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Coluna Vitor Vogas

Ramalho sobre Casagrande: “Nossos caminhos políticos tomaram sentidos diferentes”

Em entrevista ao ES360, pré-candidato do PL a prefeito de Vila Velha cola em Arnaldinho o rótulo de “ligado à esquerda”, faz acenos a Max e Neucimar e dispara suas primeiras “balas de borracha” no atual prefeito

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Coronel Alexandre Ramalho na bancada do EStúdio 360

Bastante reveladora foi a entrevista do Coronel Alexandre Ramalho ao telejornal EStúdio 360 na última segunda-feira (25), falando na condição de pré-candidato do Partido Liberal (PL) à Prefeitura de Vila Velha. Destaco neste texto cinco pontos que merecem atenção especial, colhidos das declarações do ex-secretário estadual de Segurança Pública, que, na semana passada, teve a pré-candidatura chancelada por Jair Bolsonaro (PL) em Brasília.

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1) Fim de relacionamento

O primeiro ponto é que, definitivamente, acabou a parceria e a lealdade política de Ramalho ao governador Renato Casagrande (PSB), mantida até janeiro deste ano, quando o primeiro saiu da Sesp.

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Como já havíamos assinalado aqui, seria impossível rezar para os dois santos, manter fidelidade a Casagrande e a Bolsonaro ao mesmo tempo – e “fidelidade” ao ex-presidente foi precisamente o que Ramalho lhe jurou, pessoalmente, no último dia 19. Não daria para manter um pé no grupo liderado por Casagrande e outro no PL de Bolsonaro e de todos os principais opositores do governador no contexto político estadual. Uma escolha precisou ser feita. E Ramalho decididamente a fez, como não deixam dúvidas as suas declarações.

Questionado sobre essa questão, Ramalho, com palavras muito próximas, disse que, de agora em diante, o respeito mútuo está intacto, mas cada um segue o seu rumo na política. Suas palavras exatas foram:

“Tenho todo o respeito ao governador Renato Casagrande. A partir do momento que eu saio da secretaria em janeiro, antes do prazo previsto, é justamente para abrir o diálogo [com outras forças políticas]. E, a partir daí, os nossos caminhos, obviamente, pela escolha do PL, tomaram sentidos diferentes. Mas isso não quer dizer que eu não tenha respeito pela pessoa do governador, que será sempre mantido.”

Resgatando toda a sua trajetória na PMES desde aluno do curso de formação de oficiais, Ramalho fez questão de se desvencilhar de critérios políticos em sua indicação por Casagrande para assumir a chefia da Sesp, em abril de 2020:

“A nossa trajetória na segurança pública é de 35 anos. Nenhum cargo que ocupei dentro da Polícia Militar ou fora da Polícia Militar foi por questões partidárias ou ideológicas, mas pelo que eu construí ao longo da minha carreira. […] Então nós somos um quadro técnico. Quando Casagrande assume em janeiro de 2019, é sempre bom lembrar isso, eu era o comandante-geral da Polícia Militar até 2018, e ele me chama e fala: ‘Vou ter que te tirar porque vou colocar outro’. E aí, em 2020, a gente é reconvocado pelo próprio Casagrande, porque os números não eram bons, para assumir a Secretaria de Segurança Pública. Ali fizemos um trabalho incessante.”

Portanto, o divórcio político com Casagrande pode até ser amigável. Mas é um divórcio.

2) “O candidato da direita em Vila Velha”

O segundo ponto muito revelador extraído das declarações de Ramalho é que o ex-secretário estadual de Segurança “bolsonarizou” de uma vez por todas e faz questão de entrar nessa disputa afirmando e reforçando sua imagem como o candidato diretamente vinculado ao ex-presidente da República, o homem que ostenta a condição de “candidato do Jair”:

“Sem dúvida nenhuma, me filiando hoje ao PL, chancelado pelas mãos do próprio presidente Jair Bolsonaro, o candidato da direita em Vila Velha pelo PL é o Coronel Ramalho.”

Ele enfatizou: é o único que pode assim se declarar.

“Obviamente que hoje, quando a gente entra no partido convidado pelo senador Magno Malta e automaticamente é levado à presença do presidente e chancelado pelo presidente Bolsonaro, obviamente que, hierarquicamente, a gente vai seguir toda a linha e a premissa do partido. Então eu continuo sendo direita, apoiando todas as pautas da direita e agora abraçando muito essa causa do próprio Bolsonaro. […] Hoje eu sou o candidato bolsonarista, hoje sou o candidato do PL. O candidato de Vila Velha da direita se chama Coronel Ramalho, chancelado pelo presidente Bolsonaro.”

