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Coluna Vitor Vogas

Serra 40 graus: eleição 2024 já começou na cidade de Vidigal

Em nenhuma outra cidade os movimentos eleitorais já estão tão ostensivos (e ofensivos). E, enquanto uma certeza se consolida, a pergunta que cresce é: Vidigal tentará a reeleição ou buscará fazer o próprio sucessor? Os dois cenários são perfeitamente plausíveis, por isso aqui analisamos ambos

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Sérgio Vidigal. Foto: Reprodução/Instagram

Sérgio Vidigal. Foto: Reprodução/Instagram

Como reza uma antiga máxima, políticos já saem de uma eleição pensando na seguinte. Por isso, é até certo ponto natural que, após as eleições gerais de 2022 e agora a cerca de um ano e meio do próximo pleito municipal, os interessados em disputar e ocupar as maiores prefeituras já estejam se movimentando. A Serra, porém, largou na frente e está superando muito os demais nesse aspecto.

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Em nenhuma outra cidade capixaba, na Grande Vitória ou no interior, os movimentos pré-eleitorais já estão tão explícitos e ostensivos (em alguns casos, ofensivos mesmo), de maneira tão precoce. Isso é real tanto da parte do grupo do prefeito Sérgio Vidigal (PDT) como do lado dos seus potenciais adversários. E, neste último caso, a fila vai de Carapina a Nova Almeida.

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Primeira constatação: o número de pré-candidaturas verossímeis a prefeito a esta altura é consideravelmente elevado. Isso costuma ocorrer em duas situações. A primeira é quando o atual mandatário não vai buscar a reeleição, ou porque não pode (já está no segundo mandato seguido) ou porque não quer (o que é muito raro). A segunda é quando o prefeito no gabinete vai buscar a reeleição, mas chega muito enfraquecido ao umbral do processo eleitoral.

As duas situações têm a ver com a mesma coisa: expectativa de poder maximizada. Cientes de que o ocupante do cargo não será um páreo duro ou nem sequer poderá estar no páreo (e que, portanto, não há na largada um favorito com a força da máquina nas mãos), muitos agentes políticos locais enxergam uma chance real de chegar lá, vendo-se estimulados a competir.

Foi o que ocorreu, por exemplo, na última eleição municipal (2020), nas quatro maiores cidades da Grande Vitória. Em Vitória, em Cariacica e na própria Serra, os respectivos prefeitos – Juninho, Luciano e Audifax – não podiam tentar um terceiro mandato. As três cidades tiveram um número boçal de candidatos. Já em Vila Velha, o então prefeito, Max Filho (PSDB), até podia tentar a reeleição, e o fez, mas chegou politicamente enfraquecido, o que também ensejou um número anormal de concorrentes.

Na Serra, no ano que vem, as duas alternativas são perfeitamente plausíveis, o que aguça a volúpia eleitoral dos muitos adversários locais do atual prefeito. Em primeiro lugar, é verdadeiramente possível que Vidigal decida pendurar as chuteiras em termos de disputas municipais. Não seria espantoso e não seria nenhum absurdo, e isso não apenas porque no momento a gestão do pedetista não aparente estar “bombando”, mas também considerando a situação para lá de peculiar do pedetista.

Eleito prefeito pela primeira vez em 1996, o médico psiquiatra não é mais nenhum estreante nas urnas, longe disso. Um prefeito ao fim do primeiro mandato furtar-se a disputar a reeleição? Isto, sim, é de causar espécie. Mas um prefeito que já acumula quatro mandatos (no momento, quase 15 anos no cargo) preferir não arriscar um quinto? Não vejo como nada anormal. Mais ainda se considerarmos o retrospecto mais recente de Vidigal, o qual inspira extrema cautela.

