Coluna Vitor Vogas
Gandini e Muribeca são liberados pelo TRE para mudar de partido
Corte reconheceu justa causa para ambos trocarem de sigla sem perderem mandato na Assembleia. Coluna apresenta destino certo de um e provável de outro

Fabrício Gandini e Pablo Muribeca (de chapéu). Crédito: Ales
O deputado estadual Fabrício Gandini está legalmente livre para mudar de partido sem correr o risco de ter o mandato na Assembleia cassado pela Justiça Eleitoral. Filiado ao Cidadania há mais de 15 anos, Gandini obteve a liberação do Tribunal Regional do Espírito Santo (TRE-ES) na manhã dessa quarta-feira (11). Por unanimidade, a Corte acolheu o pedido de Gandini no julgamento da ação de reconhecimento de justa causa para desfiliação protocolada por ele em julho.
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Na mesma sessão do Pleno, o TRE-ES também deu carta branca para o deputado estadual Pablo Muribeca sair do Patriota e se filiar a outra agremiação sem incorrer em risco de perder o mandato parlamentar. A decisão a favor de Muribeca também foi unânime, no julgamento da ação de justificação de desfiliação partidária apresentada por ele.
Agora, tanto Gandini como Muribeca ficam com o caminho desobstruído – ou menos travado, pelo menos – para viabilizarem suas possíveis candidaturas, respectivamente, a prefeito de Vitória e da Serra.
Hoje, o destino mais provável de Gandini é o Partido Social Democrático (PSD). Já o destino certo de Muribeca é o Republicanos.
Nessa quarta, devido ao falecimento de uma tia, Gandini não atendeu a coluna para comentar a decisão do TRE-ES e a sua nova condição no tabuleiro político-eleitoral.
Na véspera, respondendo sobre o tema, Muribeca confirmou a sua forte inclinação para ser candidato a prefeito da Serra pelo Republicanos, a convite do presidente da legenda no Espírito Santo, o ex-presidente da Assembleia Legislativa Erick Musso.
As motivações estratégicas de Gandini
Na última eleição municipal, em 2020, Gandini foi o candidato da situação à Prefeitura de Vitória, com o apoio do então prefeito Luciano Rezende e pelo mesmo partido, o Cidadania. Mas o deputado chegou em 3º lugar e não passou para o 2º turno, disputado por João Coser (PT) e Lorenzo Pazolini (Republicanos), com vitória do segundo.
Por muitos anos, Gandini foi o presidente estadual do Cidadania, mantendo ampla influência sobre os rumos do partido no Espírito Santo e, destacadamente, em Vitória.
Em 2024, o deputado pode ser novamente candidato a prefeito da Capital. Agora, porém, o jogo virou: a sua localização no mapa partidário, muito favorável a ele em 2020, tornou-se um complicador.
Para começo de raciocínio, não existe mais “o Cidadania”. Não há mais que se falar em um partido com plena autonomia. Em maio de 2022, a sigla de Luciano e Gandini formou oficialmente uma federação partidária com o PSDB, na qual o Cidadania, por seu muito menor porte, é “sócio minoritário”. Vale dizer: na correlação de forças, os tucanos têm muito mais espaço e poder decisório hoje em tal federação.
Transpondo essa primeira reflexão para o contexto prático local, Gandini basicamente constatou que o espaço para ele lançar nova candidatura a prefeito, dentro da federação PSDB/Cidadania, ficou-lhe muito restrito.
Só no PSDB, são três os potenciais candidatos ao mesmo cargo, sempre lembrados pelo presidente estadual da sigla, Vandinho Leite, e pelo seu presidente municipal, Luiz Paulo Vellozo Lucas: o próprio Luiz Paulo, o deputado estadual Mazinho dos Anjos e o ex-deputado estadual Sergio Majeski.
A soma dos sinais indica que, hoje, o favoritismo é todo de Luiz Paulo, não só por ser ele o presidente do PSDB em Vitória, mas pela maneira intensa como tem se movimentado – dando entrevistas, emendando reuniões e até gravando samba, com um aparente entusiasmo que há muitos anos não se via no ex-prefeito.
Ao mesmo tempo, a fila de possíveis candidatos dentro da mesma federação é encompridada pelo já citado Luciano Rezende, do próprio Cidadania. O outro ex-prefeito não pode ser ignorado nesse jogo. Na semana passada, reuniu-se com Luiz Paulo e, em texto enviado à imprensa pela assessoria do tucano, disse que os dois estarão juntos, rechaçando análises que o excluem do jogo sucessório de Pazolini.
Em conclusão, além da forte concorrência amiga dentro do PSDB, Gandini poderia enfrentar concorrência doméstica no próprio Cidadania – e logo do seu mentor político. Isso, é claro, se ficasse no Cidadania.
A corte forte do PSD
Ele, então, decidiu não ficar, a fim de poder destravar o jogo para si mesmo e conseguir se manter vivo no processo. Para isso, ainda em julho, obteve da direção estadual do Cidadania (na prática, ele mesmo) uma carta de anuência para poder sair sem problemas. A carta é uma das exceções previstas na legislação sobre infidelidade partidária, configurando justa causa.
Ato contínuo, Gandini passou a presidência estadual do Cidadania para o prefeito de Jaguaré, Marcos Guerra, e, de posse da carta de anuência, entrou com a ação no TRE-ES, agora julgada favoravelmente a suas aspirações.
Quem lhe abriu uma janela para respirar ar novo e puro foi o ex-deputado estadual Renzo Vasconcelos. Outrora filiado ao Cidadania, além de amigo e admirador de Gandini, Renzo é, desde o início do ano, presidente estadual do PSD.
Em recente entrevista a este espaço, Renzo estendeu tapete vermelho para o ex-colega na Assembleia e disse que, se Gandini for para o PSD, receberá do partido totais condições para ser um candidato competitivo em Vitória: “Dou a ele plenas garantias”.
O caso de Muribeca
O caso de Muribeca é mais simples. Com resultados muito fracos nas eleições gerais de 2022, o Patriota praticamente se desmantelou. Para sobreviver politicamente, ensaia há meses fusão com o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
O Republicanos, ao contrário, é um partido emergente e, nos últimos cinco anos, consolidou-se como um dos maiores do Espírito Santo em número de mandatários.
Ao trocar o nanico Patriota pelo Republicanos, Muribeca irá para uma sigla que lhe dá bem melhores condições para desafiar a reeleição na Serra do prefeito Sérgio Vidigal (PDT), de quem é declarado opositor.