3. “[Arnaldinho] é ligado à esquerda”

O terceiro ponto é que, tendo “bolsonarizado” de uma vez por todas, o ex-comandante-geral da PMES também já começou a colocar em marcha a estratégia preferida do exército bolsonarista: polarização ideológica entre a autointitulada “direita conservadora” e a esquerda.

Não que suas armas de campanha se limitarão a isso – ele ainda vai preparar um plano de governo, tem propostas para a segurança pública etc. –, mas trechos das respostas de Ramalho deixaram muito claro que investir nessa polarização com o prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) terá um peso importante na campanha eleitoral do coronel.

Na entrevista, ele já começou a dar pistas nesse sentido, aproveitando algumas oportunidades para, por assim dizer, “empurrar” o atual prefeito para a esquerda – principalmente por conta da aliança política e administrativa de Arnaldinho com o governo Casagrande, do qual o próprio Ramalho acabou de se desligar:

“E sabemos, desde o início, quando saímos do governo, que o Governo Estadual vai estar apoiando o candidato da atual gestão. Então demonstra muito claramente que a esquerda também vai estar apoiando esse candidato, e ele é ligado à esquerda. A luta continua, como nada na nossa vida foi fácil, num processo difícil, uma luta contra a máquina municipal, apoiada pela máquina estadual, mas nós estamos colocando o nosso nome à disposição de todos os munícipes de Vila Velha.”

A resposta de Ramalho não deixa dúvidas: assim como o PL e agentes políticos do bolsonarismo, o coronel tende a fazer o que estiver a seu alcance para colar em Arnaldinho, com cola-tudo, a pecha de “candidato da esquerda”. Enquanto o pré-candidato do PL começou a calibrar essa estratégia na entrevista, já começam a circular pelas redes sociais alguns memes e vídeos com a mesma intencionalidade de associar o atual prefeito à esquerda.

A entrevista também evidenciou a resposta pronta que Ramalho tem no coldre para rebater um natural contra-argumento. Está alguns parágrafos acima, no fim do ponto 1. Alguém poderá atalhar: “Mas, Coronel, como condenar o prefeito pela aliança dele com a ‘esquerda’ representada pelo PSB de Casagrande se o senhor era membro do primeiro escalão desse governo até poucos meses atrás?” Ramalho retrucará que só colaborou com Casagrande como um quadro técnico e servidor de carreira do Estado.

Nas entrelinhas da resposta de Ramalho, também depreende-se a intenção de tratar a sua candidatura contra Arnaldinho como uma luta de “Davi contra Golias.”

4) Alô, Max Filho e Neucimar!

O quarto ponto é que estão nos planos de Ramalho buscar uma aproximação com os ex-prefeitos de Vila Velha Neucimar Fraga (presidente municipal do PP e bolsonarista convicto como ele agora se demonstra) e Max Filho (ainda no PSDB, mais ligado à centro-esquerda).

São os antecessores de Arnaldinho, aos quais o coronel fez um grande aceno na entrevista: “As pessoas querem valorizar até mesmo os gestores anteriores que fizeram tanto pelo município e que hoje não têm o devido reconhecimento.”

Nem Max nem Neucimar serão candidatos novamente a prefeito este ano.

5) Disparos em Arnaldinho

O quinto ponto é que, calibrando o discurso de campanha, o ex-secretário estadual de Segurança disparou suas primeiras “balas de borracha verbais” em Arnaldinho, a saber:

I) “O que as pessoas têm falado de um modo geral é que aquilo que se vê na internet não é efetivamente o que se tem de concreto no município.”

II) “Parece até que Vila Velha foi descoberta agora, a partir de 2020.”

III) “O que a gente percebe em Vila Velha é que a pauta da segurança pública foi encarada muito sob um viés único e exclusivo da Guarda Municipal, reforçando com viaturas e armamentos as mesmas situações que a gente tenta fazer no Estado.”

IV) “O que nós temos visto de pessoas em situação de rua ligadas ao crack em Vila Velha tem sido absurdo! Isso desfavorece muito o cidadão que paga os seus impostos e quer mais segurança.”