Políticos em geral costumam ser muito ciosos da própria imagem, até porque, em política, “a impressão final pode ser a que fica”. Não se pode perder de vista que, nas últimas três eleições municipais, o saldo de Vidigal é negativo: mesmo com o controle da máquina, foi derrotado por Audifax em 2012, perdeu de novo (e incrivelmente) para o arquirrival em 2016 e, em 2020, enfim voltou à prefeitura, mas passou um sufoco para derrotar Fábio Duarte, o candidato de Audifax, no 2º turno.

Se Vidigal figurar no páreo novamente em 2024 e amargar nova derrota, deixará a prefeitura com o saldo muito ruim de três reveses e uma apertada vitória nos últimos quatro pleitos disputados. Ele precisa correr esse risco? Ou o melhor a fazer é encerrar seu 4º mandato com dignidade, reconhecer que sua missão está cumprida, passar o bastão para um sucessor mais jovem e fazer de tudo para ajudar a elegê-lo?

Por isso hoje, na Serra, os movimentos gerais dos agentes políticos dependem da resposta para uma grande dúvida, enquanto uma certeza se consolida.

A grande dúvida é: o que fará Vidigal? Enfrentará novamente as urnas ou buscará emplacar o próprio sucessor (como logrou fazer com Audifax, em 2004)?

Já a certeza cada vez mais forte é que ele só será candidato se, daqui a cerca de um ano, lá para março ou abril do ano que vem, sentir que está forte o bastante para encarar o conjunto de adversários que se erguerão contra ele. Para isso, é claro, sua gestão precisa estar bem avaliada – e possivelmente, embora eu não tenha pesquisas que comprovem isso, melhor avaliada do que hoje.

Se à beira do processo ele concluir que o risco é alto, soa muito mais provável que ele lance um “sangue novo” à sucessão, assumindo o discurso “minha parte foi feita, agora este é o mais preparado para dar continuidade ao meu legado”.

Pelo sim, pelo não, Vidigal joga com o tempo e com as duas possibilidades.

O duplo movimento do prefeito

Com a astúcia própria do político experiente que ele é, o prefeito está fazendo dois movimentos paralelos. Com uma mão, está apostando na melhoria da sua gestão e da imagem desta junto ao eleitorado, com mais entregas – visando criar as condições para que ele mesmo concorra;

Com a outra, está começando a testar e cacifar integrantes de seu grupo político para a própria sucessão. Nesse caso, são três os nomes cotados como potenciais candidatos de Vidigal: o deputado estadual Alexandre Xambinho (PSC), ex-aliado de Audifax; o atual presidente da Câmara da Serra, Saulinho da Academia (Patriota); e o jornalista Philipe Lemos (PDT), recém-levado para o entourage do prefeito no cargo de secretário municipal de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer.

Não por acaso, a entrevista que o próprio Vidigal deu a esta coluna, publicada no último dia 4, foi eivada de sinais que apontam simultaneamente para esses dois caminhos: buscar fortalecer-se, sim, mas sem comprometer-se com a reeleição e mantendo viva a possibilidade de lançar um sucessor.

No primeiro caso (fortalecer sua gestão e sua imagem), foi eloquente o foco que o prefeito buscou dar ao explicar a decisão de “contratar” Philipe Lemos para sua equipe. Ele não excluiu a hipótese de Philipe ser candidato (o que também diz muito), mas esforçou-se em colocar toda a ênfase no efeito virtuoso que, para ele, a chegada do sangue novo pode dar à sua gestão, principalmente em termos de divulgação do turismo da Serra.

Falando até na abertura de um novo ciclo econômico na cidade a partir da atividade turística, o prefeito indicou apostar em Philipe não apenas como um novo gestor mas também como um “garoto-propaganda”, por seu reconhecimento junto ao público, a fim de melhorar a imagem não só do município, mas, podemos concluir, da própria administração.

No segundo caso (fortalecer potenciais sucessores), Vidigal, como dito, não descartou Philipe como candidato; ao contrário, encheu-o de elogios, inclusive como alguém promissor nas urnas: “Nada na vida é descartado. […] Se Philipe for candidato aqui ou em outro local, ele sem dúvida vai contribuir muito”. Ao mesmo tempo, indagado especificamente sobre Xambinho, tratou de destacar o deputado como um grande aliado.

