Coluna Vitor Vogas
Gandini: “Sou pré-candidato. Vitória precisa respirar novos ares”
Deputado quer liderar coligação formada por PSD, PSB, MDB, União e PSDB/Cidadania (no lugar de Luiz Paulo). Também quer o apoio de Casagrande
Desde o início do ano passado, quando ainda estava no Cidadania (partido federado com o PSDB), o deputado estadual Fabrício Gandini era um dos nomes citados pelo presidente estadual do tucanato, Vandinho Leite, como um dos possíveis candidatos da federação a prefeito de Vitória. No fim do ano passado, Gandini migrou para o Partido Social Democrático (PSD), justamente a fim de se manter vivo como potencial candidato à prefeitura da Capital. De lá para cá, porém, o deputado se recolheu bastante e passou os últimos meses sem fazer nenhum movimento incisivo a fim de viabilizar candidatura. Na verdade, até este momento, ele nem sequer havia efetivamente se declarado pré-candidato a prefeito de Vitória.
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Até este momento.
Nos últimos dez dias, animado com a desistência do também deputado estadual Tyago Hoffmann (PSB), Gandini passou a intensificar seus movimentos e a se colocar para valer no processo como potencial pré-candidato. Na entrevista abaixo, além de confirmar pela primeiríssima vez sua condição de postulante à Prefeitura de Vitória, Gandini tece críticas à administração do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), definido por ele como um “síndico mediano”.
Dizendo querer ter o apoio do governador Renato Casagrande (PSB) – “acho extremamente justo” –, Gandini afirma que pretende ser o representante, na disputa em Vitória, de um grupo de partidos mais próximos do centro ideológico e que estão na base de apoio do Governo do Estado. Além do PSD, essa frente, que pode evoluir para uma grande coligação, é formada hoje por PSB, MDB, União Brasil e pela Federação PSDB/Cidadania.
Com a retirada de Hoffmann, além de Gandini, resta outro pré-candidato nesse grupo: o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB). Gandini confirma que o ideal é que esse grupo se mantenha junto e se unifique em torno de uma só candidatura. Ele quer ser justamente o candidato escolhido por esses partidos (no lugar de Luiz Paulo) para representar essa frente em Vitória. “Está na hora de a gente ter novos ares e pensar a cidade de forma diferente, respeitando, é claro, todos eles”, afirma o deputado, na entrevista abaixo à coluna.
Na próxima terça-feira (21), os dirigentes desses partidos vão se reunir, para, segundo Gandini, começarem a discutir e definir critérios claros para a definição do nome.
Leia abaixo a entrevista completa do deputado e, agora, pré-candidato declarado a prefeito:
Já ouvi o PSD dizer que o senhor é pré-candidato. Já ouvi sua assessoria afirmar que o senhor é pré-candidato. Mas nunca ouvi isso da sua boca. Afinal, o senhor é ou não é pré-candidato a prefeito de Vitória?
Sou. Sou pré-candidato a prefeito de Vitória. E decidi iniciar agora uma nova fase de algo que já estava planejado, que é a pré-candidatura. O que fiz nesse período em que você achou que eu mergulhei foi, na verdade, um grande esforço para que a gente tenha um grupo relevante para disputar a eleição. Esse é o grande esforço. E, a partir do momento em que os nomes vão diminuindo… E isso aconteceu, com a saída do Tyago Hoffmann: de forma muito relevante, o partido do governador retirou sua pré-candidatura. Na eleição municipal passada, o partido do governador lançou candidatura [Sérgio de Sá]. Então eu tenho a perspectiva importante de que esse grupo tem o apoio do governador. Tendo um pré-candidato, eles [do PSB] tinham um pilar muito forte dentro do grupo. Então, a partir do momento do recuo [de Tyago Hoffmann], abriu-se espaço para outros players se colocarem.
Então o senhor está confirmando duas coisas importantes. A primeira é que o senhor se considera aliado de primeira hora do governador e do governo Casagrande…
Sim.
A segunda é que a retirada do Tyago Hoffmann, no último dia 8, de fato o animou.
Não é que tenha animado. Eu acho que chegou o momento de me colocar com mais consistência e fazer uma pré-campanha. Por quê? Porque, a partir do momento em que o processo se decantou e uma série de pessoas meio que se afastaram do processo, se eu fico muito fora, eu não tenho como reverter isso. Também respeitei os períodos previstos pela legislação. Uma pré-campanha a dois meses da campanha é pré-campanha. Um ano antes já não é pré-campanha. É demais, é exagerado, é antecipar o processo eleitoral. Então está no tempo certo. Como diz a Bíblia, tudo tem seu tempo. Considero que agora eu precisava tomar uma posição mais clara em relação a querer ser candidato e tentar reunir as condições para que isso ocorra, dentro desse grupo que a cada dia se consolida mais.
Mas por que o senhor demorou tanto a declarar isso publicamente? Na eleição municipal passada, o senhor foi lançado com enorme antecedência como o candidato da máquina e acabou não passando para o segundo turno. Ficou melindrado, ou, digamos, mais “cauteloso” após aquela experiência?