Análise da estratégia de Ramalho

A estratégia inaugurada por Ramalho é arriscada. Tem um lado bom convivendo com um ruim: o mesmo ingrediente que pode fazê-lo crescer eleitoralmente pode ser, ao mesmo tempo, um limitador para o seu próprio crescimento.

Que Vila Velha hoje é um reduto predominantemente de direita, ninguém parece ter dúvida. Na eleição presidencial de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro obteve 61% dos votos válidos contra Lula (PT) no segundo município mais populoso do Espírito Santo.

Firmando-se como “o candidato do PL” e “o candidato de Bolsonaro”, imagino – e não tenho em mãos pesquisa que o comprove – que Ramalho tenha um piso de, no mínimo, 25% dos votos válidos, com potencial de crescimento a partir daí. São os votos daqueles eleitores para quem o fator ideológico é determinante na tomada de decisão, aqueles que votarão em quem quer que seja “o candidato bolsonarista” e, mais ainda, “o candidato do Bolsonaro”. Largar com pelo menos 25% dos votos não é nem um pouco desprezível. Isso é uma coisa.

Outra coisa é chegar aos 50% + 1 que decidem a eleição.

E é aqui que o raciocínio fica um pouco mais intrincado.

Pode ser um erro de cálculo deduzir que, porque 61% dos eleitores vilavelhenses votaram em Bolsonaro em 2022, 61% dos eleitores da cidade são, necessariamente, “bolsonaristas”, e estão predispostos a dar tamanha importância à filiação partidária e ideológica do candidato em seu processo de tomada de decisão.

É possível que um percentual relevante desses 61% nem goste tanto assim de Bolsonaro, não se identifique tanto assim com a sua ideologia, discorde do ex-presidente em alguns pontos, mas tenha votado nele, simplesmente, por não ter outra opção em uma eleição presidencial polarizada com o PT.

Em outras palavras, muitos eleitores posicionados do centro à direita que não são bolsonaristas podem ter votado no então presidente enxergando corretamente nele o único candidato capaz de evitar o retorno de Lula ao poder, ou seja, não propriamente por estarem “fechados com Bolsonaro”, mas para derrotarem Lula e o PT, numa eleição em que muitos eleitores votaram mais por rejeição ao outro do que propriamente por amor ao seu próprio candidato.

Em eventual disputa direta entre Arnaldinho e Ramalho, o fator “antipetismo” estará fora da equação. E os votos desses eleitores antipetistas, mas não propriamente bolsonaristas, estarão em disputa entre eles.

Outro erro de cálculo é confundir o “bolsonarismo” com a “direita”, tratando o primeiro conjunto (mais específico) como equivalente ao segundo (muito maior). Ora, existe “a direita moderada”, existe a “centro-direita” (como o próprio Ramalho chegou a se declarar em 2022…).

Pode ser que um bom número de eleitores canelas-verdes se identifiquem com a direita, mas não necessariamente com o bolsonarismo. Muitos deles podem ter votado em Bolsonaro em 2022 pura e exclusivamente por antipetismo. Esses votos também terão de ser atraídos. Será preciso acenar também para esses eleitores, não apenas para os fidelizados por Bolsonaro.

Por fim, há os votos da esquerda, que não podem ser desprezados, pois podem ser decisivos em uma disputa acirrada. Em 2022, Lula perdeu feio para Bolsonaro na cidade, mas os 39% obtidos pelo candidato de esquerda no 2º turno não são nem um pouco inexpressivos. Que aceno os candidatos a prefeito farão também a esse eleitorado?

Aparentemente, a julgar pelas respostas de Ramalho na entrevista ao nosso telejornal, ele entra nesse páreo determinado a apostar quase exclusivamente no voto bolsonarista. O colega de bancada, Kaká, lhe perguntou o que o pré-candidato fará para atrair o eleitorado de esquerda. Em vez de chutar a bola quicando para fazer um aceno, ainda que de leve, a esses eleitores, o coronel aproveitou a deixa justamente para esfregar em Arnaldinho o rótulo de esquerdista.

O fator ideológico na certa terá um peso na campanha – não se sabe ainda qual –, mas a tendência é que seja menor do que o foi na eleição presidencial ou que o seria numa eleição parlamentar. Afinal, ser ou não ser o candidato de Bolsonaro, o mais ligado a Bolsonaro, o mais bolsonarista etc. não é o que vai garantir merenda escolar, rua iluminada, buraco tampado, calçadão varrido, arrecadação maior etc.

É algo a ser levado em conta.


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