Igualmente relevante é que, também com a astúcia de alguém muito calejado na política, o próprio Vidigal procura tratar reeleição como uma hipótese remota… mas não a refuta totalmente, tratando de manter no ar aqueles 10% de chances. Quando indagado sobre planos de reeleição, não diz nem que sim nem que não. Na verdade, pende mais para o não, mas não de maneira taxativa, definitiva e irrevogável. Suas palavras exatas: “Disputar a reeleição não está nos meus planos”.

Ora, o que não está nos meus planos hoje pode muito bem entrar amanhã. E a decisão final só será tomada mesmo daqui a cerca de um ano. Se então, como dito acima, o marido de Sueli Vidigal se sentir forte e capaz, ele pode perfeitamente lançar a própria candidatura e, se alguém o questionar sobre o atual “não está nos meus planos”, ele poderá sempre dizer que sua vontade pessoal não era mesmo essa, mas que ouviu o chamado do povo, dos aliados etc. Um clássico da retórica política.

Se, ao contrário, ele não sentir a força necessária para assumir tamanho risco (o nem um pouco desprezível risco de um tombo no ocaso de sua bela trajetória, do qual talvez possa poupar a si mesmo), aí fica ainda mais fácil do ponto de vista discursivo: “Ué, mas eu nunca disse que seria candidato!”, poderá sempre argumentar o prefeito, enquanto lança a sua aposta à sucessão.

O erro de Audifax ensina

Aparentemente, Vidigal não está disposto a repetir o erro de Audifax Barcelos: pelo sim, pelo não, está dividindo as suas fichas em vários números da roleta. E olha que, no caso do ex-prefeito, escolher e preparar um candidato para chamar de seu não era uma opção. De 2017 a 2020, no cumprimento do segundo mandato seguido, Audifax teve quatro anos para isso, mas só deu murro em ponta de faca.

Primeiro tentou com Nylton Rodrigues, então seu secretário de Defesa Social. Os dois brigaram feio, o coronel se enfureceu com ele e vazou da equipe para nunca mais voltar. Depois Audifax especulou com o delegado Rodrigo Sandi Mori (não quis entrar na política) e com seu coordenador de Governo, Jolhiomar Massariol (não quis ser candidato). No fim, sem alternativa, o prefeito foi para a guerra com o então vereador Fábio Duarte.

Saulinho: dificuldade partidária

Soa hoje como um arremesso do meio da quadra – muito pouco provável –, mas, se o presidente da Câmara da Serra, Saulinho da Academia, for o ungido por Vidigal, ele terá de sair do Patriota. O partido, pelo qual se elegeu em 2020, é o mesmo do deputado estadual Pablo Muribeca, um dos principais cotados como candidato de oposição a Vidigal e seu grupo. Aí a sigla ficará pequena demais para os dois projetos antagônicos.

Nesse caso, Saulinho poderá trocar de partido sem risco de perder o mandato de vereador a partir da oficialização da fusão do Patriota com o PTB, ou na janela de 30 dias a ser aberta em março do ano que vem. Isso, é claro, se o próprio Muribeca não resolver trocar de legenda…

Philipe Lemos: dificuldade de outra ordem

Já no caso de Philipe Lemos, se for ele o predestinado, a dificuldade pode ser de outra ordem: ele não é da Serra. Por maior que seja a sua popularidade como ex-apresentador da TV Gazeta, isso pode contar contra ele em uma cidade com eleitorado tão bairrista.

Dividindo os ovos em várias cestas

Na referida entrevista de Vidigal a esta coluna no dia 4, o prefeito acertou em cheio em um ponto. Foi ao dizer quer Audifax está buscando estimular um número acentuado de candidaturas de oposição a ele em 2024.

Essas muitas outras candidaturas serão o tema de uma próxima análise.


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