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A bolha das startups é real?
Por Efigenia Márlia Brasilino
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O termo bolha é aplicado por autores e profissionais da área de finanças, e define situações caracterizadas pela supervalorização dos ativos em relação aos preços de mercado. Ao longo dos anos, duas grandes bolhas alteraram o curso da história, deixando grandes lições sobre como as pessoas devem conduzir o rumo de seus investimentos.
A primeira foi a “Bolha Ponto Com”, também conhecida como “Bolha da Internet”, ocorrida no fim dos anos 90 e início dos anos 2000. Durante esse período, empresas de tecnologia foram do paraíso ao fundo do poço, com uma desvalorização de mais de 75% das ações na bolsa de valores, o que ocasionou, inevitavelmente, uma autêntica quebradeira empresarial.
O evento que sucedeu o surgimento da Bolha Ponto Com foi a popularização da internet e a demanda de prestação de serviços de tecnologia, cujo propulsor foi o desenvolvimento de navegadores que oferecessem uma boa interface ao consumidor final, o usuário da rede.
Historicamente, é perceptível que a Bolha Ponto Com não surgiu em razão da demanda do mercado, mas sim por causa da empolgada distribuição de investimento descontrolada, bem como à projeção de crescimento e valorização de empresas sem dados concretos, cumulada com a abertura de oferta de ações das empresas no mercado financeiro e de capitais. Pouco conteúdo literário é encontrado sobre o tema; no entanto, tive oportunidade de testemunhar o diálogo de profissionais que vivenciaram o período e, garanto, as lembranças não são as melhores.
A segunda bolha decorreu da especulação do mercado imobiliário americano e a emissão dos títulos Subprimes em 2007 e 2008, com a concessão de empréstimos com risco alto, que estavam atrelados à investimentos considerados mais valiosos do que realmente eram. A crise foi tão aguda, que atingiu instituições financeiras do mundo todo. Para não dar spoiler, sugiro que assistam o filme “A Aposta”, ou vejam os capítulos 3 e 5 de “A Ascensão do Dinheiro” de Niall Ferguson, cujos títulos são “Inflando Bolhas” e “Seguro com Casas” respectivamente.
Pensando nisso, e observando a história, é perceptível que no mundo das startups algumas coincidências ocorrem e acendem o sinal amarelo para a pergunta: “podemos viver uma bolha das startups? ” A resposta, como uma boa advogada, posso dizer que isso depende.
Sobre a possibilidade de inexistência da bolha com a difusão do lado bom da tecnologia e o crescimento da inovação, não preciso frisar. Basta pensar no Uber e Ifood; portanto, pularei essa parte. Quanto à existência, temo que os indícios existem, a começar pela classificação das startups em unicórnios.
O termo foi citado pela primeira vez por Aileen Lee, investidora americana que considera unicórnios as empresas que possuem capacidade de atingir 1 bilhão de dólares antes de abrir seu capital em bolsas de valores. Sem tendenciar no assunto, preciso dizer que o artigo da Aileen é embasado em alguns dados científicos, porém, a meu ver, o fato da metodologia da definição do 1 bi se pautar em projeções futuras (anteriores ao IPO), não representa um reflexo real e seguro ao investidor, uma vez que o mercado é imprevisível.
Esse é um problema verdadeiro. Inúmeras vezes encontramos anúncios de valuation de empresas baseadas em índices não concretos ou fatos inconclusivos, e que se baseiam na abertura do capital. Algumas, inclusive, desistem de fazer o IPO, e corrigem as projeções quando tais valores não são adequadamente aceitos. Preciso dizer que metodologias e índices de cálculo mais equânimes existem, mas ficam a critério do avaliador, que, por vezes, é tendencioso.
Outra evidência da bolha reside na constatação de que muitas empresas que abriram capital na bolsa apresentaram prejuízo anual exorbitante, cumulado com ausência de capacidade de gerar caixa.
Não sou especialista no tema de gestão financeira, mas como tributarista e por experiência, posso dizer que empresas sem capacidade de gerar caixa não se sustentam por muito tempo.
Outro ponto que vejo ser extremamente importante, e que por vezes não é levado em consideração, se baseia na inovação validada e na praticabilidade da ideia. Quem não possui um bom plano de negócios pode prospectar investidores e estar distribuindo cheques em branco, sem perceber. Não é por ser disruptivo que o negócio dará certo. Os patinetes da Yellow e da Grin não me deixam mentir.
O tema merece maior análise e cautela dos especialistas e investidores, mas, por hora, alcanço o objetivo, que é despertar sua atenção e visão analítica sobre o que é divulgado na mídia, e sobre o que é a realidade, a qual precisamos acompanhar de perto. Se viveremos ou não uma bolha das startups, não é possível dizer. O que posso garantir é que quem se prepara poderá vender lenços quando alguém chorar.
Me despeço com as sábias e sinceras palavras de Howard Marks: “é preciso estar atento aos acontecimentos do mundo e aos resultados desses eventos. Somente assim se adquire a capacidade de praticar as lições aprendidas sempre que circunstâncias semelhantes surgirem. Não conseguir fazer isso é o que – mais do que qualquer outra coisa – condena a maioria dos investidores a serem vítimas constantes de um ciclo de altos e baixos”.
Sobre a autora
Efigenia Márlia Brasilino é Advogada Tributarista na Fass Advogado e Diretora de Relacionamento do IBEF Academy. É uma assídua leitora de finanças, economia e conhecimentos multidisciplinares, buscando ver o mundo além do Direito. Pós Graduada em Direito Público e Pós Graduanda em Direito Tributário pelo IBET e secretária Geral da Comissão de Direito Tributário da OAB/ES.
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