O que percebo é que precisamos ter condições para disputar uma eleição. Não adianta eu ser candidato de mim mesmo. Eu preciso estar dentro de um processo que me dê condições mínimas. A campanha em Vitória exige recursos, exige tempo de televisão. Então, eu fui construindo isso aos poucos. Eu estava num partido que não tinha tempo de televisão. Tivemos um processo nacional que infelizmente diminuiu muito o Cidadania, a sigla ficou muito dependente do PSDB. Nisso tudo eu fui acumulando alguns ativos que eu achava fundamentais para disputar a eleição. O primeiro era estar em um partido com relevância, em que eu pudesse ter um peso maior na discussão, o PSD. O partido tem mais de 1 minuto de tempo de TV [por bloco de 10 minutos], tem condições, tem o compromisso da direção nacional. Fui ao [Gilberto] Kassab e tive a anuência dele de que posso ser candidato, com apoio e com recursos. Isso ocorreu no ano passado, mas não fui divulgando, porque eu precisava reunir as condições. Agora, no momento atual, o que precisamos fazer é juntar, juntar os players. A partir do momento em que Tyago tira a pré-candidatura, temos um player importante, que é o governador. E eu quero o apoio do governador.
O senhor vai pleitear isso?
Sim, e acho que é extremamente justo. Hoje há uma ruptura institucional gigante entre a Prefeitura de Vitória e o Governo do Estado, que está gerando prejuízos para a população de Vitória. Então acho justo você ter um aliado do governador pleiteando que a gente possa construir uma realidade diferente para a cidade. Estamos vendo homicídios aumentando em Vitória, saúde deteriorada, enfim, uma série de questões que têm muito a ver com essa ruptura inconstitucional, com falta de colaboração. Cortaram o acesso da Polícia Militar ao Cerco Inteligente. Isso desde o início do mandato! Isso tudo vai gerando prejuízo para a população. Então acho justo eu pedir e ter o apoio do governador.
O senhor falou muito de um “grupo” e que este é o momento de “juntar os players”. Vou citar alguns partidos: Federação PSDB/Cidadania, PSB, MDB, União Brasil e seu partido, o PSD. Todos dão sustentação ao governo Casagrande. Quando converso com integrantes de algumas dessas siglas, eles me dizem três coisas: 1) que esses partidos estão juntos em um mesmo movimento eleitoral em Vitória; 2) que o objetivo em comum é construir uma coligação de centro, chamada por alguns de “frente ampla de centro”; 3) e que portanto, desse grupo de partidos, só sairá um candidato a prefeito de Vitória, com o apoio dos demais. O senhor e seu PSD estão mesmo nesse movimento?
Esse é o desejo. O desejo é que a gente consiga construir um alinhamento entre esses partidos porque isso nos dá tempo de televisão e também força política. Temos nesse grupo players super-importantes que já administraram a cidade, gente que tem contribuição a dar. São partidos relevantes, inclusive no processo nacional, que podem dar uma contribuição para a cidade de Vitória, nos apoios. Enfim, confirmo que há um interesse grande que a gente caminhe juntos. Teremos uma reunião na próxima terça-feira, às 16 horas, para começarmos a definir critérios. Ficaram o Gandini e o Luiz Paulo. Como vai ser o processo para chegarmos a um nome? Vou me movimentar mais agora. Isso tudo será discutido nessa reunião de terça. A ideia é que comecemos a definir quais serão os critérios para escolha da candidatura. Temos até as convenções [de 20 de julho a 5 de agosto] para tomar essa decisão. É claro que é bom se conseguirmos acelerar isso naturalmente. Mas, se não conseguirmos também, acho que é um período para as forças correrem nas suas raias e se incorporarem a esse movimento. Estou tentando trazer para esse movimento o Majeski e a Capitã Estéfane.
O senhor quer o PDT e o Podemos também integrados a esse grupo?
Acho que são dois players muito importantes e dois partidos muito importantes também. Mas os dois players têm representações muito fortes, tanto a Capitã Estéfane, que foi vítima da atual prefeitura, como o Majeski, que é um líder importantíssimo da cidade. Eles precisam estar nas discussões desse grupo.
Mas não é contraditório, deputado? Claro, em termos partidários, a eventual inclusão do PDT e do Podemos, por um lado, fortalece ainda mais essa coalizão; por outro lado, como o senhor disse, eles têm seus respectivos pré-candidatos, o que embola ainda mais o meio de campo. Isso não poderia retardar ainda mais essa escolha do candidato do grupo, que o senhor diz que é bom que seja acelerada?
Temos prazo. Temos até a convenção para tomar a decisão. Quanto mais encorpado estiver esse grupo, melhor. Eu não tenho problemas em definir regras claras para que cheguemos à definição do nome. Se tiver regras claras e justas, acho que todos eles vão topar.
