Coluna Vitor Vogas
Dia de boas notícias para Hartung e sua tese pode se confirmar. Entenda por quê
Ex-governador defende a unificação das forças do centro em uma só candidatura, contra Lula e Bolsonaro. E agora assiste ao recuo de Moro e ao abalo de Doria, enquanto crescem as chances de seu presidenciável preferido

Paulo Hartung. Foto: Arquivo Secom-ES
O ex-governador Paulo Hartung concedeu uma entrevista ao Estadão, publicada nesta quinta-feira (31), esclarecedora e talvez um tanto “profética”. Em primeiro lugar, Hartung praticamente enterra a hipótese de se filiar ao PSD, partido de Gilberto Kassab, para disputar o que quer que seja nas eleições deste ano. Frise-se: ao PSD. Em segundo lugar, dobra a sua aposta no governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), para a eleição presidencial (um “azarão” que ganha força nesse páreo).
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
Em terceiro lugar, o ex-governador reforça a tarefa que considera urgente e prioritária neste período preparatório para a corrida presidencial: unificar em torno de um só candidato o “centro expandido” da política brasileira, hoje disperso em cinco ou seis candidaturas, fragmentadas e espremidas entre os dois extremos que polarizam o debate eleitoral: o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT).
Dito de outro modo, é preciso que a “terceira via” seja uma só: uma única via. Não a quarta, a quinta, a sexta via… Tampouco cinco ou seis candidatos apresentando-se como “a terceira via”.
Na entrevista, Hartung não se apresenta como pré-candidato a nada (o que na verdade pode até vir a ser), mas, primordialmente, como um enfático defensor da tese de que, para “furar essa polarização” e “desviar-se da armadilha populista”, as forças do centro político e democrático brasileiro, da centro-esquerda à centro-direita, dos progressistas aos liberais, deveriam buscar convergir, organizar-se e fundir-se em uma ou duas candidaturas, no máximo, para terem alguma chance de competir com Lula e Bolsonaro (inclusive pela atenção do eleitorado), em vez de se digladiarem entre si e manterem a atual meia-dúzia de pré-candidaturas.
“O que precisamos é de diálogo para ter convergência. A fragmentação não ajuda o eleitor a compreender a diferença programática de um ou de outro”, disse Hartung ao Estadão.
Para o ex-governador, esse cenário atual de “congestionamento” do centro só favorece os representantes do populismo de esquerda e de extrema-direita – respectivamente, Lula e Bolsonaro. A manutenção de tantos candidatos posicionados entre esses dois extremos é politicamente suicida para o “centro expandido”: Moro, Doria, Leite, Ciro, d’Avila, Simone Tebet, o presidenciável a ser lançado por Kassab… Todos acabam neutralizando um ao outro.
“Nesse campo nós temos cinco ou seis candidaturas. Na minha opinião, deveríamos convergir para uma, no máximo duas candidaturas. Com o objetivo de subir o sarrafo do debate sobre o futuro do Brasil, sair dessa discussão rala. Precisamos que o centro expandido se organize para ter relevância no debate nacional”, afirmou PH.
E essa polifonia de vozes tende a interditar o debate racional. Com tantos candidatos da terceira via falando, dizendo coisas parecidas e disputando as migalhas de atenção do eleitorado, os brasileiros devem acabar sendo tragados de novo para dentro da disputa passional já estabelecida entre as bolhas bolsonarista e lulista. “Evidentemente, com seis pretendentes [do centro], essa conversa não vai chegar”, avalia o ex-governador.
Enquanto as forças políticas desse campo se dividem e se enfraquecem mutuamente, Bolsonaro e Lula agradecem – até porque tudo o que os dois desejam é manter uma campanha polarizada e focada exclusivamente um no outro.
Assim, trabalhar para unificar o centro é a missão principal que Hartung deseja ajudar a cumprir, dentro de suas possibilidades. Segundo ele, “uma candidatura unificada terá mais peso para trocar apoio político por programa de governo”. Quer dizer, mesmo que esse candidato do “centro expandido” não avance ao segundo turno, terá na certa mais votos válidos (logo, maior capital político) para se sentar com Lula e/ou Bolsonaro no 2º turno e negociar a adesão a um projeto de governo e de país como exigência para apoiar um deles.
