Coluna Vitor Vogas
PSB decide lançar Tyago Hoffmann à Prefeitura de Vitória
Decisão já está tomada e nome, escolhido. Fim de semana é importante para o PSB. Coluna explica os porquês desse movimento de certo modo surpreendente
O governador Renato Casagrande sancionou ontem (4) a lei estadual de autoria do deputado estadual Tyago Hoffmann que proíbe a distinção entre “elevador social” e “elevador de serviço” em edifícios privados no Espírito Santo. Na mesma semana, o partido do governador elevou-se para outro patamar no debate eleitoral em Vitória. A decisão foi tomada: o PSB lançará pré-candidato a prefeito da Capital. E o nome já está escolhido: Tyago Hoffmann é precisamente quem ascende como a aposta do partido ao cargo hoje ocupado por Lorenzo Pazolini (Republicanos).
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Este fim de semana será decisivo para as pretensões do PSB na próxima eleição municipal. Os principais líderes da legenda no Espírito Santo terão algumas rodadas de reuniões visando planejar e organizar as estratégias, principalmente em Vitória. O próprio governador participará de algumas dessas conversas. Tyago Hoffmann também, naturalmente.
Outro participante será o secretário estadual de Mobilidade e Infraestrutura, Fábio Damasceno. Ao lado de Tyago, ele era cotado como possível candidato do partido em Vitória. Na última quinta-feira (3), em diálogo com o colunista, o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini, confirmou a decisão de lançamento de um candidato próprio em Vitória e citou os dois como possíveis representantes.
“É como o governador mesmo sempre diz: quem não entra em campo não joga. O PSB não quer ficar só assistindo ao jogo da arquibancada.”
Gavini não confirma a escolha do nome. Esta, entretanto, recairá mesmo sobre Tyago Hoffmann, o que aliás é bastante natural. Apesar de ser filiado ao PSB há um bom tempo e privar da confiança total de Casagrande – é considerado da cota pessoal do governador no secretariado desde o início do mandato passado –, Damasceno nunca disputou uma eleição, tem bem menos experiência política e discreta militância partidária. É um perfil técnico.
Já Tyago, mesmo com idade próxima e estreia eleitoral recente – disputou e conquistou seu primeiro mandato no ano passado –, tem muito maior quilometragem política. Há pelo menos dez anos, opera como articulador e emissário político de Casagrande. No primeiro governo do socialista (2011-2014), foi secretário estadual de Governo e chefe da Casa Civil. No segundo (2019-2022), foi secretário de Governo e chefiou a vitaminada Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico (Sectides), desmembrada no atual.
Por que candidato próprio?!?
Está certo que, a um ano da campanha, estamos naquele período em que quase todo partido que é alguém na fila do pão lança mesmo seus pré-candidatos, nem que seja para testar a competitividade de suas novas apostas e/ou para ganhar maior poder de barganha e conseguir acordos mais favoráveis nas negociações com partidos aliados na hora da real definição das chapas e coligações: coloco meu pré-candidato agora e o retiro lá na frente mediante algumas condições; lanço aqui meu pré-candidato e até topo recuar, mas somente se você me conceder tal e tal espaço… e por aí vai.
É legítimo e é do jogo.
Entretanto, fontes socialistas envolvidas nesse planejamento asseveram que a pré-candidatura do PSB em Vitória não será um balão de ensaio.
O partido do governador avalia que não tem nada a perder com isso. Ao contrário, perderá se não o fizer. “Partido que não entra em campo não joga” (Casagrande apud Gavini), certo? Pois o fato é que, nas maiores cidades da Grande Vitória, o único campo em que o PSB pode efetivamente jogar vem a ser precisamente a Capital. Nos demais, o partido não quer e simplesmente não pode lançar candidato a prefeito, pois já tem compromisso firmado de apoio à reeleição de aliados considerados indispensáveis.
É assim em Vila Velha, Cariacica e Serra, onde o PSB, como confirma Gavini, apoiará sem hesitação a reeleição dos prefeitos Arnaldinho Borgo (Podemos), Euclério Sampaio (União Brasil) e Sérgio Vidigal (PDT) – e aqui cabe um parêntese: apesar do “mistério” feito pelo pedetista, ninguém no PSB tem a menor dúvida de que Vidigal é candidatíssimo à reeleição.
Além da parceria política e administrativa do governo Casagrande com esses três prefeitos, não se pode perder de vista a inestimável sustentação que eles deram nos respectivos domínios à apertada reeleição do governador em 2022. Há também, portanto, nesse cálculo, gratidão e retribuição.
Ora, sendo assim, o que sobra ao partido do governador? Sobra nada menos que Vitória, a joia da coroa, a maior vitrine política do Espírito Santo e a cidade que, ao contrário das citadas anteriormente, é governada por um adversário que o PSB deseja derrotar.
Mas não pode ser autossabotagem?
A questão que se ergue, porém, é a seguinte: lançar um candidato próprio não poderá na verdade dificultar esse objetivo estratégico de derrotar Pazolini nas urnas, considerando que a fila de pré-candidatos oriundos de outras siglas dentro da coalizão de Casagrande (parceiros do PSB) já parte da sede da prefeitura e chega ao clube Álvares Cabral lá do outro lado da Avenida Beira-Mar?