E qual é a sua proposta? Quando o senhor falar em “regras claras e justas”, quais seriam, na sua avaliação, os critérios ideais? Performance em pesquisas?
Esse é um deles. Mas também as perspectivas, as movimentações. Nessa terça-feira vamos discutir isso e ver se conseguimos chegar a um consenso.
Como o senhor já explicitou, nesse jogo do “resta um” dentro dessa frente, com a retirada do Tyago Hoffmann, sobraram o senhor e o Luiz Paulo. Hoje são os dois pré-candidatos que restam. O senhor tentará se viabilizar, necessariamente, por dentro desse grupo, para ser esse candidato representante dessa frente?
Sim. Para mim, é muito importante que a gente esteja nesse grupo e que esse grupo esteja fechado num nome.
Então o senhor só será candidato se for o candidato desse grupo?
Acho que uma condição importante é termos o apoio de outros players. Se dividirmos muito esse grupo, não disputamos a eleição com a chance que teríamos se estivéssemos juntos. Então a minha perspectiva é para que esse grupo fique unido. Vou trabalhar para isso até o final, como fiz até agora, com calma, respeitando o tempo de cada um. Foi um período em que realmente dei uma recuada, até para os players se posicionarem. E acho que agora está chegando a hora de tomarmos uma decisão. Acho que em um mês, um mês e meio, conseguimos tomar essa decisão, com critérios claros. Acho importante ter uma candidatura desse grupo unido.
Agora, se não for o candidato dessa frente, o senhor pode ser candidato também com o Luiz Paulo no páreo, ou seja, os dois podem ser candidatos e, nesse caso, pode haver um desgarramento do PSD e uma divisão desses partidos hoje unidos?
Essa possibilidade existe, mas não é o ideal. Defendo que a gente consiga chegar a um consenso em torno de um nome. É claro, estou entrando no processo com mais intensidade agora e preciso de um tempo para me colocar.
A propósito, o senhor contratou marqueteiro?
Não. Já fiz conversas, sondando possibilidades no mercado. Mas, como ainda estamos na pré-candidatura, ainda não temos contrato com ninguém. Só estou discutindo com algumas pessoas.
Como o senhor avalia a atual administração, liderada pelo prefeito Pazolini?
Mediana. Medíocre, no sentido original da palavra. Uma administração que não empolga ninguém, que tem escolhas equivocadas, que não tem projeto para a cidade, que a cidade não sabe para onde vai, que não lidera a cidade. Acho que o prefeito é um mediano síndico da cidade, prestando alguns serviços. Mas piorou a segurança, piorou a saúde… Todos os temas que ele tratou na campanha eleitoral, infelizmente, no dia a dia da cidade, vimos que ele não conseguiu entregar. Você vê cada vez mais gente nas ruas de Vitória, usando crack. Ele falava mal da sinalização, “que não funcionava”. Agora, tudo tem uma desculpa, que é o roubo de fios, e os sinais da cidade não funcionam, o trânsito é caótico, não tem política de mobilidade… Enfim, é uma gestão de síndico de prédio. É importante para o morador de Vitória, mas não trabalha a vocação da cidade e não nos leva para nenhuma direção futura. Acho que Vitória merece muito mais.
E quanto à sua identidade ideológica? No início do ano passado, o senhor se deu uma repaginada, um reposicionamento da sua imagem e do seu discurso em termos político-ideológicos, passando a se afirmar como um deputado de direita, assumindo de maneira mais enfática a sua faceta de parlamentar religioso e conservador. Hoje, como o senhor se define?
Foi como lhe disse naquela oportunidade: eu só me reposicionei porque antes isso não era relevante para o eleitor. Há quase 20 anos, quando me filiei, o eleitor votava muito nas pessoas, não tinha muito essa relevância o partido em que estava. Eu só me ajustei ao que acredito. O PSD é um partido que acopla bem, é um partido de centro-direita que tem uma posição equilibrada em diversos temas, não é extremo nem para um lado nem para o outro. Então estou muito confortável hoje, mais do que estava depois que isso passou a pesar com muita força na política brasileira.
O senhor confirma que, depois do último pleito municipal em 2020, se afastou do ex-prefeito Luciano Rezende?
É natural. Os projetos seguiram. Eu busquei outro partido. Então acho que isso aconteceu naturalmente, mas tenho o maior respeito por ele e acho que ele vai ser importante nesse projeto que aglutina esses partidos.
Também como possível candidato ou como um grande apoiador de quem for o escolhido?
Ele não tem se manifestado como candidato. Acho que como um player super-importante. Ele está no Cidadania, tem a experiência de ter sido prefeito por oito anos, assim como Luiz Paulo. Então é um grupo que agrega pessoas com relevância. Mas eu acho que a cidade precisa de um novo nome, de alguém que não foi prefeito, senão a disputa vai ser do atual prefeito com o Coser, ex-prefeito, com outro que já foi prefeito… Está na hora de a gente ter novos ares e pensar a cidade de forma diferente, respeitando, é claro, todos eles.
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