Coluna Inovação
Agronegócio planejado, digitalizado e biologizado
A expressão “digitalizada” tem dominado as discussões sobre inovações nos campos de hardware e software há bastante tempo. Porém, como abordar de maneira equivalente as mudanças disruptivas no campo da biotecnologia? Sugere-se, por analogia, adotar o termo “biologizada”. Isso permitiria equiparar as duas áreas ao expressar seu impacto profundo nas transformações da saúde humana e animal, além de na agricultura, seja para a produção de alimentos ou biocombustíveis.
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No agronegócio digital, participam tecnologias como satélites, drones, máquinas agrícolas autônomas, sensores de diversos tipos, inteligência artificial, big data, 5G, softwares especializados, fintechs e aplicativos de comercialização. Já no agronegócio biologizado, destacam-se os organismos geneticamente modificados (OGM), com suas variantes: os transgênicos, que envolvem a inserção de trechos de DNA de outra espécie, e os cisgênicos, que utilizam segmentos da mesma espécie. A biotecnologia também inclui os bioinsumos, produtos ou tecnologias de origem biológica, como animais, plantas e microrganismos, empregados na agricultura, aquicultura e florestas. Esses bioinsumos podem ser usados para promover o crescimento das plantas, melhorar a saúde do solo, controlar pragas e doenças ou suplementar a alimentação animal, sendo uma ferramenta essencial para a agricultura sustentável, já que ajudam a reduzir os impactos ambientais e a dependência de fertilizantes importados. No Brasil, a utilização de bioinsumos agrícolas cresceu mais de 35% na safra 2022/2023, correspondendo a 12% da área tratada.
É fundamental compreendermos a extensão do agronegócio, que abrange atividades econômicas relacionadas ao setor agropecuário, incluindo a agricultura, a pecuária, a pesca, a silvicultura, a exploração florestal, a agroindústria, o comércio, o armazenamento, a logística, a distribuição e o marketing – ou seja, antes, dentro e depois da porteira.
Nos últimos 20 anos, o PIB da agropecuária capixaba cresceu mais de 90%, quase o dobro da média nacional. Essa evolução é sustentada por um processo de planejamento iniciado em 2003 com o Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura Capixaba (Pedeag), que, após ser elaborado de forma colaborativa, chega à sua quarta edição, superando mudanças de governo e se consolidando como uma política de estado.
O PIB da agropecuária brasileira representou cerca de 6% do total de riquezas geradas no país em 2022. Quando se incluem as atividades antes e depois da porteira, o PIB do agronegócio sobe para 25%, com números semelhantes no Espírito Santo.
O conceito central para guiar essa nova fase é a “Inovabilidade”, que se refere à incorporação de inovações que aumentem a competitividade do setor e dos negócios a ele relacionados, sempre com a premissa de sustentabilidade nos processos produtivos. A quarta edição do Pedeag também introduz a “complexidade econômica” como fator estratégico, que implica colocar no centro da dinâmica produtiva a incorporação de novos conhecimentos, tecnologias e a capacidade de inovar para tornar a economia capixaba mais competitiva, diversificada e produtiva com maior valor agregado.
Foi realizada uma análise de 31 cadeias produtivas do agronegócio capixaba e de dez temas transversais que devem impactar diretamente seu desenvolvimento até 2032. O resultado é um plano ambicioso, realista e exequível, com metas e prioridades definidas.
Com cerca de 130 mil propriedades rurais ativas, o desafio é continuar a melhorar a qualidade e a competitividade da agropecuária capixaba. O setor é a principal atividade econômica em 80% dos municípios do estado, o que ilustra a importância social do agronegócio no desenvolvimento regional e na geração de renda.
Pesquisa realizada pela Embrapa revelou o cenário da tecnologia agrícola no Brasil, identificando 1.125 startups voltadas para o setor. Elas foram classificadas em três categorias: antes da fazenda (196), dentro da fazenda (397) e depois da fazenda (532). No Espírito Santo, 30 startups foram mapeadas pelo Ibef Agro, embora se estime que existam outras não registradas nas estatísticas.
Atualmente, a Federação de Agricultura (Faes/Senar), em colaboração com a Secretaria de Agricultura e diversas entidades do setor, incluindo a academia, está organizando um ecossistema de inovação no agronegócio, em resposta a uma demanda do Ministério da Agricultura (MAPA). A Mobilização Capixaba pela Inovação (MCI) será essencial para o sucesso desse projeto, multiplicando muito as startups existentes. Em uma perspectiva futura, o Espírito Santo tem o potencial de se tornar uma referência em inovação para pequenas propriedades.
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