À esquerda de Casagrande, João Coser (PT); à direita, na federação do PSDB com o Cidadania, os também ex-prefeitos Luiz Paulo (PSDB) e Luciano Rezende (Cidadania), além do deputado estadual Mazinho dos Anjos (PSDB) e do ex-deputado estadual Sergio Majeski. Isso sem contar Fabrício Gandini (de saída do Cidadania), que, no primeiro semestre, assumiu uma posição de independência em face do governo, mas não chegou a romper completamente.
Diante desse questionamento, a avaliação predominante entre socialistas é que não, de modo algum, não atrapalha nem um pouco.
A eleição em Vitória pode ser decidida em dois turnos, e ninguém duvida que assim será. Nesse caso, no 1º turno, todos podem lançar a própria candidatura, mesmo que sejam aliados no plano estadual. Quem chegar ao 2º turno certamente terá o apoio dos demais, numa união de forças contra o atual prefeito. Isso se Pazolini for mesmo um dos dois classificados para o 2º turno. Alguns o consideram um nome certo; outros não têm tanta certeza; eu o considero, a preços de hoje, favorito para avançar de fase.
Espaço para o centro
Na decisão do PSB, conta também a leitura de que hoje, em Vitória, existe um campo enorme para surgimento e crescimento de um candidato de centro (ou centro-esquerda, no caso), que desponte e ganhe terreno trafegando entre a esquerda petista de João Coser (que pode ter à sua esquerda Camila Valadão, do PSol) e a direita conservadora de Pazolini (que por sua vez pode ver, à sua direita, Capitão Assumção, do PL).
No partido do governador, entende-se que o eleitor de Vitória ainda expressa um nada desprezível antipetismo, mas, ao mesmo tempo, não topa aventuras nem gosta de radicalismos – como o próprio Pazolini percebeu em 2020 –, o que abre campo para a ascensão de uma candidatura de centro, focada em gestão e 100% identificada com o governo Casagrande; uma candidatura apresentada com o selo do Palácio Anchieta e, portanto, como a mais credenciada a assegurar parceria política e investimentos para a cidade nos dois anos seguintes, pelo menos.
O PSB também avalia que Pazolini é competitivo, mas seu governo não empolga o eleitor. Tem chão para crescer e melhorar seus resultados em um ano, mas sua avaliação, hoje, seria apenas mediana. Por outro lado, eventual reedição da disputa com João Coser em 2020 pode fazê-lo crescer com a campanha já em andamento, em função da rejeição ao PT de parte do eleitorado de Vitória. Por esse ângulo, essa polarização pode ser tudo o que deseja o atual prefeito.
“Fadiga de material”
Há ainda o entendimento de que existe, na eleição em Vitória, espaço para o surgimento do “novo”, isto é, de um candidato jamais testado nas urnas na Capital. Ora, no campo de aliados de Casagrande, três dos pré-candidatos de outras siglas citados neste texto já governaram Vitória por dois mandatos cada um: Luiz Paulo (1997-2004), Coser (2005-2012) e Luciano (2013-2020).
Pela mesma linha de raciocínio, se é verdade que Gandini e o próprio Pazolini são jovens comparados àquele trio, ambos também podem ser vítimas da tal “fadiga de material”.
Gandini porque já vem disputando e emendando mandatos desde 2008, já tendo inclusive concorrido e perdido a última corrida à Prefeitura de Vitória.
Pazolini porque, bem… na verdade ele disputará a reeleição apenas no seu sexto ano de vida pública, mas é o prefeito em exercício e terá governado a cidade nos últimos quatro anos.
O fato de ser uma cara nova, não para quem vive na política, mas para o eleitorado em geral, pode ser uma vantagem eleitoral para Tyago Hoffmann.
Votação tímida em Vitória
Na eleição a deputado estadual em 2022, Tyago teve sua votação bastante pulverizada pelo Estado. Vitória foi o segundo município onde ele foi mais votado. O primeiro foi Guarapari. Em ambos, chegou próximo a 4 mil votos.
Mudança de rota
No início do ano, o próprio Tyago me deu entrevista dizendo que o próximo passo eleitoral traçado por ele era ser candidato a deputado federal em 2026. Foi convencido pelo PSB a mudar o plano de voo.
Agora, no meio da rota, a eleição municipal. Se ele perder, fica mantido o projeto rumo à Câmara dos Deputados em 2026. Mas, até por esse aspecto, pode ser negócio para ele candidatar-se na maior vitrine eleitoral do Espírito Santo, com horário eleitoral etc. Aumentará o seu recall.
PT pressiona
O PT já parece ouriçado com essa movimentação do PSB. Não por acaso, a deputada federal Jack Rocha, presidente estadual do partido de João Coser, deu-me entrevista defendendo a formação de uma frente ampla democrática (incluindo o PSB) em torno da candidatura petista em Vitória. E “lembrou” ao PSB o quanto o PT foi importante na campanha à reeleição de Casagrande.
“Reconhecimento”, cobrou ela, apresentando com juros a conta de 2022 ao parceiro nos governos federal e estadual.
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