Coluna Vitor Vogas
Reforma do secretariado: as possíveis novas mudanças no governo Casagrande
Abrigar é preciso: para segurar aliados no projeto “Ricardo 2026”, Casagrande já atendeu o PP de Da Vitória, em sacrifício de um histórico aliado. Agora, precisa abrigar o Podemos de Gilson Daniel. Outros aliados importantes, sem mandato, também precisarão ser acomodados. Leia aqui a nossa análise completa
O governador Renato Casagrande (PSB) começou o ano, e a segunda metade do seu atual mandato, mexendo no secretariado. Na Saúde, trocou o economista Miguel Duarte Neto pelo deputado estadual Tyago Hoffmann (PSB); no Desenvolvimento Urbano, substituiu Marcus Vicente (PP) por Marcos Aurélio Soares da Silva (PP).
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Em fevereiro, após a eleição da Mesa Diretora da Assembleia, deverá fazer novas mudanças no primeiro escalão, com o objetivo maior de acomodar aliados estratégicos para o projeto de sucessão em 2026, tendo por candidato prioritário o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB).
O próprio Ricardo, em entrevista à coluna – na qual afirmou estar pronto para se candidatar ao governo –, incluiu os deputados federais Josias da Vitória (PP) e Gilson Daniel (Podemos) no rol de aliados que, segundo ele, estão no mesmo patamar, ou seja, também podem representar o movimento liderado por Casagrande na próxima eleição a governador, tanto quanto ele mesmo.
Os dois são, respectivamente, os presidentes estaduais de PP e Podemos, dois partidos que cresceram muito e tiveram excelente desempenho na última eleição municipal, no Brasil e no Espírito Santo.
Ao prestigiá-los dessa forma, Ricardo reconhece e valoriza a importância política não só dos dois como também das respectivas siglas presididas por eles no Estado, e demonstra estar disposto a negociar com eles e atendê-los para garantir a permanência de PP e Podemos no projeto.
Para isso, Casagrande e Ricardo terão de pagar a conta. E esta passa pela ampliação dos espaços de ambos os partidos no atual governo.
A conta do PP – ou melhor, a de Da Vitória – já começou a ser paga. Paga com o sacrifício de Marcus Vicente. O ex-deputado federal tem um histórico de lealdade e uma longa folha de serviços prestados a Casagrande.
Só para lembrar um episódio decisivo, Vicente manteve o PP na coligação de Casagrande na eleição de 2014, após vencer queda de braço, pela disputa do comando da legenda, com o ex-deputado Nilton Baiano, que preferia levar o PP a apoiar Paulo Hartung. Em 2018 e 2022, deu-se o mesmo: sob Marcus Vicente, o PP seguiu apoiando Casagrande.
Desde janeiro de 2019, devidamente recompensado, Vicente chefiava a poderosa Secretaria de Estado Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb), uma máquina de entregas acima e abaixo da superfície, com orçamento de mais de R$ 400 milhões em 2025. O ex-deputado, porém, começou a perder a secretaria quando perdeu, para Da Vitória, a presidência estadual do PP, em abril de 2023.
Também filiado ao PP, o novo secretário, Marcos Soares, é muito mais próximo de Da Vitória e foi pessoalmente indicado por ele para Casagrande. Soares já era o subsecretário para Assuntos Administrativos da Sedurb e acaba de ser promovido.
Ao sacrificar um leal aliado como Marcus Vicente, no cargo havia seis anos, o governo só pretendeu uma coisa: satisfazer Da Vitória, esperando sua contrapartida. A ver se ela virá.
Aumentando o espaço de Da Vitória na máquina, Casagrande e Ricardo esperam garantir que, na eleição estadual, o deputado mantenha o PP do lado deles, em vez de levá-lo de vez para o polo que tende a ser constituído por Lorenzo Pazolini (Republicanos) e Paulo Hartung (PSD). A ver se a contrapartida virá mesmo.
