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Coluna Vitor Vogas

Moradora cobra segurança de prefeito; ele cobra pagamento do IPTU

Pelo Whatsapp, cidadã de Cariacica reclamou do índice de violência no seu bairro; em resposta, Euclério se queixou da taxa de inadimplência na mesma comunidade. Coluna ouviu o prefeito e a autora das cobranças. Saiba o que cada um deles tem a dizer

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Euclério Sampaio é prefeito de Cariacica

Se você for morador de Cariacica e quiser cobrar o prefeito Euclério Sampaio (União Brasil) por alguma melhoria no seu bairro, é bom estar com o pagamento do IPTU em dia. Irritado com a cobrança feita diretamente a ele via Whatsapp por uma moradora de Morrinhos, relativa à falta de segurança no bairro, o prefeito respondeu insinuando que a taxa de inadimplência na comunidade é altíssima: “A senhora sabe qual o percentual de INADIMPLÊNCIA de IPTU aí em Morrinhos?”, perguntou Euclério à querelante, assim mesmo, em letra maiúscula.

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A conversa pelo aplicativo de troca de mensagens foi travada entre o prefeito e a servidora pública Priscila Matta, 44 anos, moradora de Morrinhos, no dia 7 de fevereiro.

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O print a que a coluna teve acesso só contém a parte final das cobranças feitas pela moradora. Segundo Euclério, houve muito mais que isso: a cidadã, alega ele, já havia lhe mandado uma série de mensagens “agressivas”. Priscila nega que tenha havido qualquer manifestação de desrespeito ou agressividade de sua parte. No fragmento do diálogo que me chegou, a interlocutora afirma:

“Euclério, sabemos como você pegou o município, mas tem coisas que infelizmente não tem como esperar. A segurança para irmos trabalhar, pra honrar nossa família, é imprescindível. Por favor, nos ajuda. Dá uma atenção aqui.”

O prefeito rebate:

“Bom dia. Nunca atendi ninguém sob pressão (sobre o áudio), estamos em um país democrático e podemos nos manifestar. Nossa equipe trabalha sete dias por semana e em todas as 14 regiões. SÓ NÃO VÊ OS AVANÇOS DA CIDADE QUEM NÃO QUER. Sobre a segurança, é dever de todos. E o município está fazendo a parte dele. Tem coisas também que me deixam indignado. Não tínhamos Guarda Municipal e hoje temos. Agora, a senhora sabe qual o percentual de INADIMPLÊNCIA DE IPTU aí em Morrinhos?”

Erros de português foram corrigidos na transcrição acima.

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Em contato com a coluna na tarde desta segunda-feira (20), Euclério confirmou a autenticidade da resposta. “Não fui deselegante. Fui firme”, justificou.

Segundo ele, Morrinhos, bairro próximo a Cariacica Sede (alguns o consideram parte de Cariacica Sede) é um dos quatro únicos bairros do município em que a inadimplência chega a 100% no pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) – uma das principais fontes de arrecadação tributária do município.

E sua gestão, afirma o prefeito, está levando, sim, melhorias para o bairro, mas as pessoas querem ver os avanços em ritmo mais acelerado do que a prefeitura é capaz de executar. E, quanto mais é feito, mais lhe cobram.

“As pessoas nunca tiveram nada e de repente querem tudo. Ninguém nunca tinha feito nada por elas ali. Aí você começa a fazer e elas querem que você resolva tudo de uma hora para a outra. Não é assim”, argumenta o prefeito, como quem se sente injustiçado pelo excesso de cobranças sobre ele. Euclério cita uma praça construída pela prefeitura em Morrinhos.

O outro lado: “Revoltante”

A coluna também ouviu a própria Priscila Matta, autora da mensagem que gerou a reação intempestiva do prefeito de Cariacica.

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Ela explica que, há cerca de dois anos, mora em um conjunto habitacional da Caixa Econômica Federal (Minha Casa, Minha Vida) em Morrinhos. O bairro, segundo ela, não tem uma associação de moradores legalmente constituída, o que dificulta a chegada das reivindicações dos moradores ao poder público.

Dada essa falta de representatividade, ela mesma começou a se mobilizar e a procurar alguns vereadores, até que, no início de fevereiro, tomou a iniciativa de mandar para o celular pessoal do prefeito algumas mensagens de texto e de áudio.

De acordo com Priscila, Morrinhos carece de calçamento nas ruas, iluminação pública, áreas de lazer, coleta e tratamento de esgoto. As casas têm água encanada, mas é uma novidade recente. O bairro tem uma creche recém-construída, mas não tem escola municipal. Porém o principal problema, ainda segundo ela, é mesmo a falta de segurança pública, refletida no crescente índice de assaltos aos moradores.

“Nosso bairro está muito mal assistido. Os índices de violência vêm crescendo muito. Só temos um policial que faz a ronda no bairro e, mesmo assim, só nos dias em que ele está na escala. A Guarda Municipal nunca veio aqui. Só vejo a Guarda em Campo Grande. Tudo o que eu fiz foi pedir socorro ao prefeito. Só estamos aqui, pelo amor de Deus, pedindo pelo nosso bairro. É isso que gostaríamos que ele entendesse.”

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Sobre a resposta de Euclério mencionando o elevado número de moradores da comunidade em dívida com a prefeitura, Priscila avalia que taxa de inadimplência não é motivo, nem pode servir de pretexto, para que a prefeitura deixe de cumprir suas obrigações com os munícipes e de prover serviços públicos essenciais:

“Poderia ser inadimplência total aqui. Ele não pode negar isso aos moradores e aos eleitores dele. Quando se elegeu [em 2020], ele sabia que estava pegando um município complicado de outras gestões. Estamos com índices muito elevados de violência, e ele vem falar de inadimplência? Isso é revoltante!”

Ela também repele o argumento de Euclério de que suas mensagens teriam sido “agressivas”. O que ela fez, explica, foi mandar para o prefeito um áudio gravado por uma moradora que havia acabado de ser assaltada no bairro – e este sim, reconhece, tinha um tom maior de indignação, até pela situação que a pessoa acabara de viver.

“Minhas mensagens não foram agressivas. Foi um único áudio que a gente mandou da moradora indignada porque havia sofrido um assalto. Mas não houve desrespeito ao prefeito. Só estamos mostrando a nossa indignação. Estou reconhecendo muita coisa boa que ele tem feito em Cariacica, sim. Mas temos que ver também o nosso lado, reclamar e pedir ajuda, até porque temos visto muitas coisas sendo feitas, mas ao redor de Morrinhos.”


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