IBEF Academy
Dinheiro e pecado
Por Anelise Cypreste Santos
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Nas rodadas de discussão da turma de Finanças, muito se falava acerca da importância da Educação Financeira nas escolas, sobre como a disciplina e o conhecimento em Finanças poderia trazer benefícios à sociedade. É inegável a importância de nós, adultos, conhecermos ao menos o básico para não sermos ludibriados por empréstimos com altíssimas taxas de juros compostos e investimentos com retornos mágicos e exorbitantes, que costumam ser castelos de cartas marcadas (pirâmides e fraudes correlatas).
O ato de gerar riqueza com juros já foi até pecado. Trazendo um contexto histórico, a usura (cobrança de juros) já foi considerada um pecado pela Igreja Católica. Situação incrivelmente diferente do que vivemos hoje, considerando os altos juros praticados pelos bancos no Brasil, que ultrapassam 300% ao ano.
Partindo do princípio de que saber administrar o nosso próprio dinheiro é algo imprescindível, me estranha o fato de na infância já termos sido advertidos com frases do tipo “o dinheiro é a raiz de todo mal”, ou, “o dinheiro é sujo”. Quando adultos, ao não atingir a faixa de renda que gostaríamos, entoamos a manjada justificativa “o dinheiro não traz felicidade”. Há quem justifique o trabalho duro e intermináveis renúncias à vida pessoal como uma recompensa pelo dinheiro, quase uma penitência. Maior penitência seria não ter dinheiro algum, certo?
Veja só, seria o dinheiro uma espécie de bicho papão?
No final do dia, o que importa para uma pessoa pode ter um valor totalmente diferente para outra. O próprio conceito de liberdade individual pode ter uma infinidade de interpretações, dependendo de quem a define. Não estou, no presente artigo, defendendo que dinheiro é bom ou ruim, mas apenas trago uma reflexão sobre o despreparo que a maioria das pessoas tem ao lidar com o dinheiro no início da vida adulta.
Em pesquisa do Serasa de maio de 2021, constatou-se que 7,8 milhões de brasileiros com faixa etária até 25 anos estão endividados. Esse total é 12% do total de endividados no Brasil até esta data. Nessa idade, os limites de crédito são menores, e dívidas educacionais são um enorme peso para quem geralmente ainda tem uma renda menor. Renda pequena, dívida alta, nome negativado logo no início da vida adulta: esse é o coquetel do desespero.
Desde cedo, somos como esponjas, e muito do que levamos no nosso subconsciente e aplicamos a nossas vidas é fruto de nossa criação familiar. Ninguém é escravo apenas do que lhe foi ensinado, porém ter referências dentro de casa, desde cedo, faz toda diferença em uma série de aspectos; e no quesito orientação financeira, isso não poderia ser diferente.
De 2020 em diante, a Educação financeira é parte da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), e com certeza, trazer esse assunto às escolas auxiliará as crianças a lidarem melhor com dívidas, investimentos e produtos financeiros em sua vida adulta. No entanto, a cultura familiar sobre o dinheiro continua pesando mais. O que estamos fazendo para influenciar as crianças e adolescentes próximos de nós para que eles não cheguem à vida adulta tão perdidos em gestão financeira pessoal quanto a maioria das pessoas ao completar seus 18 anos de idade?
Conversando sobre dinheiro com crianças
- O valor das coisas é fruto do trabalho de várias pessoas. Essa cadeia de valor está contida no preço e valor do que se compra/vende. Explicar isso para um adulto pode ser simples, mas para uma criança? Dar valor às coisas é importante. Não há pecado nisso, é só economia básica.
- O que é necessidade e o que é desejo? Tudo que a criança pede, ela deve ganhar? Como ela vai manter esse padrão de vida quando crescer, se não souber diferenciar necessidade de vontade?
- Como evitar o desperdício? Quanto custam as coisas em geral?
- O exemplo dos adultos é mais importante do que falar. Atitudes contam mais.
Enfim, valorizemos o papel crucial da escola e dos professores na formação de nossos futuros líderes e adultos. Mas a responsabilidade não é só deles. É de todos nós.
Sobre a autora
Anelise Cypreste é bacharel em Administração de Empresas e pós graduada em Gestão Financeira (FGV). Atua como Especialista de FP&A na Suzano S/A, é Membro do ciclo de formação de líderes do IBEF Academy e Coordenadora do Comitê de Conteúdo de Economia e Desenvolvimento Econômico do IBEF ES.
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