Indagado sobre esse ponto, Ricardo afirmou à coluna acreditar que eles terão “maturidade política” para manter a unidade política e reproduzi-la no palanque eleitoral.
Ocorre que, desde que passou para as mãos de Da Vitória, o PP no Espírito Santo está fazendo um “jogo duplo” (alguns chamam de leilão), mantendo um pé em cada canoa e “morando com o inimigo” na Prefeitura de Vitória. Vai dormir com Casagrande, mas acorda com Pazolini.
Da Vitória e Evair de Melo – este, um adversário visceral de Casagrande – não só levaram o PP a apoiar a reeleição de Pazolini em Vitória como emplacaram sua vice-prefeita, Cris Samorini. A ex-presidente da Findes pode se tornar prefeita da Capital, já no ano que vem, se Pazolini sair para concorrer ao Palácio Anchieta.
Assim, a oferenda foi feita ao PP, a cantada foi dada por Ricardo… mas ainda é muito cedo para se saber a direção a ser tomada pela sigla, ou dada por Da Vitória, na próxima eleição estadual.
O Podemos de Gilson Daniel
Quanto a Gilson Daniel, há muito tempo ele reclama de uma sub-representação do Podemos no governo e reivindica mais espaço, compatível com o tamanho adquirido pela sigla e pelo seu ótimo desempenho no país e no Espírito Santo no último pleito municipal.
Sua queixa não é sem fundamento: o Podemos, hoje, não tem mesmo no governo Casagrande um secretário ou secretária puro sangue, que possa ser considerado de sua cota.
A ascendente Emanuela Pedroso (secretária de Governo), ainda no Podemos, é aposta do PSB para se candidatar a deputada federal, e tem convite de outros partidos – o que não convém a Gilson, pois seria uma concorrente direta à Câmara Federal. A ex-prefeita de Alto Rio Novo chegou à equipe de Casagrande em 2021 pelas mãos de Gilson, mas saiu da órbita do deputado e hoje em dia pode ser considerada Casagrande Futebol Clube.
Em tese, o Podemos é outra sigla de centro-direita que pode, se não contemplada, derivar para aquele polo Pazolini/Hartung, o qual pode agregar Republicanos, PSD e, talvez, também o PP.
Emblematicamente, para aumentar a pressão, Gilson recebeu nesta semana ninguém menos que Erick Musso, articulador político de Pazolini e presidente estadual do Republicanos – na véspera da entrevista de Ricardo Ferraço à coluna. O deputado postou a foto no Instagram. Após as eleições municipais, já havia se reunido com o próprio Pazolini.
Para segurar o Podemos, como acena Ricardo, o governo Casagrande deverá mesmo atendê-lo, com uma secretaria vistosa, até meados de fevereiro.
Nesse sentido, não se pode descartar que Ricardo venha a sair do comando da Secretaria de Estado do Desenvolvimento (Sedes), em meados de fevereiro, como parte do plano maior. Em primeiro lugar, porque assim ficará muito mais à vontade para fazer um trabalho de movimentação transversal, aparecendo em todas as pautas positivas como representante do governo. Em segundo lugar, porque isso abrirá espaço para Casagrande abrigar aliados num momento premente em que ele precisa fazer isso, mas não há tanta margem de manobra.
Uma hipótese: passar Enio Bergoli, da cota do próprio Ricardo, da Secretaria de Agricultura (Seag) para a de Desenvolvimento, liberando assim a Agricultura para acomodar um parceiro estratégico (quiçá o Podemos de Gilson Daniel).
Considerada uma “fábrica de mandatos”, por seu alto volume de entregas no interior, a Seag pode ser entregue a alguém que vá se provar nas urnas, o que não é o caso de Enio.
O secretário é da cota pessoal de Ricardo e seu braço direito na Seag. É bem avaliado internamente, está entregando o que se espera dele… Mas, blindado mesmo no governo, só Casagrande e Ricardo, que têm mandatos outorgados pelo povo.