“Nós precisamos organizar o centro expandido da política brasileira. Para que ele traga o seu programa. […] Eu acho que o centro expandido, se unir suas candidaturas e apresentar seu programa com clareza, vai influenciar. Vai influenciar indo para o segundo turno e até se não for para o segundo turno.”
Boas notícias para ele: Leite fica; Moro roda; Doria vacila
O noticiário dos últimos dias, particularmente o de hoje, mostra-se muito positivo para Hartung, relativamente a essa tese propugnada por ele.
Em primeiro lugar, na última segunda-feira (28), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, anunciou sua decisão de continuar filiado ao PSDB, mas renunciando ao governo do estado. Assim, manteve-se vivo como possível candidato à Presidência pelo PSDB (logo dentro do tal “centro expandido” defendido por PH).
Para isso, Leite precisa contar com a desistência do governador de São Paulo, João Doria – que o derrotou nas prévias do partido no ano passado – ou com alguma reviravolta que leve o tucanato a optar por ele, em detrimento do governador paulista.
Nesta quinta-feira (31), essa possível “reviravolta” deu indícios de que pode ocorrer, a partir das especulações de que Doria poderia abandonar a pré-candidatura à Presidência e continuar no cargo de governador. O paulista acabou mantendo o plano original, mas tem três meses para viabilizar uma candidatura que não engrena. Se confirmado até agosto, o passo atrás de Doria será o passo à frente de Leite (levando a reboque Paulo Hartung).
E, mesmo que ele tenha “desistido da desistência”, o abalo à candidatura Doria com o seu “posso desistir” já é grande – assim como a sua rejeição nas pesquisas de intenção de voto.
Ao mesmo tempo, o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro decidiu trocar o Podemos pelo União Brasil e já admite desistir da candidatura à Presidência. Mais ou menos como quer Hartung, de acordo com a sua tese de que “menos é mais” e de que “juntos somos mais [fortes]” (para retomarmos slogans de governos dele no ES).
No momento, o balanço da maré eleitoral parece criar, inesperadamente, uma onda favorável a Eduardo Leite, com a reascensão do governador gaúcho na disputa. Esse súbito revigoramento de Leite também convém a Hartung. O gaúcho é, sem sombra de dúvida, o cavalo em quem o capixaba aposta nessa pré-corrida eleitoral, isto é, nesse páreo preliminar disputado exclusivamente pelos presidenciáveis do centro.
Leite é o pré-candidato favorito de Hartung, com base em todos os sinais recentes que ambos têm fornecido ao mercado: na semana passada, Hartung encontrou-se com ele, fazendo-se acompanhar pelo apresentador Luciano Huck, na sede do governo do Rio Grande do Sul. Logo após o encontro, em post compartilhado por PH, Leite elogiou o ex-governador capixaba no Twitter. Na última segunda-feira, ao anunciar as suas duas resoluções, o governador gaúcho declarou, sobre ele e Hartung no processo eleitoral: “Estaremos juntos”.
E, se alguém ainda tinha alguma dúvida quanto ao entrosamento atual da dupla, Hartung aprovou a decisão de Leite de deixar o governo do seu estado para manter-se apto a disputar a Presidência e tratou de declarar em sua entrevista ao Estadão: “[Ele é] um jovem que mostra uma enorme maturidade e disposição de ajudar para que o Brasil encontre o seu caminho”.
Portanto, se Hartung defende a unificação do centro em torno de um só presidenciável, o candidato ideal para ele, ao que tudo indica, seria Leite. Com eventual desistência de Doria, Leite já aventa uma aliança de centro entre o PSDB, o Cidadania e o MDB da senadora Simone Tibet, a qual também poderia contar com o Podemos, o União Brasil e o Novo.
Num exercício de futurologia, vai que Leite realmente se consolida no processo como o candidato do PSDB e até de outras forças unificadas do centro, conforme postula Paulo Hartung… Nesse caso, já que os dois “estarão juntos”, não é absurdo especular o ingresso do ex-governador capixaba até como vice dessa chapa, ou no mínimo como conselheiro, colaborador e entusiasta, cumprindo algum papel na eventual campanha do tucano.
Para ser vice, cumpre lembrar, PH terá que se filiar a uma sigla até esse sábado (2). Se o PSD está mesmo descartado, restar-lhe-iam poucas opções: o União Brasil é uma delas… ou quem sabe até um inesperado retorno ao PSDB.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.
