserva uma menção especial a Victor Casagrande, filho do governador Renato Casagrande (PSB) e seu melhor amigo:
“Agradeço em especial a meu amigo Victor Casagrande, que além de um irmão se tornou um conselheiro. Victor, você com certeza foi responsável por muitos dos grandes momentos e feitos na minha vida. Obrigado por tudo!”
Dedicatória
A dedicatória de Rigoni traduz bem o espírito da obra:
“Dedico este livro a todas as pessoas que um dia já duvidaram de sua própria capacidade. Espero que estas páginas sirvam de inspiração. Que transmitam a ideia de que, independentemente da situação que vivemos, sempre temos uma escolha. A escolha da nossa atitude diante de uma situação. Dedico ainda este livro a todos que acreditam que política pode ser uma ferramenta de transformação da sociedade. Como disse Platão, se os bons não ocuparem a política, os maus o farão. E, especialmente, dedico este livro a todos que acreditam que o Brasil pode ser, e um dia será, um exemplo de liberdade, integridade e prosperidade.”
A República e a república
Além da citação ao autor de “A República”, Rigoni dedica um agradecimento aos amigos que fez na república onde morou nos tempos de universitário em Ouro Preto – sugestivamente chamada Copo Sujo.
O dia da eleição: ansiedade e desmaio
O primeiro relato de Rigoni é bem interessante: na introdução, ele conta em detalhes cada momento vivido no dia 7 de outubro – data do 1º turno eleitoral em 2018. Ansioso confesso, o deputado revela que sua ansiedade nesse dia explodiu, antes da apuração dos votos. Ele e mais de cem pessoas, entre familiares, amigos e colaboradores de campanha, reuniram-se numa casa da família, em Linhares, para acompanhar a apuração dos votos, em uma concentração regada a chope (copo sujo?).
“Meu pai imóvel, catatônico de tensão”, descreve ele; Victor Casagrande fazendo as contas, diante do computador. Até que saiu o resultado: 84.405 votos, marca que fez dele o segundo candidato mais votado a deputado federal no Espírito Santo. Sua coordenadora de campanha e atual chefe de gabinete, Ingrid Lunardi, desmaiou. “Eufórico e emocionado”, ele conta ter dado o mais longo abraço de sua vida em seu pai.
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