O suplente de Gilson Daniel
Contemplar plenamente Gilson Daniel significaria dar a ele mesmo uma secretaria robusta – no plano ideal, a própria Seag.
Há um fator, porém, que pode servir de “trava” para que ele volte ao secretariado de Casagrande (no mandato passado, foi secretário de Governo e de Planejamento, entre 2021 e 2022).
É que o primeiro suplente da bancada capixaba do Podemos na Câmara dos Deputados é ninguém menos que o Coronel Alexandre Ramalho.
Ex-aliado de Casagrande e secretário de Segurança Pública até janeiro do ano passado, Ramalho transformou-se em adversário político durante as eleições municipais. Como candidato a prefeito de Vila Velha, criticou bastante o PSB e o Governo do Estado… que agora não tem o menor interesse em permitir que ele ganhe mandato e palanque em Brasília para se candidatar a federal em 2026.
Ao sair do PL em fevereiro do ano passado, o próprio Ramalho declarou que “renunciava” à suplência do Podemos na Câmara dos Deputados. Foi um gesto político, é claro. Tecnicamente, não funciona bem assim.
Se um dos dois federais do Podemos-ES (Gilson ou Victor Linhalis) se licenciar ou perder o mandato, Ramalho ainda tem o direito de assumir a vaga na Câmara, mesmo tendo trocado de partido.
Hipoteticamente, caso ele assuma o mandato, aí sim, a direção do Podemos, o Ministério Público ou o suplente seguinte poderá reclamar o mandato à Justiça Eleitoral, mas apenas depois da posse.
Em outras palavras, não existe “perda antecipada”, a priori, do direito à suplência e à posse. A Justiça precisa ser provocada, para abrir uma ação de perda de mandato por infidelidade partidária… a qual pode tramitar por muitos meses. Tal é o entendimento, por exemplo, do advogado Marcelo Nunes.
Além disso, a questão é controversa, e alguns juristas entendem que o Podemos pode ter comido mosca. Para o advogado Luciano Ceotto, por exemplo, a ação de perda de mandato contra Ramalho deveria ter sido ajuizada pelo partido até 30 dias após ele ter mudado de sigla. Esse prazo venceu por volta de abril do ano passado. “Se o prazo decorreu, sem o aforamento de ação eleitoral, entendo que o partido perdeu a chance de postular a cadeira”, afirma Ceotto.
Marcelo Santos também pode entrar na dança
Se o deputado estadual Marcelo Santos (União) sobrar na eleição da Mesa Diretora – isto é, se Casagrande decidir apoiar Vandinho Leite (PSDB) para presidente da Casa em detrimento de Marcelo –, este terá de ser muito bem recompensado politicamente.
Nesse caso, não será surpresa se Casagrande oferecer a ele uma boa secretaria, que o ajude a se projetar para a eleição de deputado federal. A Seag volta à especulação.
Quadros agora sem mandato que poderão ser aproveitados
Ao mesmo tempo, Casagrande não deve deixar de aproveitar no seu governo, possivelmente em escalões menores, aliados importantíssimos que acabam de ficar sem mandato, ou porque os respectivos governos acabaram ou porque não conseguiram se reeleger no ano passado.
É o caso, por exemplo, de Victor Coelho e de Fabrício Petri. Filiados ao PSB de Casagrande, eles encerraram o segundo mandato seguido como prefeitos dos municípios de Cachoeiro e de Anchieta, respectivamente. Victor está sendo preparado pelo PSB para concorrer a deputado federal em 2026.
Desabrigado também se encontra Guerino Balestrassi (MDB), correligionário de Ricardo e aliado de Casagrande. Apoiado por ambos na última disputa municipal, ele perdeu para Renzo Vasconcelos (PSD) a reeleição para prefeito de Colatina. Na mesma situação está o prefeito André Sampaio (PSB), não reeleito em Montanha.
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